Política

PT tem quatro candidatos a um
funeral na sucessão de Marinho?

DANIEL LIMA - 03/11/2014

O prefeito Luiz Marinho é o principal derrotado entre os políticos da Província do Grande ABC nas eleições de outubro tanto para o governo do Estado quanto para o governo federal. Só não enxerga quem não quer ou quem aprecia dominar a pauta jornalística, um dos exercícios favoritos dos políticos desse fim de mundo em cidadania. Porque apanhou bastante, o prefeito Luiz Marinho vive uma bananosa de fazer gosto. Por enquanto ele conta com quatro candidatos alternativos à disputa das eleições municipais de 2016. Prevê-se, após a hecatombe do partido na Província do Grande ABC, que ao vencedor da agremiação estará reservado um funeral eleitoral. Ou seja: Marinho não faria o sucessor.


 


É inquestionável que Luiz Marinho viu complicar-se a sucessão municipal, em 2016. A maior prova de que está enrascado é que há candidatos demais para vestir a desgastadíssima camisa vermelha do PT. Marinho vai ter de sair por aí em busca de uma saída. Mas, diferentemente do controle automático do rebanho metalúrgico sempre uníssono em busca de vantagens comparativas no mercado de trabalho nacional, encontrará dificuldades. Quem tem opções em excesso a apenas dois anos da sucessão não tem candidato algum. Mas o prefeito sempre cara de pau virá a público para dizer que há numerosos craques no elenco e, quem sabe, se autoproclamara um Guardiola da política petista.


 


Esqueçam a relevância extra-regional de Luiz Marinho nas eleições que já passaram. Esqueçam que ele era o principal coordenador de Alexandre Padilha, candidato que tentaria destronar Geraldo Alckmin, e de Dilma Rousseff, de votação raquitíssima na Província. Vejam Luiz Marinho apenas sob o aspecto municipal. De São Bernardo, mais especificamente. O que lhe sobrou?


 


Quatro candidatos e um funeral?


 


Para começar, entre os petistas que poderiam concorrer à Prefeitura após os oito anos do poste sindical que Lula transformou em prefeito, não existe no momento nenhum minimamente competitivo. Luiz Fernando Teixeira saiu derrotadíssimo das urnas locais, com 38 mil votos. Fraudulentamente, sob o ponto de vista ético, Teixeira mandou afixar outdoors agradecendo a São Bernardo pelos 102 mil votos, o total de eleitores que o elegeu no Estado de São Paulo. A mensagem é matreira ao induzir aquela votação em São Bernardo.  O marketing do candidato confessou o fracasso do planejamento eleitoral.


 


Se Luiz Fernando Teixeira saiu da disputa enfraquecido em São Bernardo, entre outros motivos porque há petistas que o querem longe da cidade, o supersecretário Tarcísio Secoli, aliado da deputada reeleita Ana do Carmo, nem passou pelo teste das urnas. Está certo que não é tão importante assim virar deputado para disputar a Prefeitura, mas há espaços que se perdem. Sobretudo no caso desse mais que discretíssimo executivo público que provavelmente perderá a principal vitrine com que pretende mostrar-se efetivo na arte de conduzir-se na gestão pública. A chamada usina de reciclagem de lixo não vai sair do papel entre outros motivos porque conta com irregularidades na licitação pública que poderão chamuscar o prestígio do titular da Secretaria de Serviços Urbanos.


 


Outro suposto concorrente, segundo especulações sobre quem vestirá a camisa vermelha em São Bernardo como se tudo corresse na mais absoluta normalidade, não uma enrascada de um prefeito superado largamente no próprio quintal, é o ministro da Saúde Arthur Chioro.  Trata-se de profissional acima da média, mas sem bases locais para pleitear a vaga petista. Mas isso talvez possa ser superado. Como adversário partidário de Luiz Fernando Teixeira, possivelmente tenha adesões além da conta para evitar que o presidente do São Bernardo concorra, ao mesmo tempo que exibiria um brilho federal tão ao gosto do cinderelismo regional. 


 


Completando o time dos eventuais concorrentes petistas está Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, também comandante da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, esse quadradinho do organograma de regionalidade que jamais funcionou e poucas vezes contou com marketing. Agora, pelo menos tem a segunda alternativa como algo palpável. A Agência segue diretrizes de comunicação do PT em todas as instâncias de poder, ou seja, excede nas lantejoulas em detrimento da realidade dos fatos.


