Administração Pública

Luiz Marinho segue prefeito dos
prefeitos. Nada mais compulsório

DANIEL LIMA - 14/01/2015

Não entendo (ou entendo muito bem) a razão principal da gritaria contra o desenlace mais que projetado no Clube dos Prefeitos da Província do Grande ABC: Luiz Marinho cumpriu dois mandatos seguidos, não pode se candidatar à nova reeleição porque o estatuto não permite, mas segue na presidência ocupando o corpo e a mente do prefeito falsamente tucano de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão, oficialmente eleito ontem e compulsoriamente ventríloquo do petista.


 


A força monolítica do prefeito petista de São Bernardo não permite sequer que companheiros de partido ousem ameaçá-lo. Sobretudo numa temporada em que se acredita possível o início de avalanche de investimentos federais prometidos e reservados à região. É claro que falta combinar com o ministro Joaquim Levy, que não é da turma dos metalúrgicos nem tampouco próximo do mandachuva Lula da Silva como o antecessor Guido Mantega, situação que também não produziu o milagre de multiplicação de investimentos, ao contrário do que se imaginava. Está aí o Museu do Trabalho e do Trabalhador como prova, entre outros exemplos.


 


O Clube dos Prefeitos é uma entidade tão mequetrefe que se junta à rede de organizações igualmente mequetrefes. Por isso mesmo, não vale tanta tinta quanto se gasta na Imprensa regional, por mais que a Imprensa regional seja rasa, rala e quase insensível aos conceitos mais avançados de regionalidade.


 


É a Economia, idiotas!


 


Para que saia do estágio de mediocridade em que se meteu principalmente após o desaparecimento de seu criador, Celso Daniel, o Clube dos Prefeitos precisa passar por completa reestruturação conceitual, além de recursos humanos. Mais que reestruturação, a plataforma que o catapultaria a novas e saudáveis incursões continua a ser abusivamente desprezada: a economia em frangalhos da região.


 


Enquanto os gestores públicos que ocupam cargos técnicos no Clube dos Prefeitos ignorarem que o resto, todo o resto social, depende do dinamismo econômico e de consequentes recursos orçamentários decorrentes disso, vamos continuar a mendigar dinheiro do governo do Estado e Federal.


 


Por mais que teoricamente tenhamos direitos a reivindicar parcelas dos nacos de impostos estadual e federais que geramos, a dependência que se criou ao longo dos últimos anos porque desabamos em produção de riqueza gera um desconforto no bojo de negociações político-partidárias das quais Luiz Marinho tem dado conta, embora com resultados pífios até agora.


 


Ignorar que Luiz Marinho é o melhor que temos no relacionamento com o governo federal, por razões mais que óbvias como o político regional mais próximo de Lula da Silva, é chutar o pau da barraca da racionalidade para as profundezas de um fundamentalismo crítico autodestrutivo. Goste-se ou não de Luiz Marinho como gestor público – e é forçoso reconhecer que o ex-metalúrgico tem capacidade impressionante de desafiar os limites da arrogância e da unilateralidade, quando não da obscuridade – a realidade é que, se com ele o relacionamento com Brasília já é um imenso ponto de interrogação, sem ele então, com o tal de Gabriel Maranhão, se torna uma baita decepção.


 


Avaliador desastrado


 


Se havia alguma dúvida sobre o grau de discernimento do prefeito de Rio Grande da Serra como premissa à projeção do que supostamente seria sua gestão no Clube dos Prefeitos, as primeiras declarações reproduzidas pela mídia regional são esclarecedoras, quando não estarrecedoras.  Alguém que considera o antecessor dele na Prefeitura de Rio Grande da Serra, Kiko Teixeira, um dos melhores prefeitos da história da região, e, em seguida, afirma que Luiz Marinho é um grande prefeito, sendo o prefeito que é da Capital da Província do Grande ABC, sinceramente, esse alguém não passaria por qualquer exame mais apurado de interpretação dos fatos. Estaria enfeitiçado pelo sentimento de bajulação ou a bajulação é a essência que poderia reproduzir dentro dos próprios limites pessoais e administrativos? 


 


O que esperar de Gabriel Maranhão quando se sabe que, além de não ter a menor noção do que deveria significar a ocupação do cargo de titular de um Paço Municipal, submeteu-se candidamente ao papel de preposto de um prefeito que, apesar dos pesares, lhe está muito à frente em capacitação para o cargo, por conta de um feixe de atributos tangíveis e, principalmente, intangíveis?



O Clube dos Prefeitos é uma anomalia institucional porque se fecha em copas para administrar os problemas que afligem a sociedade e exercita um jogo de faz de contas que a Imprensa de maneira geral avaliza com a ausência de avaliações críticas.


 


Agora se anuncia que professores e alunos da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC) vão compor grupos de trabalho na entidade. Faltam informações que possam dar um mínimo de segurança sobre o potencial desse reforço. O que persiste mesmo é a impressão de que o PT precisa dar uma satisfação à sociedade por ter incentivado a instalação de uma instituição de ensino em flagrante conflito com a configuração internacional que aproxima academia e sociedade produtiva.


 


Caindo pelas tabelas


 


Como a direção e o corpo técnico do Clube dos Prefeitos ainda vivem no século passado, a imaginar que os orçamentos municipais vão continuar a ser preponderantemente frutos de dinheiros estaduais e federais, a temática social prevalecerá na iniciativa que conta com a parceria da UFABC. Enquanto isso, ano após anos os indicadores econômicos e sociais puxam a Província para posicionamentos cada vez menos destacados no G-20,o grupo dos 20 municípios mais importantes do Estado, e mais próximos da lamentável média nacional. 



Ou seja: se no passado cantávamos vitória porque seríamos o Brasil que deu certo, estamos caminhando celeremente para um avanço extraordinário rumo ao atraso e seremos nada mais nada menos que o Brasil que jamais saiu do atoleiro, mesmo com o artificialismo consumista de uma falsa classe média. 


 


O futuro do Clube dos Prefeitos é insondável entre outros motivos porque o passado pouco produziu e o presente acrescenta aos entrechoques do municipalismo atávico um partidarismo ideológico exacerbado que possivelmente só será reduzido quando o PT deixar o poder federal.


 


A escalação de Gabriel Maranhão para ocupar a presidência em regime de submissão ao mandachuva Luiz Marinho é a combinação perfeita do desmantelamento da centro-direita regional, do amesquinhamento da classe política e do centralismo avassalador que o petismo de São Bernardo exerce na Província do Grande ABC -- inclusive sobre integrantes da própria agremiação inconformados mas silentes por instinto de sobrevivência.


 


Talvez as urnas eleitorais do ano que vem, associadas aos rescaldos locais e nacionais do escândalo do petrolão, redirecionem a vida política e institucional da região. Tomara que não seja para pior, porque em se tratando de Província, tudo é possível, inclusive a esculhambação do possível.


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