Administração Pública

Paulo Pinheiro cede mais espaços
para ganhar fôlego rumo à reeleição

DANIEL LIMA - 12/01/2015

O prefeito Paulo Pinheiro está tutelado por peemedebistas estranhos a São Caetano e também por petistas de São Bernardo que financiaram a campanha que o levou ao Palácio da Cerâmica. A nova investida que reforça esse quadro foi tratada burocraticamente pela mídia porque a mídia não entra em bola dividida, principalmente quando faz parte do enredo de interesses. Nilson Bonome, ex-supersecretário da desastrosa Administração Aidan Ravin, em Santo André, virou espécie de primeiro ministro de Paulo Pinheiro. Bonome comanda o gabinete de crise de um gestor que perdeu o controle do Legislativo e se vê num emaranhado administrativo. Está a faltar a Paulo Pinheiro tanto governança quanto governabilidade, estoques gêmeos de complicações com a sociedade.

 

Vai ser difícil, muito difícil, a continuidade de Paulo Pinheiro à frente da Prefeitura de São Caetano. Tentar salvar a honra do mandato nos próximos 20 meses é missão quase impossível. Mais que qualquer elemento de gestão dos recursos públicos, o que deverá pesar sobremaneira é a descoberta generalizada do eleitorado sobre o que estava por baixo dos panos na disputa que levou Paulo Pinheiro à chefia do Executivo em 2012.

 

Como escrevemos aqui com ampla antecedência -- e somente depois das eleições e mesmo assim discretamente outras publicações resolveram abrir o jogo -- o PT de São Bernardo comandado pelo supersecretário Luiz Fernando Teixeira, agora eleito deputado estadual, controlou todos os cordéis táticos e financeiros que levaram Paulo Pinheiro à vitória. Inclusive o silêncio de várias mídias. Agora que a vaca da gestão está indo para o brejo, com série de trapalhadas, Nilson Bonome é o interventor gélido, de fala mansa e gestos medidos, indicado pela cúpula do PMDB em São Paulo, com amplo aval do vice-presidente Michel Temer.

 

Boa imagem ajuda

 

O boa praça prefeito de São Caetano, reiteradamente eleito vereador nos tempos em que poucos o imaginavam concorrente ao Paço Municipal, só não caiu em desgraça total porque é boa praça e porque tem um recall de simpatia que de alguma forma amortece as críticas. Fosse um intempestivo Luiz Tortorello de momentos críticos certamente Paulo Pinheiro estaria em situação pra lá de desalentadora porque faltam respostas práticas em forma de gestão pública.

 

Sabe-se que há indicadores de sobra a sugerir que em vez de conter o dique de desilusão com o mandato do médico Paulo Pinheiro, a coalizão formada por petistas e peemedebistas deverá encontrar mais barreiras a superar. Aos poucos a população de São Caetano, tão ciosa de um bairrismo que tem verso e reverso em forma de qualidades e inconformidades, dá-se conta de que foi subestimada na capacidade de enxergar a verdade, passe o tempo que passar, porque se lhe omitiu o que estava por trás de contrapartidas na campanha de Paulo Pinheiro.

 

A gestão do peemedebista foi esquartejada em forma de ocupação de instâncias-chave por grupos estranhos a São Caetano. Não se deve confundir ocupação estranha com nomeação de secretários de outros domicílios. Especialistas em determinadas questões não têm domicílio e, portanto, devem sim ocupar cargos estratégicos sem provocar qualquer comoção municipalista. Já uma enxurrada de correligionários distribuídos em postos intermediários, além de secretários, é a submissão quase completa de uma administração pública.

 

Rindo com cuidado

 

O ambiente político, administrativo e social em São Caetano está tão convulsionado entre aqueles que conhecem senão toda a verdade mas as versões dos fatos que poucos arriscam apontar uma rota de fuga à gestão Paulo Pinheiro. Sabe-se que o ex-prefeito José Auricchio Júnior, hoje secretário de Estado do governo Geraldo Alckmin, só não ri à toa em público porque não ficaria bem festejar escancaradamente a desgraça alheia. Até porque a desgraça alheia é a desgraça da própria cidade que, num futuro, eventualmente pode cair no colo do secretário estadual candidato em potencial à recuperação do cargo máximo no Município.

 

Ceder espaço ao PT que São Caetano sempre rejeitou nas urnas é uma ficha que demorou a cair para a população local, mas ao que consta não será esquecida nas eleições do ano que vem, segundo observadores atentos do movimento de pedras administrativas e políticas. 

 

Também quem está consideravelmente reabilitada após a massificação de versões que levaram Paulo Pinheiro à vitória com dinheiro do Partido dos Trabalhadores é a médica Regina Maura Zetone. Ela foi derrotada em 2012 após sofrer sórdida campanha nas redes sociais articuladas para destruir qualquer resquício de competência técnica pela via indecorosa e covarde de carnificina moralista.

 

O mesmo conservadorismo que pulverizou o prestígio do prefeito que indicou a candidata e da candidata que saiu na dianteira na disputa municipal agora se avoluma com viés condenatório à intervenção mais que disseminada de um partido que sempre foi escorraçado nas urnas locais.

 

O sentimento da população de São Caetano de que cometeu uma injustiça sem tamanho com uma concorrente aparelhadíssima para dar continuidade à gestão da máquina pública possivelmente integrará o caldo de cultura eleitoral em 2016.

 

Missão dupla

 

O que os peemedebistas e os petistas por trás de cada movimento do prefeito Paulo Pinheiro pretendem nos próximos 20 meses é imprimir um ritmo de gestão que leve a um duplo, sincronizado e improvável movimento: primeiro, reconquistar a confiança do eleitorado sobre a capacidade de gestão de um experiente vereador no qual se depositaram expectativas de dias melhores como prefeito; segundo, o esquecimento de que esse mesmo eleitorado foi ludibriado nas eleições de 2012 ao transformarem o candidato vencedor em Cavalo de Troia de uma agremiação hostilizada ao longo da historia.

 

Por mais que Nilson Bonome seja ensaboado, bom de conversa e articulador, não se acredita que tenha poderes divinos para desmanchar o que está solidamente entronizado no eleitorado de São Caetano.  O prefeito Paulo Pinheiro sabe de todos os limites internos e externos que o tornaram prisioneiro de suas próprias escolhas a partir da aceitação de uso de sua imagem, síntese de São Caetano, por estranhos na tomada do Paço Municipal.  



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