Política

DataDiário indica vitória fácil de
Aécio contra Dilma na Província

DANIEL LIMA - 24/10/2014

O tetracampeonato presidencial do PT na Província do Grande ABC já foi para a cucuia segundo o DataDiário (DGABC Pesquisas), em pesquisa publicada na edição de hoje do Diário do Grande ABC. A diferença de votos válidos é elevadíssima para os padrões regionais quando estão em jogo vermelhinhos e azulados. Mas também está aquém dos números do Estado de São Paulo.


 


Isso quer dizer que se forem confirmados os resultados, dentro da margem de erro, a Província será ainda mais vermelha que o restante da região economicamente mais avançada do País, mas ficará bem abaixo da média nacional e principalmente do Norte e do Nordeste, fortemente influenciados pelos programas sociais do PT.


 


Segundo o DataDiário (por que o jornal não adota essa marca, caso ainda esteja disponível legalmente?) o tucano Aécio Neves desponta como favorito no segundo turno na Província com 56,2% dos votos válidos, contra 43,8% de Dilma Rousseff. Não há outro instituto de pesquisa que tenha ido a campo especificamente nas sete cidades que formam a Província de 2,8 milhões de habitantes e dois milhões de eleitores. O Datafolha aponta vitória de Aécio Neves por 61% a 39% no Estado de São Paulo. Não há recorte estadual do Ibope. Datafolha e Ibope apontam vitória de Dilma Rousseff na eleição geral de domingo por seis e oito pontos percentuais de diferença, respectivamente.


 


O resultado da pesquisa do DataDiário precisa ser relativizado -- algo que o jornal não fez na interpretação dos dados. Aliás, a avaliação das pesquisas do DataDiário pela redação do jornal é rudimentar. Falta conhecimento agregado. Afirma o jornal que os pesquisadores foram a campo entre segunda e quinta-feira.


 


Provavelmente o conjunto de respostas não detectou a intensidade do crescimento registrado nos dias subsequentes por Dilma Rousseff em todas as regiões do País, inclusive em São Paulo e no Sudeste como um todo. Uma redução da distância entre os dois concorrentes nas urnas de verdade deveria ter sido ponderada pelo jornal. Ainda há possibilidades de conserto na edição de domingo. Desde que o jornal tenha interesse em apontar a tendência.


 


Crescimento esquecido?


 


Outro movimento não captado pelo DataDiário (até porque o DataDiário não tem poderes extrassensoriais) e que deve ser registrado na reportagem que o jornal publicará na edição decisiva de domingo é o que sugere o desvendar da percepção dos eleitores sobre o vencedor do debate desta noite na TV Globo. A cobra tanto pode fumar para um dos concorrentes como também, e é mais provável essa possibilidade, que o marasmo prevalecerá. A Globo é muito rígida no regulamento que impõe aos candidatos, principalmente nos debates presidenciais. Não deixa espaço ao afloramento emocional que poderia favorecer Aécio Neves. Dilma Rousseff perde o prumo quando lhe tomam o cenário previamente desenhado.


 


A presidente está preparada para um combate técnico, porque, bem treinada por marqueteiros do governo, sabe utilizar informações. É frágil no jogo cênico, repetitiva e enfadonha na verbalização do conhecimento mesmo que mimetizado, mas conta com argumentos mesmo que recheados de meias verdades que lhe dão fôlego suficiente num combate em que os segundos devoram contraditórios substantivos. Debate essencialmente técnico é como um jogo de futebol de cuidados extremos com a retaguarda. Dilma Rousseff está mais para o comedimento e monotonia tática de Carlos Alberto Parreira da Seleção Brasileira campeã do mundo em 1994. Aécio Neves tem mais semelhança com o ofensivismo a todo custo do Barcelona de Guardiola.


 



Ainda não pretendo escrever tudo o que penso sobre os resultados eleitorais à presidência da República na região, mas a base de tudo -- e independentemente do que as urnas expressarem -- é que está na cara que o modelo petista de governar a região em conluio com sindicatos e movimentos sociais é um jeito que não satisfaz à sociedade. Entretanto, como a sociedade conta com parcela expressiva de omissos e se deixa levar pela minoria controladora dos integrantes do Festeja Grande ABC e do Assalta Grande ABC, a empreitada do Defenda Grande ABC é uma manifestação de quase heroísmo, quando não de estupidez.


 


O PT do Grande ABC, assim como o PT nacional, fez a opção preferencial pelos pobres, engabelando-os inclusive ao supostamente retirá-los das franjas econômicas e os transformando em precária nova classe média -- fenômeno que não se limitou à geografia brasileira, espalhando-se pela maioria dos países emergentes e latino-americanos.


 


Provavelmente na próxima eleição presidencial, quando o modelo me-engana-que-eu-gosto já terá se esfarelado simplesmente porque o País não conta mais com benesses macroeconômicas para sustentar o impulso artificial com que foi conduzido e não tem poder de reação ante as políticas de alinhamento a países marginais da economia mundial.


 


O Brasil dispôs na fase de crescimento embromador de uma política consumista que já não para de pé e não encontrou alternativa para dar um salto rumo ao futuro em paralelo com as demandas sociais que vão continuar a atormentar os governantes.


 


Vantagem demais


 


Mantenho reservas sobre os dados do DataDiário. Acho elástica demais a diferença favorável a Aécio Neves. Esses 12 pontos percentuais marcam aceleração da degradação petista na Província que vai além de minhas contas, já expostas neste espaço. O divórcio entre uma fragorosa derrota petista na região e uma cantada vitória nacional seria muito mais que um contrassenso quando se observa que nas três últimas disputas de segundo turno o PT venceu tanto na casa regional quanto na casa nacional. E dentro da margem de erro nas duas últimas competições. Ou seja: os resultados na região foram muitos semelhantes aos resultados do conjunto dos brasileiros.  Uma diferença tão larga e contraditória seria o anúncio de uma possível catástrofe regional que os próximos tempos confirmariam ou amenizariam.


 


Será que o eleitorado (e a população) da região está sentindo muito mais os efeitos da crise econômica do que o próprio País? Temos todos os ingredientes para achar que sim. Do desgaste do material político-partidário-sindical na região até o contínuo esvaziamento econômico, mascarado durante a gestão petista pela retomada da produção automotiva cada vez mais seletiva em empresas envolvidas, tudo converge para o decréscimo petista na região. Mas os 12 pontos percentuais de vantagem tucana parecem excessivos quando confrontados com os 12 pontos percentuais de vantagem petista registrada nas eleições de 2010. Meus números finais não ultrapassam a marca de cinco pontos percentuais favoráveis a Aécio Neves, com margem de dois pontos percentuais para baixo e para cima.


 


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