Política

Teixeira começa a se enforcar
com a própria corda de tagarelice

DANIEL LIMA - 29/10/2014

Não demorou para o presidente do São Bernardo Futebol Clube e dirigente público que trabalha nas sombras da Administração Luiz Marinho dar o tom do que pretende como deputado estadual eleito com votação muito aquém do dinheiro despendido e das perspectivas de que balançaria as estruturas. Luiz Fernando Teixeira disse ao Diário Regional que pretende contribuir para instaurar nova configuração na mídia brasileira, irritado com o que chamou de campanha de ódio movida pela revista Veja contra a presidente Dilma Rousseff.


 


Luiz Fernando Teixeira é uma matraca que repete o que alguns luminares de vezo ditatorial do PT falam sem parar. Como toda matraca, é cansativo e praticamente não tem ressonância além de algum tempo escasso. Luiz Teixeira foi além dos sapatos e se deu mal. Quanto mais pronuncia frases de terceiros partidários, mais escorrega na maionese da autenticidade. Há quem lhe destine o codinome de papatraca, que seria uma mistura de papagaio de pirata com matraca, instrumento de som repetitivo e enfadonho.


 


A visão de Luiz Fernando Teixeira sobre a corrida eleitoral e mais especialmente sobre a demonização da revista Veja pela publicação da matéria denunciatória na semana passada é típica de quem só enxerga um lado e de quem também precisa mandar um recado aos chefes do partido, posicionando-se de indignado contra o que chamou de irresponsabilidade daquela publicação.


 


Delação premiada em risco?


 


Talvez não  tenha passado pela cabeça do deputado eleito, ainda embevecida pelo triunfo petista no Brasil, ou porque há ressentimentos pela derrota fragorosa na região, que a revista apenas traduziu depoimentos prestados a representantes legais da hierarquia judiciária nacional em regime de delação premiada. Quando a mesma revista no começo dos anos 1990 estampou a foto do irmão de Collor de Mello na capa com a denúncia de desvios presidenciais, os petistas de então, muitos de agora também, adoraram. Ou quando a mesma revista, como tantos outros veículos de comunicação, alçou Lula da Silva como destaque pós-vitória em 2002 ("Triunfo Histórico", com o novo presidente coberto com a bandeira do Brasil), os petistas não se contiveram de alegria. Jamais se ousou falar em controle da mídia, essência do projeto petista lembrado pelo papatraca.


 


Quem sabe o significado de delação premiada respeita um pouco mais a revista Veja. O conteúdo da edição da semana passada não retrata opinião, chute, perseguição politica ou qualquer coisa semelhante. É a tradução de um depoimento possivelmente mais que lastreado em provas. O depoente não daria um tiro no próprio pé. Ele não estaria disposto a perder todas as contrapartidas que o levaram a enfrentar o juiz paranaense no recolhimento de informações que desmontam o ardiloso esquema de rapinagem na maior empresa do País para sustentar bases políticas do governo e fazer fortunas particulares, inclusive do próprio delator, então diretor da Petrobrás.


 


Cadê a transparência?


 


Até outro dia me diziam que Luiz Fernando Teixeira é advogado, mas como surgiram informações em contrário não é possível caracterizá-lo como tal. Por isso prefiro me restringir à posição de dirigente esportivo e de deputado eleito.


 


Como dirigente esportivo revolucionou com um estratagema jamais esclarecido a presença de torcedores nos jogos do São Bernardo. Há uma gama variada de especulações sobre o modus operandi adotado.  Caberia a Luiz Fernando Teixeira explicá-las, caso pretenda ter relacionamento transparente com a mídia e não venha, no futuro, a utilizar argumentos semelhantes aos que adotou para tentar desclassificar a revista Veja.


 


Dentro de campo o São Bernardo é uma equipe relativamente bem resolvida, integrante da Série A do Campeonato Paulista. Os custos de manutenção do elenco e de uma estrutura de primeiro mundo também são pouco claros, tanto quanto as fontes de receitas.


 


Pena que a camisa número 13 jamais será utilizada, porque nenhum titular e nenhum reserva a encontrarão nos vestiários. O número 13 foi reservado ao craque Lula da Silva, que jamais jogou profissionalmente em qualquer equipe, não tinha lá essas intimidades nem para o futebol varzeano mas entrou para a história do São Bernardo Futebol Clube porque foi presidente da República e ali na Vila Euclides, no agora Estádio Primeiro de Maio, comandou grandes mobilizações de trabalhadores.


 


Afastamento da classe média


 


Ao partidarizar o futebol de São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira afastou qualquer possibilidade de espectros importantes da sociedade se sentirem à vontade como torcedores e eventuais dirigentes. Exceto se constarem da lista de apaniguados do prefeito Luiz Marinho.  O mestre do marketing de enchimento de arquibancadas deu um chute no balde e desprezou uma parte substantiva da população ao ideologizar o futebol. Consequentemente, seus sonhos de chegar eleitoralmente à classe média tradicional esboroou. Não à toa teve de correr atrás de eleitores em outros municípios, principalmente no Interior do Estado, onde a máquina de produzir votos obedece a uma lógica pouco semelhante à das grandes metrópoles.


