Política

Aécio massacra Dilma. Será que
debate mudará rumo das urnas?

DANIEL LIMA - 25/10/2014

A oposição que pretende fazer do mineiro Aécio Neves presidente da República neste domingo é muita injusta ao atribuir à adversária Dilma Rousseff limitações profundas como debatedora. O encontro de ontem à noite na TV Globo provou que os tucanos erraram na avaliação. Dilma Rousseff é muito mais que uma debatedora comprovadamente sofrível. Ela é a prova material de que os marqueteiros petistas são gênios e o então presidente Lula da Silva uma peça raríssima de sensibilização do eleitorado, porque a transformaram em presidente num contexto histórico que transfere boa margem de sucesso a quem conta com desembaraço cênico. Dilma Rousseff é o anticlímax materializado em vermelho.


 


Carregar um peso daquele vestido de vermelho bem petista durante uma campanha eleitoral e chegar ao dia decisivo de votos como favorita à reeleição é mesmo um caso a ser mais analisado. Dilma Rousseff apanhou tanto de Aécio Neves ontem à noite que o mais indicado é que o tucano fosse preso em flagrante, por desrespeitar uma mulher. Faltou a Aécio Neves um mínimo de comiseração para entender que em mulher candidata não se bate daquela forma.


 


Poderia ter batido menos e tudo ficaria menos ostensivamente depreciativo à petista. Afinal, não é assim que a norma não escrita e estúpida do politicamente correto produz patetices como a performance da presidente?


 


Como era esperado, o debate na Globo teve tudo para confirmar que é um divisor de águas, ou a batalha da ponte. A repercussão que deverá causar nas não mais que 30 horas que separam o início da votação à presidência da República poderá mudar o enredo que até então parecia amplamente favorável à atual presidente. Não é descartável que a possibilidade de o escândalo da Petrobrás, na capa da principal revista semanal do País, se torne secundário como instrumento de dinamitação dos exércitos de indecisos que ainda estariam em busca de uma saída para não anular o voto.


 


Cadeia de análises


 


Sempre na mesma linha dos artigos anteriores que deram conta dos debates do segundo turno (e também do último do primeiro turno) entre os dois candidatos à Presidência da República (ou seja, que leva em conta apenas vetores cênicos e de comportamento emocional e de verbalização do pensamento divididos em 11 quesitos), o massacre foi consumado.


 


Dilma Rousseff apanhou do começo ao fim de Aécio Neves. Como é inexpressiva como debatedora fora de regras rígidas que lhe asseguram repetição mecânica dos estratagemas dos marqueteiros, Dilma Rousseff desmoronou a cada novo round. Nos questionamentos diretos de Aécio Neves ou nas formulações da bancada de indecisos, o resultado era sempre o mesmo e dantesco: a presidente da República comprovou que não tem preparo para embate franco, aberto, carregado de tensão.


 


Não se sabe até que ponto o atropelamento de que foi vítima ontem à noite comprometeu a corrida pela presidência da República na reta de chegada. São poucas as fontes de análise politicamente incorretas de desempenho dos candidatos. O jornalismo destes tempos caiu na armadilha da imparcialidade covarde que não passa de muletas para disfarçar a falta de comprometimento com os anseios da população. Como se a omissão fosse atributo qualificativo. O debate final na mesma Globo no primeiro turno foi tão favorável a Aécio Neves que o catapultou ao segundo turno. A mídia como um todo tratou burocraticamente aquela disputa. Uma aberração sob o manto da neutralidade estúpida.


 


Negar que Dilma Rousseff é péssima interlocutora quando se lhe opõe um candidato que esquece a patente que ostenta, porque a disputa pelo voto dos brasileiros é muito mais importante, tem o significado idiota de acompanhar a transmissão da goleada sofrida pelo Brasil ante a Alemanha e permanecer no piloto automático da narrativa sem análise. Dilma Rousseff conheceu ontem à noite seu oito de julho, data fatídica da goleada dos brasileiros ante os imperdoáveis alemães. Quem teve a ousadia de dar ao encontro um resultado de empate ou algo parecido provavelmente estava sob efeitos etílicos ou o sono lhe subiu ao raciocínio.


 


Sempre e sempre desconsiderando o conteúdo formal do debate, sujeito a subjetividades de acordo com a coloração partidária e ideológica, o que tivemos ontem à noite na TV Globo foi o caminhão chamado Aécio Neves passar por cima do cadáver midiático de Dilma Rousseff.


