Quem imaginou que a pergunta do título tem alguma relação com o escândalo da Petrobras e também com o escândalo do metrô do governo estadual paulista, além de outros casos policiais locais revelados ou sob investigação, seguramente observa tudo com absoluta descrença sobre o grau de idoneidade da classe política. É alguém, garantidamente, que acredita na possibilidade de grande reviravolta no modo de fazer política no País. Se você faz parte desse grupo, parabéns. Venha para o clube dos inconformistas que, ao contrário dos delinquentes sociais, não são frutos de delírios. Trata-se de um estrato da sociedade que ainda deposita fé no Brasil passado a limpo.
Quem acha que tudo isso é ingenuidade, romantismo e babaquice deveria ler a coluna de hoje na Folha de S. Paulo do jornalista Elio Gaspari, um dos mais brilhantes profissionais de comunicação do País. Gaspari sabe das coisas. É bem informado e não economiza revelações nos textos que constrói.
Para que não me coloquem entre aqueles que levam a sério demais o momento político nacional e que por isso mesmo vão quebrar a cara ante supostos arranjos e conchavos tradicionais para manter tudo como sempre esteve, transcrevo os primeiros parágrafos do artigo de Elio Gaspari na Folha de hoje -- “A deslegitimarão da política”. Leiam com atenção redobrada:
Em seu conhecido artigo intitulado “Considerações sobre a Operação Mani Palite”, que está na rede, o juiz Sérgio Moro disse que a prisão da teia de corrupção que permeava da vida italiana desde o fim da 2ª Guerra “levou à deslegitimação de um sistema político corrupto”. A “Operação Mãos Limpas” começou em 1992. Dois anos depois os partidos Democrata Cristão e Socialista, que controlavam a maioria parlamentar desde 1945, ficaram com 2,1% e 2% dos votos e dissolveram-se. A política brasileira corre o risco de entrar num processo semelhante. A credibilidade do PT ficou do tamanho das promessas de campanha da doutora Dilma. A do PMDB, do tamanho que sempre teve. (Quem souber qual é ganha uma viagem só de ida a um paraíso fiscal). A do PSDB pode ser medida pela confiança que os cidadãos de São Paulo têm pelas declarações do governador Geraldo Alckmin sobre a crise da água, escreveu Gaspari.
Mais Elio Gaspari
Os últimos parágrafos do artigo do jornalista da Folha de S. Paulo são tão consistentes que avalizam a confiança dos eleitores de que terão a oportunidade de, no futuro, não caírem tão facilmente no conto do vigário. Leiam:
A deslegitimação que vem por aí abalará primeiro o PT. Na mesa do juiz Moro há denúncias que abalarão também o PMDB e o PSDB, isso para se falar só dos três maiores partidos. A Operação Mãos Limpas italiana varreu partidos políticos minados pela corrupção e fortaleceu o regime democrático. Até onde a vista alcança, no Brasil acontecerá a mesma coisa – escreveu Elio Gaspari.
E a Província?
Diante dessa situação que chamaria de macropolítica, o que esperar do futuro próximo, do ano eleitoral de 2016, na Província do Grande ABC? O melhor mesmo é colocar as barbas de molho. Há frondosas ramificações desses escândalos nas cidadelas peemedebistas, tucanas e petistas da região. A Província pode sair da periferia do poder político para ingressar no raio de ação das investigações criminais. Mais que pode, já está na linha de tiro.
Daí, como traçar teorias sobre os possíveis rumos de campanhas eleitorais que já se articulam sem correr o risco de nomes incensados hoje saltarem às profundezas da demonização amanhã.
Os leitores que se iludirem com a possibilidade de que tanto os dutos dos malfeitos na Petrobras quanto os trilhos das propinas no metrô não passariam na Província podem ser surpreendidos. Há uma massa de informações de bastidores que colocam gente graduadíssima da região – e também seus protetores estaduais e nacionais – como alvos de operações cujos custos políticos e criminais poderão ser assustadores. Algumas operações diversionistas dos donos do poder político e econômico da região não se sustentarão. Os holofotes na Petrobras e subsidiariamente no metrô paulistano vão prevalecer.
O texto de Elio Gaspari não é um texto qualquer. É de um profissional com gama imensa de fontes. Não está a serviço de ideologias que disputam espaços físicos e digitais na multiplicidade de plataformas de comunicação. É a informação com agregado de valor imenso, porque respaldada na capacidade de separar alhos de bugalhos, uma arte que, acreditem, é especialidade apenas dos profissionais do ramo sem amarras ideológicas e partidárias.
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05/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (21)