Política

Água faz menos estragos a Alckmin
do que petróleo a Dilma Rousseff

DANIEL LIMA - 02/02/2015

A crise hídrica fez menos estragos ao governo Geraldo Alckmin do que o escândalo da Petrobras a Dilma Rousseff, conforme resultados do DataDiário publicados na edição de hoje do Diário do Grande ABC. DataDiário é a identidade que dou ao DGABC Pesquisas, o instituto que o jornal criou para medir a sensibilidade regional em alguns indicadores. Geraldo Alckmin e Dilma Rousseff perderam o encantamento do eleitorado em proporções bastante contrastantes. O governador do Estado sofreu menos porque tem a água, somente a água, como calcanhar de Aquiles. Já Dilma Rousseff sofre com uma montanha de complicações, além do escândalo da Petrobras. Listá-los é desnecessário neste espaço. Meu foco são os números do DataDiário. O Diário do Grande ABC não os explorou na plenitude das mensagens captadas pelos entrevistadores.


 


Qual foi o princípio lógico que me levou à constatação expressa na manchete acima? Simples, muito simples: a base de comparação são os resultados do DataDiário publicados em novembro de 2013, ante os resultados de agora. Desprezei todas as incursões posteriores, do ano passado, porque 2014 foi eleitoral e, dessa forma, sazonal à interpretação mais criteriosa dos números. A contaminação político-partidária de pesquisas de avaliação em períodos pré-eleitorais é um risco que potencializa a imprecisão avaliativa.


 


Semelhanças destruídas


 


A presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin registravam desempenho semelhante no eleitorado regional em novembro de 2013. Não havia discrepâncias que caracterizassem antagonismos exacerbados. O índice de aprovação de Dilma Rousseff era superior ao de Geraldo Alckmin dentro do que chamaria de margem de erro: 33,3% contra 31,9%. O índice de reprovação era levemente mais acentuado para Dilma Rousseff: 38,0% ante 30,3% de Alckmin.


 


Agora em janeiro deste ano houve reversão gigantesca: Dilma Rousseff passou a contar com apenas 17,4% de aprovação, ante 29,4% de Alckmin. Isso significa que a presidente da República, atarantadíssima com a Petrobras e com as tentativas de correção de rumo econômico, perdeu 40,8% mais eleitores que aprovavam seu governo do que o tucano que comanda o Palácio dos Bandeirantes. O outro lado da moeda é compulsoriamente ruim para o governo federal: a reprovação de Dilma Rousseff aumentou no período 73,1 ante 24,75% de Geraldo Alckmin. Os 38% de reprovação a Dilma em novembro de 2013 saltaram para 65,8% no janeiro que acaba de acabar, enquanto os 30,3% de Alckmin passaram a 37,8%.


 


Há indicativos mais que claros de que se os números da presidente da República e do governador do Estado entraram numa zona de contraste em janeiro, sempre comparados a novembro de 2013, a situação deverá se agravar no futuro próximo. Geraldo Alckmin só não se distanciará de Dilma Rousseff ainda mais nos indicadores de aprovação e reprovação se a crise hídrica se acentuar e atingir em cheio a Província do Grande ABC, geografia do DataDiário. Se São Pedro der uma ajudazinha e não roubarem muita água da Represa Billings, Dilma Rousseff ficará ainda mais distante da imagem de aprovação discreta do governador e entrará numa zona de depreciação provavelmente irrecuperável.


 


Purgatório do regular


 


O que me leva a essa conjectura é a perda de capital avaliativo do indicador “regular” do DataDiário. Exceto se estiver enganado sobre o juízo de valor de “razoável” que consta dos formulários do DataDiário, esse é o medidor que intermedeia a positividade ou a negatividade de cada eleitor quando instado a responder ao entrevistador. “Regular” é espécie de purgatório com que se defrontaria cada eleitor no momento em que precisa decidir a sorte do alvo a ser avaliado. É a travessia consentida ao “ótimo” e “bom” de um lado, e ao “péssimo” e “ruim”, de outro.


 


E é nesse ponto que entra em campo o que chamaria de embaraços adicionais a Dilma Rousseff. Em novembro de 2013, quando, repito, o desempenho geral lhe era favorável no confronto com Geraldo Alkmin, um pouco acima da margem de erro no quesito “reprovação”, havia certo equilíbrio na avaliação “regular”: Dilma contava com 27,7% enquanto Geraldo Alckmin chegava a 34,3%. Uma diferença inferior a sete pontos percentuais, para ser mais preciso. Já os dados do DataDiário desta segunda-feira revelam que a diferença aumentou sensivelmente: Dilma Rousseff conta com apenas 16,2% de eleitores que consideram seu governo “regular”, enquanto Geraldo Alckmin registra 29,6%. Ou seja: no período de pouco mais de um ano, o governador tucano aumentou em 51,79%, em relação a Dilma Rousseff, o eleitorado que o mantém num patamar de vigilância. Isoladamente esse enfrentamento talvez não indicasse quase nada, mas quando conectado aos indicadores de aprovação e reprovação, com as nuances apresentadas, observa-se que a presidente da República está em maus lençóis. Ou seja: o tucano resiste mais bravamente à fase declaradamente mais crítica do eleitorado neste começo de ano turbulento. Os próximos tempos vão determinar afastamento ou não da resistência do eleitorado em abandonar o governador.


 


Queda acentuadíssima


 


A constatação que extraio dos dados do DataDiário é simplificadamente a seguinte: Dilma Rousseff dançou feio ante o eleitorado regional nos últimos 14 meses, numa comparação fortemente liberta de derivações eleitorais, enquanto Geraldo Alkmin sofreu percalços que não lhe retiraram a etiqueta de competência. Entretanto, como aumentou o nível de reprovação entre os dois períodos (de 30,3% para 37,8%), o governador do Estado deverá ficar atento às medidas e a forma de comunicação ante a crise hídrica.


 


Trata-se de perspectiva menos decapitadora de prestígio do que se reserva à presidente da República, construtora do que os especialistas chamam de tempestade perfeita. A perda de 47,7% do índice de aprovação desde novembro de 2013 e o aumento de 73,1% no indicador de reprovação tornam a presidente da República uma formiguinha no tronco de árvore correnteza abaixo. Resta saber se está imaginando que tem o controle das ações ou se já entregou de vez a rapadura. A diferença entre uma situação e outra é que não há diferença – de qualquer forma, Dilma Rousseff está encalacradíssima. 


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