O DataDiário (também conhecido por DGABC Pesquisas) braço de pesquisas do Diário do Grande ABC, reduziu de 47% para 25% o total de erros na temporada de disputas eleitorais. Depois do fracasso no primeiro turno das eleições presidenciais e ao governo do Estado, o DataDiário recuperou-se no segundo turno. Dos oito resultados possíveis, o instituto acertou seis e errou dois, sempre considerando a margem de erro de 1,9 ponto percentual para baixo e para cima.
A politica de imunização do DataDiário adotada pela redação do jornal nega aos leitores uma análise mais substanciosa dos resultados eleitorais na Província do Grande ABC. Tanto que na edição de hoje o Diário do Grande ABC anuncia em letras garrafais da página quatro: “Urna volta a reforçar DGABC Pesquisas”. Trata-se de evidente exagero. O que houve entre um turno e outro da disputa presidencial e também na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes foi uma recuperação parcial e importante do fracasso registrado. Quem desconsiderar como fracasso o fato de que entre 48 resultados possíveis do primeiro turno nada menos que 23 se distanciaram da margem de erro provavelmente precisará passar por reciclagem analítica.
Seria muito mais inteligente o Diário do Grande ABC admitir as falhas do primeiro turno, que também atingiram em cheios institutos muito mais conceituados, casos do Ibope e do Datafolha. As características que diferenciam uma disputa eleitoral em primeiro e em segundo turno tanto potencializam erros como favorecem acertos. Não é preciso ser especialista para chegar a essa conclusão. Coloque-se como jurado de concurso de beleza e veja quantas dores de cabeça terá para escolher uma entre seis candidatas e, na sequência, o quanto se sentirá aliviado em escolher apenas uma entre duas.
No primeiro turno há sempre maiores riscos porque os candidatos são em número elevado tanto para a presidência como para o governo do Estado. Sem contar as disputas por cargos proporcionais, de senador, deputado estadual e deputado federal. Foi essa montanha de ofertas que azucrinou a vida do Datafolha, do Ibope e, na região, do DataDiário.
Saindo pela tangente
Tanto o Ibope quanto o Datafolha procuraram sair pela tangente da desculpa esfarrapada de que não têm obrigação de acertar os resultados das urnas. Um comodismo para as horas amargas. O marketing dos dois institutos e de tantos outros é sempre o mesmo: o índice de acertos no histórico dos trabalhos de antecipação dos resultados oficiais. Nas horas difíceis encontram uma saída nem sempre palatável. Pior que o Ibope e o Datafolha é o DataDiário, que não admite os tropeços do primeiro turno.
Os 48 resultados mensurados por CapitalSocial no DataDiário do primeiro turno foram fomentados com base no número relativo de votos de cada um dos três principais concorrentes ao Palácio do Planalto e ao Palácio dos Bandeirantes. Como a Província do Grande ABC conta com sete municípios, cada pedaço territorial representou seis resultados individuais. Os seis resultados complementares levaram em conta os dados dos três concorrentes presidenciais e dos três concorrentes ao governo do Estado no conjunto dos municípios.
Votos consolidados ajudaram
A aferição de CapitalSocial no segundo turno da eleição presidencial levou em conta o resultado final em cada Município da região. A polarização da disputa associada à extinção de outras opções reduziu fortemente a possibilidade de mudanças de última hora, como os institutos de pesquisas alegam ter ocorrido no primeiro turno. Ou seja: a consolidação do voto na candidatura de Dilma Rousseff e também no senador Aécio Neves em níveis elevadíssimos facilitou a tarefa dos institutos de pesquisa, como admitem os próprios responsáveis pelos números certeiros que Ibope e Datafolha apresentaram no final de semana na disputa presidencial.
O DataDiário fez seis pontos positivos entre os oito possíveis. Em Santo André, a previsão do DataDiário publicada no Diário do Grande ABC da antevéspera dos votos reais apontava vitória de Aécio Neves por 63,28% a 36.72%. Nas urnas deu 63,34% a 36,66%. Em São Bernardo, o placar antecipado pelo DataDiário foi de 53,87% a 46,13%. Nas urnas deu 55,89% a 44,11%. O leve deslocamento da margem de erro de 1,9 ponto não deve ser contabilizado como passivo. Em São Caetano, o DataDiário apontou 78,40% a 21,60% para Aécio Neves. Deu 78,29% a 21,71%. Em Diadema, o DataDiário prognosticou 52,54% a 47,45% para Dilma Rousseff. Nas urnas deu 53,85% a 46,15%. Completando a lista de acertos, em Ribeirão Pires o DataDiário apontou 60,42% a 39,58% para Aécio Neves. As urnas deram 61,74% a 38,26%. No resultado geral, que completa o total de seis acertos, o DataDiário apontou vitória de Aécio Neves por 56,2% a 43,8%. O resultado final foi 58,05% a 41,968%.