 


Talvez seja por isso – para que nada eventualmente de apodrecido venha à superfície – Luiz Fernando Teixeira, também segundo a matéria publicada pelo Diário Regional, defenda o que chama de democratização da comunicação no País, projeto encabeçado pelo PT.


 


Vejam o que disse Luiz Fernando Teixeira sobre isso: “Não somos a favor da censura, pois muitas pessoas morreram por serem censuradas, mas temos de rever essa questão da comunicação no País. Rádios, TVs e jornais são comandados por meia dúzia de pessoas que acabam fazendo papel irresponsável, como assistimos nessa eleição”, afirmou.


 


Está mais que na cara qual é o conceito de democratização da comunicação no País sob a ótica do deputado estadual recentemente eleito. Qualquer parentesco com os ditadores de plantão na América Latina, entre outras geografias, não será simples coincidência. Luiz Fernando Teixeira faz parte da turma de dirigentes políticos e esportivos bastante simpáticos a todos que lhe dizem amém. Quem ousa enfrentá-lo é sumariamente atirado à vala dos leões famintos da discriminação, quando não da perseguição. Ou da ameaça velada com a intervenção de mensageiros supostamente conciliadores.


 


Esperar de Luiz Fernando Teixeira um mandato modernizador na Assembleia Legislativa é sonhar com o impossível. Suas credenciais são da mesmíssima massa envelhecida de tantos outros políticos. Pelas digitais à frente do São Bernardo Futebol Clube o mínimo que se pode sugerir é que não custaria observá-lo de perto. Talvez se dispensando lupas. Quem conhece bem de perto a forma de agir do dirigente esportivo e de supersecretário de Luiz Marinho, sempre contando com os préstimos de um assessor muito especial, o advogado Edson Asarias, também chamado de Midas das Assessorias, sabe que há um campo minado a ser superado.


 


Operação pente-fino


 


Fosse o Brasil um Pais realmente sério, a atuação da dupla Luiz Fernando Teixeira e Edson Asarias nos bastidores do poder municipal em São Bernardo seria objeto de um pente de fino que, no mínimo, serviria para lhes dar a autenticação, a sacramentação e o carimbo de homens probos, retirando-os portanto da linha de tiro de que já teriam ultrapassado há muito tempo a zona da irresponsabilidade e de omissão do prefeito Luiz Marinho.


 


Sobre Edson Asarias não faltam caudais de informações contraditórias. Seria o advogado um exemplar tão extraordinário na produção de resultados em consultoria empresarial que há muito deveria ocupar a capa da revista Exame, ou quem sabe o título de Executivo do Ano. 


  


É mais que provável, é certo, que se vingasse o modelo de democratização da informação pretendido por Luiz Fernando Teixeira e pelo PT, este texto seria previamente descartado por ordem de algum tribunal formado por jornalistas de visões e olhares enviesados e contrários ao que chamariam de imundícies de parágrafos seguidos de parágrafos que colocam em dúvida a honra e a idoneidade dos personagens escolhidos.


 


É claro que não se trata disso. Muito pelo contrário. O que se pretende é apenas jogar luzes nas trevas. Da mesma forma que cansei de sugerir a Luiz Fernando Teixeira que me leve até as entranhas do Projeto Tigrinho, cultuado como suprassumo de responsabilidade social, entendo que a mistureba entre um presidente de clube travestido de supersecretário e a gestão pública de São Bernardo é estranhíssima e malcheirosa intersecção administrativa.


 


Que modelo de democratização?


 


Se o conceito de Luiz Fernando Teixeira sobre democratização da mídia passar longe, mas muito longe, de benesses em forma de publicidade oficial que sustenta grande parte de uma imprensa manietada pelo poder político, se o conceito for esse, não teria dúvidas em admitir a possibilidade de debater seriamente o projeto petista. Até porque, com todos os defeitos da mídia dita de centro-direita, o modelo está infinitamente adiante dos exemplares de mídia de centro-esquerda que conhecemos, financiada nem sempre às claras por organizações avessas ao contraditório e empedernidamente unilaterais na linha editorial.


 


O que os eleitores da região que sufragaram Luiz Fernando Teixeira esperam, embora não sejam tantos quanto ele imaginava, é que faça da função de deputado estadual uma extensa linha de produção de propostas que coloquem a Província do Grande ABC mais perto das decisões do Executivo paulista.


 


Garanto que não lhe faltaria espaço editorial nesta revista digital. Como não lhe faltará na medida em que frustrar as expectativas que ele próprio criou quando, para chamar à arena eleitoral os deputados Orlando Morando e Alex Manente, os quais não caíram na armadilha, disse e repetiu que não faria um mandato de vereador como deputado estadual. Que se prepare então para dar respostas. Com clareza, transparência e sem revanchismos encomendados.


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