Política

Grana e outros trapalhões já se
preocupam com eleições em 2016

DANIEL LIMA - 05/11/2014

Embora também derrotadíssimo nas últimas eleições para a presidência da República e para o governo do Estado, o prefeito Carlos Grana enfrenta perspectiva menos sombria do que Luiz Marinho quando se constroem cenários para a sucessão municipal de 2016. Mas mesmo assim é impossível amenizar o senso crítico. Tudo leva a crer que a disputa eleitoral em Santo André será o confronto de trapalhões. Todos carregam passivos de contradições.  

 

Enquanto o titular do Paço Municipal de São Bernardo está aparvalhado no momento com quatro opções sem tônus muscular para enfrentar os embaladíssimos oposicionistas Orlando Morando e Alex Manente, eleitos com folga deputado estadual e deputado federal, Carlos Grana é candidato à reeleição sob o fogo cruzado de uma gestão medíocre, mas num quadro de desgaste dos oposicionistas em potencial.  

 

Os trapalhões em questão, além do próprio prefeito, são o até outro dia secretário de Cultura, Raimundo Salles, provavelmente o atual secretário de Obras, Paulinho Serra, o ex-prefeito, baleadíssimo, Aidan Ravin e com menos força para tanto mas não descartado, Fábio Picarelli, presidente da seção local da Ordem dos Advogados do Brasil.

 

Fora esses concorrentes não se tem mais nenhum nome com embocadura mesmo que desdentada para concorrer em Santo André. 

 

Não custa fazer um exercício de futurologia tendo em vista que o PT foi escorraçado em Santo André, onde Dilma Rousseff só obteve 33% dos votos válidos, o pior resultado de um petista em segundo turno presidencial.  

 

Canhão antipetista 

 

Por mais que se estabeleçam diferenciações entre voto presidencial e voto para prefeito, no caso que envolve o PT a margem de descolamento não é suficiente para a configuração de realidade conflitiva. Tudo indica que a corrida eleitoral às prefeituras em 2016 vai apontar um canhão na direção dos petistas locais, porque o quadro econômico deverá seguir complicado e os desdobramentos do Petrolão atingiriam ainda mais o fígado da agremiação.  

 

Apoios e restrições aos petistas na Província do Grande ABC são situações interdependentes, tal o estado de cristalização do partido e suas ramificações sindicais. O discurso de que não se pode nacionalizar as disputas municipais na região é apenas um jogo de conveniência para quem está em maus lençóis, como é o caso do PT nestes tempos. Aspectos locais terão grande peso na definição do eleitorado, mas a macropolítica e a macroeconomia nacional vão interceder sim num País cada vez mais polarizado entre centro-direita e centro-esquerda.

 

Então, o que provavelmente teremos será um tiroteio no escuro, com consequências que só o poderoso poderá diagnosticar. Carlos Grana deverá concorrer à reeleição mais desgastado ainda. Esse ex-sindicalista transformou a gestão pública em sarapatel multipartidário. A Prefeitura de Santo André é a prova provada de que negociar demais com aliados de última hora apenas para ganhar eleição pode ser um tiro no pé.  

 

O conglomerado de interesses nem sempre republicanos coloca Carlos Grana no fio da navalha da credibilidade. Fosse a disputa hoje, estaria irremediavelmente perdido. Campeão do Observatório de Promessas e Lorotas, Grana reza a faz novena por recursos governamentais. É melhor acautelar-se. As burras federais estão comprometidas ante os descaminhos orçamentários da gestão Dilma Rousseff. Houve descasamento entre a projeção de recursos disponíveis para investimentos e o andar da carruagem do crescimento do Produto Interno Bruto, e, consequentemente, das receitas federais.

 

Se chegar à campanha eleitoral de 2016 em situação semelhante à atual, o sucesso nas urnas de Carlos Grana só terá alguma potencialidade de concretização entre os petistas mais avermelhados da praça ou então à falta de melhores alternativas. 

 

Aidan emagrecido em tudo 

 

Derrotado nas urnas a deputado federal, o ex-prefeito Aidan Ravin entrará na disputa eleitoral em Santo André com mais passivos que ativos. E sem um condimento que lhe dava muito mais carisma: a exuberância de um corpanzil que uma cirurgia bariátrica emagreceu para seu conforto pessoal mas infortúnio eleitoral, ou não valeria a ele a premissa jôsoareana de que todos amam o gordo? 

 

A imagem de Aidan Ravin, além da materialidade do corpo, também sofreu perdas dolorosas durante o exercício do cargo de prefeito, rivalizando-se com o PT nacional em escândalos. Os pouco mais de 30 mil votos obtidos em Santo André ao concorrer à Câmara dos Deputados provam isso. 

