Política

Dilma vence terceiro debate e cria
mais expectativa para encontro final

DANIEL LIMA - 20/10/2014

Dilma Rousseff venceu o terceiro debate presidencial na TV Record. Agora o jogo está dois a um para o tucano Aécio Neves, bem melhor no primeiro encontro, realizado na TV Bandeirante, e também superior, mas nem tanto, no segundo, no SBT. A vitória de Dilma Rousseff ontem à noite estabeleceu-se por margem escassa e deve sinalizar inquietação na cúpula tucana: a batalha da ponte, sexta-feira à noite na TV Globo, projeta perspectiva de possível empate técnico. E isso é ruim para Aécio Neves. A militância petista reconhecidamente aguerrida na reta de chegada pode fazer a diferença nas urnas numa disputa numérica tão acirrada quanto decisiva ao engajamento dos indecisos.


 


Os leitores sabem que a medição do desempenho de Dilma Rousseff e de Aécio Neves é de viés cênico- comportamental. É lógico que os insumos dos embates permeiam o rendimento verbal e visual dos dois concorrentes. Deixar de expressar juízo de valor detalhado ou minimamente avançado sobre o conteúdo individual não significa afastamento desse indicador de medição subjetiva.


 


Uma diferença cromática


 


No caso do encontro na Record, a supremacia de Dilma Rousseff está mais vinculada à transmissão do que ao que os concorrentes disseram, embora não se deva subestimar o poder de reação da petista que, nos dois primeiros debates, pareceu a nocaute. Houve forte desaceleração no ritmo de pancadarias ditas pessoais. Centralizaram-se as operações de guerra verbal nos programas de governo, ou mais propriamente nas propostas de governo.


 


E quem soube chamar para si na maior parte do tempo o que mais lhe interessava foi a petista. Dilma Rousseff puxou para sua brasa de conveniência a sardinha de uma pauta repleta de dados orçamentários e de investimentos efetivados ou fantasiados, além de supostos e verdadeiros entulhos tucanos.


 


Mas o que mais pesou mesmo nas imagens transmitidas pela TV Recorde foram os dois primeiros blocos de privilégios cromáticos a Dilma Rousseff. Quem teve o cuidado gravar o programa pode comparar. A iluminação de fundo da imagem de Dilma Rousseff, paradoxalmente em tom azul do tucano, era mais generosa com os closes da candidata. Aécio Neves sofreu durante aqueles dois blocos com luzes exageradas a refletir no fundo quase branco do cenário e a ricochetear num rosto em permanente sombra, o que o envelhecia.


 


Nos blocos seguintes, provavelmente devido à ação de algum especialista em iluminação, o custo das falhas técnicas da transmissão foi dividido semelhantemente entre os dois candidatos dentro de oscilações de imagens a salvo de distorções e imagens avariadas pelo brilho excessivo.


 


Iluminação desequilibra


 


Quem definiu como ninguém a importância da iluminação na televisão foi o ex-mandarim da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Numa entrevista recente, discorrendo sobre a qualidade da TV brasileira com sua programação cada vez mais colada à demanda de popularização sequestradora da qualidade, a ponto de se justificar parte da migração da audiência à TV fechada, Boni disse que o núcleo, além do conteúdo, evidentemente, é a eficiência da iluminação. Programa mal calibrado é programa fadado ao fracasso.


 


Não vou entrar em detalhes técnicos sobre essa especialidade pouco difundida, entre outros motivos porque meus conhecimentos são rudimentares. Mas nem por isso desprezíveis. Iluminação é crucial quando dois candidatos estão parelhos numa disputa eleitoral, como Dilma Rousseff e Aécio Neves pareceram ontem desde os primeiros movimentos de um combate mais civilizado mas nem por isso desclassificatório do anterior, quando o pau cantou solto. E se querem saber, há de cantar mesmo, desde que obedecidos limites de civilidade sem consanguinidade com hipocrisia.


 


Novas perspectivas?


 


A vitória por pontos de Dilma Rousseff no embate de ontem tem significado muito especial para quem acompanha política, sobretudo debate eleitoral, com os olhos e a mente presos às emoções racionalizadas: o jogo a ser jogado na TV Globo ganha importância vital e poderá ser decisivo à rodada final de domingo. Como, aliás, o foi no primeiro turno ao embalar a virada de Aécio Neves rumo ao segundo lugar, tomando o posto de Marina Silva, excessivamente morna num ambiente de fervura total.


 


As duas vitórias e uma derrota de Aécio Neves nas apresentações televisivas deste segundo turno podem sugerir que uma vitória simples de Dilma Rousseff empatará o jogo cênico, quando não cínico. É aí que se engana o leitor. O jogo da Globo tem peso relativo muito superior ao dos demais. Diria que o jogo da Globo é tão importante que valeria pelos três anteriores em caso de vantagem flagrante de um dos concorrentes. Se o jogo for relativamente igual na Globo, os jogos anteriores terão peso menos defasado à avaliação final dos eleitores.


 


O que decidirá ou ajudará a decidir a eleição presidencial de domingo, já que os indecisos poderão traçar a diferença na reta de chegada, dado o grau de convicção de dilmistas e aecistas, serão as regras do jogo. A repetição de fórmula que contemple dados de gestão parece bastante favorável à candidatura petista. Não necessariamente porque tenha feito muito. Mas principalmente porque passa a certeza de que fez muito, mesmo quando o muito não passa, em várias situações, de uma parte pequena, quando não ínfima, do realizável.


 


A presidente Dilma Rousseff tem muita capacidade de jogar com os números e programas, apesar do buraco negro em forma de articulação verbal e desde que não seja abalada emocionalmente pelo adversário. Aécio Neves carece de didática treinada para combater subjetividades da adversária. Quanto mais os ponteiros se deslocarem ao campo da moralidade pública, sobretudo os escândalos na Petrobrás, mais Aécio Neves tornará possível retirar Dilma Rousseff da zona de conforto de quem conta na ponta da língua com dados do governo federal. Com isso, o mineiro levará a mineira às cordas da insegurança, expressamente nítida com a quebra da capacidade de verbalização de sentenças.


 


Cognição e ignição


 


Dilma Rousseff tem um cacoete grave que, possivelmente, a cognição explique o acionamento do ponto de ignição: a presidente entrecorta as frases e corre desesperadamente em busca de palavras toda vez que é inquerida sobre os malfeitos do governo petista. Talvez esteja aí o ponto crucial do debate na Globo para quem torce por Aécio Neves e entende que somente um golpe bem desferido poderá desencadear o arrefecimento do voto petista mais aguerrido na reta de chegada.


 


O jogo jogado na TV Globo, portanto, será um jogo tático conectado ao jogo estratégico das rodadas anteriores. O PT aposta todas as fichas no derretimento de qualquer iniciativa mais apimentada do tucano, porque sabe que Dilma Rousseff fraqueja ante o peso das lambanças de um partido que se dizia lá atrás algo como uma noviça em casa de tolerância e se converteu em cafetina. Já os tucanos mais realistas sabem que deixar para os últimos três dias de corrida eleitoral a sustentação de uma diferença numérica na margem de erro, é flertar com dores de cabeça provocadas pelos militantes petistas.


 


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