 


Falta de vivência


 


Do começo ao fim do jogo em busca de votos a petista sofreu as consequências de jamais ter passado pela hierarquia da política a qual a maioria dos concorrentes de peso individual se submeteu ao longo da carreira. Até Lula da Silva, o inventor de Dilma Rousseff, é prova provada de que não se entra numa arena de tamanha audiência sem o apetrechamento cênico e verbal necessário. Os anos de janela à frente dos metalúrgicos de São Bernardo cevaram uma personalidade e uma liderança intuitivamente brilhantes, a despeito de qualquer julgamento de valor político e intelectual.


 


A Dilma Rousseff de ontem à noite e de tantos outros debates em que houve confronto direto com liberdade de movimentos transmitia a sensação de que era apenas um ponto de referência às estocadas de Aécio Neves. A presidente da República repetiu mais uma vez o descontrole emocional inibidor da fluência oral que lhe retira a certeza de uma resposta bem encaixada, mesmo quando bem encaixada, porque lhe faltam traquejo, expressionismo facial, empatia e tudo aquilo que se espera de alguém com o qual sonhamos para nos representar como líder de uma nação.


 


Mais calejado, sóbrio, contido, mas sempre pronto para a preparação de um golpe letal com o traquejo de quem vem de uma escola de políticos que sabem a diferença entre um nocaute com classe e uma rasteira desnecessária, Aécio Neves saiu dos estúdios da TV Globo esmagadoramente vencedor do debate.


 


Fossem os golpes e contragolpes verbais equivalentes aos resultados entre dois boxeadores a se agredirem num tablado, Dilma Rousseff provavelmente exigiria cuidados médicos especiais. Aécio Neves teria saído praticamente incólume. Nem a maquiagem que a TV exige para que o brilho da pele não ofusque as imagens teria sido retocada.


 


É muito provável que a quase totalidade de jornais, emissoras de rádio e de televisão mantenham mecanismos de contenção crítica, reduzindo o massacre de ontem a relatórios sem compromisso algum com a indispensável avaliação do desempenho dos dois candidatos, essência de uma corrida eleitoral.


 


Essa falsificação do direito ou do dever de penetrar no âmago da questão, atribuindo sim juízo de valor, leva uma camada de leitores, ouvintes e telespectadores a acreditar numa bobagem que frequentemente invade espaços jornalísticos como este CapitalSocial. Que bobagem é essa? Que jornalista não foi feito para emitir opinião e sim apenas para registrar os fatos.


 


Não é preciso dizer que quando a opinião de um jornalista coincide com os interesses de determinados grupos de leitores, ouvintes e telespectadores, a ovação vira coro. Em sentido contrário, faltam adjetivos desclassificatórios.


 


Golpes arrasadores


 


No caso do debate de ontem à noite na TV Globo, para infortúnio de Dilma Rousseff, provavelmente somente os petistas fundamentalistas, e mesmo assim da boca para fora, entenderão que Aécio Neves foi inapelavelmente batido. Tudo picaretagem marqueteira. Na noite da batalha da ponte, Dilma Rousseff sucumbiu diante dos jabs, dos cruzados, dos diretos e da mobilidade verbais do tucano. Foi uma sucessão de golpes que não só minaram a resistência da opositora, como a colocaram em estado de atenção médica-marquetológica.


 


O formato do debate aprovado pela TV Globo já prenunciava os estragos. Colocar Dilma Rousseff em dois dos quatro blocos em contato direto com Aécio Neves, de questionamentos temáticos livres, só não foi mais destruidor que os dois blocos reservados aos chamados indecisos que vieram de todas as regiões do País, os quais, como numa sincronia avassaladora, transformaram cada questionamento em peça acusatória às politicas públicas.


 


Se faltava um ingrediente neutro para dar credibilidade à insistência persecutória de Aécio Neves de que o governo da petista é uma espécie de fim de feira, os indecisos cumpriram impiedosamente a função. A cada tentativa desesperada de Dilma Rousseff buscar num sistema cognitivo em frangalhos as respostas que os segundos demarcavam insidiosamente notava-se o desespero de quem clama desesperadamente por um copo de água.


 


Provavelmente jamais na história política deste País e para desespero do presidente Lula da Silva, fiel depositório de confiança na ex-dirigente da Petrobrás, uma finalíssima de debate eleitoral reuniu dois candidatos tão escandalosamente contrastantes. Tem-se a impressão que a capa incriminatória de Veja colocou Dilma Rousseff na retaguarda moral e emocional, com duros reflexos durante a competição televisiva iniciada justamente com questionamento de Aécio Neves sobre a participação da presidente no escândalo da estatal. O tucano preferiu ser reto, direto e rápido. Poderia ter segurado um pouco mais a ofensiva para dilacerar ainda mais os nervos da presidente, mas optou pelo choque elétrico.


 


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