Administração Pública

Entenda por que Marinho tem
razão em me chamar de imbecil

DANIEL LIMA - 22/10/2014

Só agora minha ficha retardada caiu e entendi a razão de o prefeito Luiz Marinho ter-me chamado (pela imprensa) de imbecil há uns quatro meses. Subiu nas tamancas porque tratei da lorota de que ele construiria um aeroporto internacional em plena área ambiental de São Bernardo, o tal do aeroportozão. Marinho de fato não me atacou por aquilo, até porque a imbecilidade seria de sua senhoria o prefeito mais arrogante da Província do Grande ABC. Marinho procurou me desqualificar porque um dia cheguei a escrever que, guardadas as devidas diferenças, proporções e contextos, ele poderia ser um Celso Daniel redivivo.


 


Quanta estupidez cometi ao acreditar que o prefeito de São Bernardo recém-eleito tivesse um mínimo de sensibilidade daquele que foi folgadamente o maior prefeito regional da região, até porque praticamente o único ao longo da história de um autarquismo inescrupuloso fantasiado de cooperação.


 


Vejam o caso do Clube dos Prefeitos do Grande ABC, chamado oficialmente de Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Luiz Marinho não queria nada com a instituição. Passou um mandato inteiro sem dar a menor bola àquela criação de Celso Daniel. Regionalidade jamais lhe interessou de fato, exceto no comando do Partido dos Trabalhadores, sempre contando com as costas largas e a língua só aparentemente presa de Lula da Silva. Quando descobriu que o Clube dos Prefeitos era um bom negócio, porque regulamentado e portanto legalmente capacitado a contar com recursos das mais diferentes fontes de financiamento oficial, lá se foi Luiz Marinho todo fagueiro em direção ao botim.


 


Merreca que ajuda muito


 


É verdade que o dinheiro disponível diretamente nos cofres do Clube dos Prefeitos é merreca quando comparado ao que a milionária Prefeitura de São Bernardo detém. Tão milionária que se presta a conveniências de contar com grupinho fechado de amigos que fazem intermediação diplomática para organizar a farra do boi orçamentário. Embora pouco, o dinheiro que entra diretamente no caixa do Clube dos Prefeitos é suficiente para uma farrinha também. E olhem que não estou me referindo aos investimentos que virão. O governo federal, se o governo federal não cair do andaime da tentativa de reeleição, promete um rio caudaloso de dinheiro a programas propostos para se adequarem ao fluxo de caixa da União.


 


Luiz Marinho gostou tanto da ciranda cirandinha do Clube dos Prefeitos que já iniciou empreitada que se consumará mediante eventual reeleição da protetora Dilma Rousseff, encarnada na ministra Miriam Belchior, velha companheira de guerra da mulher do prefeito petista. A nova empreitada é uma candidatura negociada para um terceiro mandato consecutivo.


 


Como é extraordinário o prefeito Luiz Marinho ao capitalizar o entusiasmo regional que somente alguns personagens da Província do Grande ABC ainda exercitam. Nesse ponto, a bem da verdade, Luiz Marinho ganha de goleada de Celso Daniel, muito mais cauteloso no exercício da regionalidade gerencial dos prefeitos. Tanto que incentivava e promovia a troca de guarda presidencial temendo que a personalização tolhesse a inteligência e fomentasse separatismo irrevogável.


 


Uma nova Fundação do ABC


 


O Clube dos Prefeitos destes tempos de formalização legal e de atratividade de investimentos quase a fundo perdido, quando não a fundo perdido, caminha celeremente rumo à configuração vitoriosa da longeva e milionária Fundação do ABC, instituição que é uma caixa-preta do alto de mais de R$ 1,5 bilhão de orçamento para suspostamente aplicar na área de saúde, com recursos do SUS.


 


A Fundação do ABC ensinou ao Clube dos Prefeitos um modo especial de atingir a regionalidade que todos reclamam: basta partir e repartir o bolo de benesses, de obscuridades, de falcatruas, para que gregos, troianos, baianos e javaneses se deem bem e ninguém terá jamais a coragem de reclamar. Esqueçam os riscos de um coro de inconformismo. Na Província do Grande ABC do Assalta Grande ABC, do Festeja Grande ABC e do Omita Grande ABC está tudo dominado. Menos, por enquanto, o que ainda existe do Defenda Grande ABC.  