 


Liderança questionada


 


Há quem duvide que Luiz Marinho tenha competência para articular medidas que possam convergir à escolha de um concorrente sem deixar sequelas de dissidências. Qualquer que seja, a solução não contabilizaria a unidade do partido em São Bernardo, mesmo se considerando que o PT destes dias está sofrendo como jamais na história regional, o que provocaria um abaixar coletivo de narizes empinados. Muitas vezes a solidariedade se dá pela dor da desgraça ainda mais cruel do que a já registrada.


 


Como fechar uma equação de divisionismos internos latentes associado à dilapidação do capital político no ambiente externo, como provaram os números ideológicos do fracasso de Dilma Rousseff na Província do Grande ABC ainda recentemente? Se Luiz Marinho não sabe costurar acordos entre os seus como decifrará a insatisfação entre os outros?


 


Seria sua mulher, supersecretária Nilza de Oliveira, a interlocutora desejada? Quem conhece a atuação da petista de perto garante que é mais fácil o técnico Felipe Scolari montar uma seleção de Marte para desafiar os alemães e vingar-se da derrota terrena da Seleção Brasileira.


 


A situação que se coloca às próximas eleições municipais em São Bernardo não pode desconsiderar o deputado estadual Orlando Morando e o deputado federal Alex Manente, de expressivas votações tanto dentro quanto fora de casa. Morando se elegeria deputado mesmo sem os votos dos demais endereços paulistas, porque ultrapassou a 100 mil eleitores em Bernardo. Mais que a soma de Luiz Fernando, Ana do Carmo e Teonílio Barba, todos eleitos à Assembleia Legislativa ao buscarem em outros campos o que lhes faltou em campo próprio.


 


Vitória sem importância


 


Sob a ótica de 2016, Luiz Marinho obteve uma vitória de Pirro ao ver os três concorrentes petistas de São Bernardo garantidos como opositores de Geraldo Alckmin. Nada que tenha fortalecido o partido internamente visando aquele que ocupará cadeira de Luiz Marinho no Paço Municipal. Muito pelo contrário. A vitória quase envergonhada no conjunto dos municípios do Estado não escondeu a frustrante derrota em casa.


 


A imprensa em geral tem o grave defeito de se deixar pautar pelos políticos, assim como por outras fontes de informações a ponto, apenas a titulo de exemplo, manchetear acriticamente o marketing de um suposto especialista da gestão Aidan Ravin, em Santo André, que previu crescimento de 17% do PIB do Município em 2010. Na Província do Grande ABC os jornais caem de quatro ante a ofensiva de derrotados em pautar o futuro.


 


O tratamento dispensado ao PT de São Bernardo com vistas a 2016 passa longe de qualquer premissa crítica sobre o concorrente a ser escolhido. O PT de São Bernardo, mais que o PT de toda a Província do Grande ABC, vive a pior crise de sua história. Até porque, o comando estratégico regional da agremiação, mesmo com a disputa acirrada pelo poder entre aliados e adversários internos de Luiz Marinho, está tão perdido quanto barata em galinheiro, incapaz de traduzir com equilíbrio, sensatez e senso crítico a hecatombe de 5 de outubro. Que, como estamos cansados de alertar, ultrapassa o terreno de gerenciamento público do PT e também de distúrbios eleitorais decorrentes de malfeitos administrativos em âmbito nacional. O sindicalismo faz parte dessa equação de horrores porque é um potentado que não admite reconfigurações que eliminem parte do Custo ABC, muito acima de quaisquer outras eventuais, quando não supostas, vantagens em competitividade industrial.


 


Luiz Marinho provavelmente observa o cenário político interno de São Bernardo com os mesmos olhos e pensamentos de um treinador de futebol que ante a ausência do craque do time (o craque do time do PT foi abduzido pelo eleitorado) movimenta-se em torno de uma obsessão que a cada instante mais se torna enfermidade a ser enfrentada: encontrar o nome certo para concorrer em condições de impedir novo rebaixamento eleitoral da agremiação.


 


E olhem que não mencionei nada sobre ambientes externos, como os desdobramentos do Petrolão, como elemento de análise. Aí seria covardia. O Petrolão, levado a sério, seria uma catástrofe ainda maior para o PT, entre outras razões porque não há nada que indique o contrário sobre as possibilidades de investigações chegarem à Província do Grande ABC. 


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