Administração Pública

Que tal o Clube dos Prefeitos fazer
um balanço da Operação Lava Jato?

DANIEL LIMA - 18/02/2015

O título é mesmo uma provocação, assim como o texto que se segue. É com provocações que se constrói a democracia da informação. O jornalismo de conveniência é uma praga que imobiliza a sociedade e a transforma em massa de manobra. O que quero dizer é que o prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC, Luiz Marinho, que ocupa de fato e para valer o comando do Clube dos Prefeitos, deveria reunir os demais chefes municipais e respectivas assessorias para apresentar à sociedade regional um balanço completo sobre a atuação das empreiteiras que constam da lista de negativadas da Petrobras no conjunto de obras encomendadas na região. Essas empresas só foram parar na lista negra da Petrobras porque a Polícia Federal e a gama de procuradores da Justiça, além do juiz Sérgio Moro, descobriram as maracutaias que colocaram fogo na estatal.


 


O Clube dos Prefeitos, em suma, deveria proceder à completa transparência dos respectivos titulares dos paços municipais nas relações com as empresas apanhadas em delito na Operação Lava Jato. Ou que estavam próximas a serem apanhadas no contrapé de negociatas.


 


São muitas as informações sobre os tentáculos de empreiteiras e parceiras que atuavam na Petrobras e que por força do milagre da multiplicação de interesses escusos ou pouco republicanos aportaram para valer ou estavam prontas a atuar para valer em empreendimentos localizados na região. O assunto virou tabu entre os administradores públicos locais e os respectivos entornos de governabilidade viciada.


 


Falar em Odebrecht, OAS e tantas outras empreiteiras é algo como gritar Palmeiras em meio à Gaviões da Fiel. Fogem todos de temáticas que tenham a Petrobras como centro de operações. Não só a Petrobras, mas ramificações do governo federal -- inclusive do programa Minha Casa Minha Vida com montanhas de irregularidades.


 


Desvendando contratos


 


Fosse o Clube dos Prefeitos algo comprometido com a sociedade regional -- não um desfile de egos e de planejamento furado porque fundamentado em equívocos analíticos --, fosse algo que transcendesse a política partidária que escraviza o bom senso e a idoneidade de agentes públicos, uma das primeiras medidas anunciadas por Luiz Marinho antes de deixar apenas por formalidade a presidência para Gabriel Maranhão, de Rio Grande da Serra, seria a completa inspeção de projetos aprovados e em execução que envolvessem o grupo de 23 empresas da lista negra da Petrobras, anunciada em dezembro do ano passado.


 


Como esperar do petista que comanda a principal Prefeitura da região algo que colida com interesses partidários, políticos e principalmente com o projeto de hegemonia do viés sindicalista na gestão pública regional? Luiz Marinho não se move a qualquer direção sem que preste contas ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Sem contar que está amarradíssimo também a esquemas perpendiculares que o levaram a eleger-se prefeito em 2008. Imaginava-se e se proclamava, então, capaz de empreender surpreendentes alterações no figurino municipal e regional da Província do Grande ABC. Tudo até descobrir que as cordas de que precisou para subir o morro da vitória são as mesmas cordas que o amarram a esquemas condenados no passado que prometia combater. 


 


A Operação Lava Jato e as consequências preliminares conhecidas de todos, e, mais que isso, as possibilidades que embute de destruir redutos políticos perniciosos na gestão de dinheiro público nos mais diferentes endereços, inclusive da Província do Grande ABC, chocaram a cúpula petista na região. Algumas iniciativas diversionistas já se tentaram para sugerir que o ambiente regional não se alterou desde que ex-diretores da petroleira botaram a boca no trombone de irregularidades. Tudo em vão, apesar do pouco empenho da mídia regional em inserir a geografia da Província no esquema que se espalhou por distintas parcelas do território nacional, além de internacional. Há fios condutores que ligam gestores locais às áreas mais sensíveis e comprometidas da Petrobras.


 


Quem vai cobrar?


 


Pena que não se tenha a completa extensão oficial dessas relações. Em nenhum instante prefeito algum da região avançou um passo sequer para propor que se fizesse levantamento que interligasse a constelação de empreiteiras denunciadas na Operação Lava Jato aos orçamentos municipais dos sete municípios.  Tanto em obras já deflagradas quanto em obras que ultrapassaram o terreno de projetos e ganharam corpo em forma de licitações ou pré-licitações.


 


Como não existe na Província do Grande ABC qualquer instância a antepor-se às travessuras com dinheiro público tanto no varejismo de negociatas em forma de obras e serviços realizados apenas e tão somente na formalidade de emissão de notas fiscais fajutas como em grandes operações, o que resta mesmo é esperar por fatores extraterritoriais.


 


Se depender do Clube dos Prefeitos qualquer iniciativa restauradora da moralidade pública em momentos como os atuais, em que vicejam informações sobre o estoque de estragos potenciais da Lava Jato na região, estaremos perdidos e mal pagos.


 


Não interessa a ninguém botar a mão na cumbuca entre outras razões porque se espalha a versão de que a repercussão atingiria a todos, indistintamente. Talvez a generalização não seja o melhor caminho para se fazer justiça, mas bastam alguns poderosos de plantão envolvidos nos esquemas da petroleira para que os demais permaneçam em silêncio que mescla constrangimento e conveniência.


 


Não faltarão idiotas de plantão que anotarão com desdém a sugestão de o Clube dos Prefeitos assumir a condição de porta-voz da medição dos abalos sísmicos provocados pela Operação Lava Jato na região, atribuindo à entidade funções sem parentesco algum com a mistura de gestão de dinheiro público e o noticiário policial.


 


Estarão todos certos na interpretação dos valores estatutários daquela entidade se prevalecer o conservadorismo ditado pela esperteza e pelo espirito de sobrevivência. Estarão todos desmascarados se o critério de regionalidade explícito do Clube dos Prefeitos for extensivo à transparência entre as unidades municipais que o compõem.


 


Cobrar a iniciativa de Luiz Marinho, prefeito de fato do Clube dos Prefeitos, é mesmo uma forma de dizer aos leitores que não acreditamos na possibilidade de o petista assumir posição de liderança quando a tendência é de cortar a própria carne de vantagens adquiridas. 


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