O ex-prefeito e deputado federal em fim de mandato William Dib está se posicionando desde já como candidato à sucessão do petista Luiz Marinho em São Bernardo. Dib já se diz concorrente mesmo. Experiente, saiu na frente dos jovens Orlando Morando e Alex Manente que, embora candidatos, fazem um jogo de esconde-esconde que só os prejudica, porque passa a ideia de que não são sinceros em seus objetivos.
O tucano Dib se declara claramente candidato e, numa entrevista ao Diário Regional, afirma ser adversário para valer do PT. Ele espera combater informações de bastidores que o colocaram muito próximo do recentemente eleito deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, supersecretário de Luiz Marinho. O espalhamento de que poderia ser linha auxiliar de Teixeira nos próximos tempos, dizendo-se candidato de oposição apenas para azucrinar Manente e Morando, obriga William Dib a reagir.
É possível que muita água vá rolar sob a ponte da sucessão eleitoral em São Bernardo. O mínimo que se recomenda é o máximo de cautela sobre as conjecturas. Não faltam engenheiros de maledicências e, inclusive, informações contraditórias que colocam todos os adversários da candidatura petista em sintonia com os desígnios do Paço Municipal. Traduzindo a equação: por conta de animosidades de quem disputa o mesmo espaço eleitoral, no caso Dib, Morando e Manente, joga-se com a alternativa de que o que mais interessaria a cada um deles, sobretudo aos dois mais jovens, é que os demais do espectro de centro-direita de combate ao petismo não tenham sucesso na empreitada, preferindo-se, portanto, o candidato da estrela vermelha.
Em busca de ponto em comum
É realmente uma coisa de malucos, mas também não faltam movimentações no sentido de que finalmente Manente, Morando e Dib joguem para escanteio veleidades individuais e grupais e encontrem um ponto em comum para tirar do poder de São Bernardo – e também embananar o centro gravitacional do petismo na região – o grupo liderado por Luiz Marinho na Administração e por Luiz Fernando Teixeira no entorno financeiro.
A probabilidade de Willian Dib encontrar mais sustentação para saltar adiante na corrida que mantém com Manente e Morando é maior porque os grupos dos dois jovens deputados fingem-se aproximar mas no fundo não se toleram. Eles cultivam rivalidade ditada essencialmente pela perspectiva de que cada um se sente bola da vez para assumir o Paço Municipal e constituir nova dinastia política no Município, jovens que são para uma jornada de pelo menos duas décadas.
Ou seja: a vantagem de Willian Dib seria exatamente o fato de já ter passado dos 60 anos e de estar mais disposto a um acordo político flexível, que o leve a consagrar-se prefeito pela terceira vez e amarre a reeleição à garantia de que tanto Morando quanto Manente teriam ampla liberdade para finalmente disputar seu espólio eleitoral em 2020.
Ao sair na frente e se autodeclarar candidato à sucessão em São Bernardo Willian Dib teve senso de oportunidade porque ser elevado às manchetes locais num momento em que o PT está estraçalhado como imagem de probidade e capacidade administrativa, após as denúncias envolvendo a Petrobras.
Municipalização relativa
É verdade que os chamados especialistas dizem que eleições municipais são uma coisa, eleições gerais são outras, e que, por isso, o escândalo da Petrobras não seria tão contundente nas urnas municipais no ano que vem. Há controvérsias. O conceito vale para todas as agremiações partidárias do País, menos para o PT por conta do monolítico espectro ideológico que construiu desde que Lula da Silva e intelectuais paulistanos, entre outros, transformaram o movimento sindical em ramificação eleitoral. No caso da Província, a colagem é ainda mais fortemente impregnada.
Sou capaz de apostar na vitória do opositor do PT em São Bernardo que mais martelar os estragos na maior estatal brasileira, correlacionando-o a situações locais. Pelo andar da carruagem de investigações e penalizações, esse é um assunto que continuará nas manchetes por muito tempo. Não fosse a Petrobras suficiente para estiolar o que restaria de prestígio de probidade do PT, há outras estatais como fontes de escândalos. O BNDES, por exemplo, estaria na linha de tiro e só não chegou às manchetes ainda porque a Petrobras não dá folga.
Fazer o sucessor é questão de honra para Luiz Marinho cultivar o sonho de chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Não ficaria bem para o primeiro-amigo de Lula da Silva liderar a derrocada do grupo político que construiu com fundamentos partidários e dinheiro farto. Uma derrota do candidato que espera escolher e que possivelmente se confirmará como sendo Luiz Fernando Teixeira destruiria parte da reputação de Luiz Marinho na agremiação e dificultaria as relações interpartidárias para disputar o gabinete hoje ocupado por Geraldo Alckmin.
Se a situação atual não for bastante alterada nos próximos meses, tudo indica que Luiz Marinho terá dissabores em 2016. Será preciso que Dib, Morando e Manente sejam muito incompetentes na arte de seduzir o eleitorado ante a maré vazante de credibilidade petista.
Duas frentes de combate
Na verdade, o PT luta em duas frentes conexas para tentar salvar a lavoura eleitoral de 2016 não só em São Bernardo, mas em outros municípios da região: primeiro, safar-se do atoleiro ainda mais comprometedor da crise deflagrada na Petrobras, como se não bastasse o mensalão; segundo, esperar que o jogo pesado da equipe econômica liberal conserte em tempo recorde todas as barbaridades que a sucessora de Lula da Silva cometeu no primeiro mandato. Não será fácil. As projeções indicam que o PIB deste ano e o PIB do ano que vem mal se moveriam em relação ao PIB do ano passado e do PIB do ano anterior, que, como se sabe, empacaram.
A ressurreição do antagonismo político-partidário na Província do Grande ABC, que tanto bem promove à democracia, depende imensamente do que se vai passar em São Bernardo nos próximos dois anos. O controle petista, que elegeu diretamente três prefeitos (Marinho, Grana e Donisete) e outros três indiretamente (Saulo Benevides, Paulo Pinheiro e Gabriel Maranhão) conflita frontalmente com a realidade das urnas nas disputas ao governo do Estado e à Presidência da República, ano passado, quando o PT foi rejeitado por do eleitorado. Há um descompasso entre o poder político petista na região e a insatisfação popular revelada nas urnas.
O PT joga um jogo aparentemente de quem manda no campo, na arquibancada e nas regras, mas o ambiente político e econômico nacional e principalmente nas áreas metropolitanas opõe-se completamente a um cenário com data de validade já esgotada.
Resta saber se Willian Dib, Orlando Morando e Alex Manente estão atentos ao ambiente municipal, regional e nacional que, com variadas tonalidades de peso, vai influenciar o eleitorado dentro de menos de dois anos. Possivelmente a municipalização temática das disputas de 2016 interesse aos petistas e, por isso, pode levá-los a induzir os adversários a esquecerem de pecados capitais do governo federal.
Como o eleitorado regional é menos municipalista do que os chamados especialistas afirmam, porque não entendem de metrópoles, convém atenção especial ao conjunto da obra da política que se pratica no País. Há ressonâncias que não podem ser ignoradas quando o jogo jogado é aparentemente apenas municipal. O eleitorado metropolitano tem grau superior de nacionalização temática. Podem acreditar.
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01/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (20)