Equívocos e manipulações
Os dois equívocos do DataDiário foram de menor monta do que os 23 erros cometidos no primeiro turno. Em Rio Grande da Serra, Aécio Neves era apontado como favorito com 52,38% contra 47,62% de Dilma Rousseff. O resultado das urnas foi favorável à petista: 50,62% a 49,38%. O deslize pode ser contestado ao se utilizar conjuntamente os rigores da margem de erro de 1,9 ponto percentual para cima em favor de Aécio Neves e 1,9 ponto percentual para baixo em detrimento de Dilma Rousseff. A aplicação da metodologia, nas explicações do DataDiário na edição de hoje do Diário do Grande ABC, é imprecisa.
O resultado final da pesquisa sustentaria a vitória de Aécio Neves nas urnas. A projeção do DataDiário indicava 52,38% de votos ao senador da República. Com a redução de 1,9 ponto percentual, seria rebaixado a 50,48%, enquanto o acréscimo de 1,9 ponto percentual levaria Dilma Rousseff de 47,62% a 49,52%. Dilma Rousseff ganhou nas urnas reais e perdeu nas urnas do DataDiário.
Já o segundo equívoco do DataDiário nas eleições de domingo se registrou em Mauá, onde o instituto apontava vitória de Dilma Rousseff por 53,7% a 46,27%. As urnas deram vitória a Aécio Neves por 56,22% a 43,78%. Um erro acima de 10 pontos percentuais nas circunstâncias técnicas de segundo turno é muito mais que um erro, é uma senhora barrigada. Tal qual o Datafolha na projeção final de vitória de Aécio Neves em Minas Gerais com larga vantagem de 10 pontos percentuais. A petista ganhou por quatro pontos percentuais.
Explicações não convencem
Leandro Prearo, coordenador do Inpes (Instituto de Pesquisas) da Universidade Municipal de São Caetano e consultor do DataDiário, festejou os resultados das urnas eleitorais na região. Entrevistado pelo jornal na edição de hoje, Leandro Prearo só admitiu escorregadela em Mauá. Desprezou o deslize em Rio Grande da Serra. As alegações que destilou para justificar a quebra da expectativa de votos em Mauá não mantêm coerência com os demais resultados na região. “Tinha ainda contingência de eleitores indecisos. Na minha visão, estavam indecisos porque foram de Marina (Silva, PSB) no primeiro turno e demoraram a se decidir. A má avaliação do governo de Donisete Braga também influenciou muito na derrota do PT” – comentou.
Não é bem assim. Os índices de votos em branco e nulos que o Diário do Grande ABC publicou com base na pesquisa do DataDiário na última sexta-feira eram semelhantes na maioria dos municípios da região. Em Mauá eram 19,4%, em São Bernardo 17,4%, em Santo André 18,3%, em Ribeirão Pires 15,2%, em Rio Grande da Serra 16%, em Diadema 21,4% e em São Caetano 14,8%. Quanto à avaliação de governo municipal, segundo dados do próprio DataDiário, há reprovação quase generalizada dos prefeitos. Donisete Braga é apenas um desses prefeitos mal-avaliados. Sobre Marina Silva, que no primeiro turno teve maior votação proporcional em Mauá, com 34%, a transferência maciça à candidatura de Aécio Neves era mais que sustentada pelas pesquisas e se confirmou nas urnas da Província do Grande ABC, inclusive em Mauá. O erro do DataDiário, portanto, não encontrou explicação do consultor do instituto.
Talvez o mais grave no conjunto avaliativo que o Diário do Grande ABC expõe na edição de hoje seja a utilização de uma falsidade estatística para justificar o equívoco em Rio Grande da Serra: a afirmativa de que o limite da margem de erro por município pesquisado seria de cinco pontos percentuais, ante 1,9 ponto percentual da Província do Grande ABC, está em conflito com todas as pesquisas realizadas pelo DataDiário nesta temporada. Com amostra de 2,8 mil entrevistas, ou seja, 400 para cada município, o DataDiário sempre enfatizou que a margem de erro por Município era de dois pontos percentuais, reduzida nas disputas eleitorais recentes a 1,9 ponto percentual.
Margem de erro de cinco pontos percentuais para baixo e de cinco pontos percentuais para cima é um acinte estatístico. Na prática significariam 10 pontos percentuais. Nada mais apropriado para tornar qualquer trabalho estatístico de campo um sucesso, mesmo que, como no caso do Datafolha sobre o eleitorado mineiro, tenha se tornado um grande furo nágua.
De qualquer modo, a recuperação parcial da credibilidade do DataDiário deve ser festejada. Quem sabe o instituto mantido em sigilo quanto aos procedimentos que adota, inclusive ao esconder do público o próprio consultor que eventualmente é chamado a dar explicações, decida compartilhar dados de forma mais transparente com a sociedade consumidora de informações. Principalmente quanto aos critérios que adota nas pesquisas que mensuram o nível de satisfação do leitorado com os atuais prefeitos.
Total de 895 matérias | Página 1
19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)