 


Se na versão primária de Paulinho da Viola dinheiro na mão é vendaval, na lógica petista de Luiz Marinho dinheiro emprestado e dinheiro orçamentário remetido pelas prefeituras da região é dinheiro para ser gasto com sapiência. Cada um entenda sapiência da forma que bem entender. Na Prefeitura de São Bernardo há um esquema de extraordinária originalidade. Dizem que a Petrobrás o copiou, embora haja controvérsias de que se deu justamente o contrário. Tudo para industrializar a mobilidade social de alguns em detrimento do grosso da sociedade.


 


O Clube dos Prefeitos seria uma versão primo-pobre daqueles exemplares. Quem é bom no manejo de recursos públicos jamais vai desprezar a possibilidade de novas modelações. A Fundação do ABC poderá reivindicar a patente de gestão de risco que atribuem nacionalmente à Petrobrás e regionalmente à Prefeitura de São Bernardo.


 


A notícia que o Diário do Grande ABC publicou outro dia sobre o destino de metade do orçamento anual do Clube dos Prefeitos (R$ 9 bilhões de R$ 18 milhões) à engenharia de marketing que pretende popularizar alguns projetos da entidade. O principal é o da área de mobilidade urbana. Seria o casamento perfeito entre a vontade de comer e a vontade de beber numa nova fonte de recursos públicos para ganhar visibilidade midiática no que interessa e esconder o que é mais conveniente.


 


Metade manipulável


 


Está certo que gastar metade do orçamento em publicidade para lustrar o ego do prefeito dos prefeitos não é lá tanto dinheiro assim. O que é metade da metade senão meio orçamento vazio e meio orçamento cheio? Luiz Marinho, instrumentalizado pela assessoria de marketing que cuidará da conta do Clube dos Prefeitos, a mesma empresa que lhe serve na Prefeitura de São Bernardo, vai desfilar mil maravilhas sobre a Província. Tudo balela.


 


Estamos caindo pelas tabelas agora de forma escancarada. Quando a máscara da indústria automotiva que nos embala e nos pode levar ao túmulo cai, como está caindo com a quebra de produção, têm-se a exata dimensão do que nos resta. Somos uma região empobrecida em alternativas econômicas consistentes. A Pirelli acaba de nos esfregar na cara o quanto somos desalentadores ao transferir todo o efetivo de 320 profissionais de áreas nobres para a sede paulistana da Avenida Faria Lima.


 


Podem contar os leitores com a criatividade e a inventividade dos profissionais de marketing que fazem de determinados gestores iletrados na arte de enxergar o mundo longe de viseiras ideológicas. Eles vão dar a Luiz Marinho o que Luiz Marinho tanto aprecia: um brinquedinho em forma de planejamento de mídia que transformará em solução problemas que jamais se afastam do dia a dia dos moradores desta Província.


 


A tal campanha Travessia Segura, pretexto inicial para a montagem desse circo de entretenimento informativo a custo elevadíssimo, provavelmente já tem um fio condutor de respostas programadas. Lá na ponta deverão ser anunciados números sempre duvidosos de vidas supostamente salvas por causa da disseminação da mensagem de que os pedestres têm sempre prioridade nas faixas de segurança das ruas da região. Pena que a recíproca não seja verdadeira aos eleitores que poderia voltar às urnas a qualquer tempo para revogar validade legal de mandatos conferidos a gestores indigestos.


 


O prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC é um gestor de grande valor. Incontestavelmente. E comovidamente disciplinado a sacrificar-se em nome da sociedade. Celso Daniel não lhe faz a menor cócega. Palavras de imbecil juramentado, mas que, até que não lhe provoquem uma cilada, candidatíssimo a não morrer numa faixa de segurança porque viverá o suficiente para acompanhar comovidamente as peças publicitárias que os marqueteiros de sempre prepararão como aprendizes de Deus. Aprendizes de Deus? Ideólogos de Deus.


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