 

O ex-tucano Paulinho Serra faz uma gestão opaca como secretário da Administração petista, à qual foi conduzido por uma rede de interesses que colocaram sob suspeita a biografia de combativo vereador na luta contra os vermelhinhos. Paulinho Serra precisaria se afastar da gestão petista para concorrer em 2016, manobra que já estaria em seus planos, sobretudo após a debandada de Raimundo Salles, com quem mantém relações de gato e rato. Será que Paulinho Serra deixará a gestão petista ou valorizaria a condição de aliado de que o PT tanto precisa, por representar estratos de uma classe média de demoniza a estrela vermelha?  

 

Quem sabe esse trapalhão da mobilidade urbana, incapaz de amenizar os problemas viários com maquiagens, não prefira o cargo de companheiro de chapa de Carlos Grana? Afinal, Oswana Fameli provou na prática o que a teoria sustentava: é uma mulher que não acrescentou mais que feminilidade à Administração Carlos Grana, quer como vice-prefeita, quer como secretária de Desenvolvimento Econômico.  

 

Já o advogado Raimundo Salles deve estar arrependido até o último fio de cabelo postiço por bandear-se à gestão Carlos Grana, da qual se desvencilhou ainda outro dia sob foguetório comemorativo dos petistas mais radicais e com um contraditório discurso sobre o legado supostamente deixado. O que se pergunta é o seguinte: a conversão de Raimundo Salles ao evangelho petista por duas temporadas seria suficiente para obstar-lhe o projeto de legítimo representante da população de classe média de Santo André que massacrou tanto a presidente Dilma Rousseff como o concorrente petista ao governo do Estado, Alexandre Padilha, em outubro último? 

 

Esse é o grande desafio que Raimundo Salles enfrentará para eliminar o passivo acumulado nas duas temporadas à frente da Secretaria de Cultura. Não será fácil. Ao assumir aquele cargo Raimundo Salles transmitiu a ideia de que não soube valorizar o próprio passe na negociação por espaços na gestão petista, já que contava com capital de votos muito mais respeitável que o de Paulinho Serra, a quem coube secretaria de maior visibilidade, embora de recursos escassos.   

 

Se Paulinho Serra não soube aproveitar a oportunidade é outra coisa, embora aqueles que giram no entorno do ex-tucano afirmem que não há motivos materiais para lamentações. Se é que me entendem.  

 

Ainda sobre Raimundo Salles, não se deve subestimar a possibilidade de vestir a roupagem de justiceiro contra o PT. Tanto que à reação de estridência dos petistas à retirada da gestão Grana, Salles também partiu para o ataque. Tudo levar a crer que terá munição suficiente para provavelmente polarizar a disputa com Carlos Grana em 2016. 

 

Possivelmente o prefeito, ex-araponga das campanhas eleitorais de Lula da Silva, quando participava ativamente do quartel general de benefícios partidários e de maldades aos adversários, conheça uma faceta de Raimundo Salles que lhe tenha passado despercebida: em matéria de infiltrações nos bastidores e de acumulação de estoque de balas que não são de festim, o ex-secretário de Cultura é especialista.  

 

Picarelli questionado 

 

Completando uma lista preliminar de adversários potenciais do petista que ocupa o cargo de prefeito em Santo André, Fábio Picarelli parece reunir mais pretensão do que juízo e estratégia. Depois de aliar-se ao PT, negociando a nomeação do inútil ouvidor, o presidente da OAB foi levado de forma imaterial mas simbólica aos palanques petistas no segundo turno das eleições presidenciais, quando o prefeito Carlos Grana o contemplou com trocadilho mordaz. O sobrenome de batismo desse filho de italianos foi a âncora a uma mais que compulsória remissão depreciativa sobre o comportamento ético na relação com os petistas. 

 

Fábio Picarelli terá de provar em campo, se candidato realmente for, que entre a fantasia das comissões temáticas da OAB, que supostamente lhe dariam densidade representativa, e a realidade do cotidiano de baixo engajamento institucional, reúne de fato uma massa crítica e de votos em potencial para surpreender os demais concorrentes.  

 

Como se observa, a situação de Carlos Grana com vistas às eleições municipais de 2016 não têm nada a ver com a complexidade vivenciada por Luiz Marinho em São Bernardo. Se Marinho vive o problema de contar com quatro candidatos petistas a um cargo que até prova em contrário tem o mesmo significado de funeral, Carlos Grana é espécie de comandante de uma tropa conflitante especializada em trapalhadas. 



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