Política

O que a pesquisa do DataDiário
revela sobre próximas eleições?

DANIEL LIMA - 02/03/2015

Ainda é muito cedo para levar a ferro e fogo os números da pesquisa do DataDiário sobre a preferência e o desencanto dos eleitores com vistas às eleições em outubro do ano que vem, mas não custa especular. Ainda faltam 16 meses para as urnas eletrônicas receberem votos, muita água de eventuais alterações no cenário político e econômico vai correr sob a ponte do ponderável e do imponderável, mas não resisto a breve apanhado sobre o que considero mais relevante em relação ao que o Diário do Grande ABC publicou na edição de ontem.

 

O jornal acerta em cheio quando promove essas rodadas de pesquisas. Se há algo comprovadamente a gerar audiência são os números dessas investigações. Mas mesmo assim acho que a margem de erro de cinco pontos percentuais é exagero que precisaria ser demolido. Esse conceito técnico é tão favorável à elasticidade interpretativa que tudo pode ser arguido pelos candidatos.

 

Acho que os números de Santo André deveriam gerar imediata reação de um gabinete de crise que a Administração Carlos Grana teria para apagar incêndios, quando não para saber a extensão do fogaréu. Perder de Aidan Ravin por 24,0% a 14,5% é de lascar. É muita diferença, mas nada surpreendente. Primeiro porque Aidan Ravin tem eleitorado fixo após mandato empobrecedor mas sempre expositivo. Segundo porque Carlos Grana vai mal das pernas e, certamente, como os demais petistas, foi atingido em cheio pela roubalheira na Petrobras.

 

Para variar, Raimundo Salles aparece em terceiro lugar, com 13% das intenções de votos. O ex-secretário de Cultura de Carlos Grana parece especializar-se no papel de coadjuvante eleitoral. Nada mais consequente, porque insistiu no passado em desempenho partidário errante. Para dizer o mínimo. O que poderia levar Raimundo Salles a ameaçar mais de perto os favoritos Aidan Ravin e Carlos Grana seria a taxa de rejeição, de apenas 7,8%, contra 29,5% de Aidan e 27,5% de Grana. Se eleição fosse decidida pelo saldo de votos consumados e rejeição medida, Raimundo Salles contabilizaria o primeiro lugar na pesquisa do DataDiário. O problema de Salles é que eleição se ganha com maior número absoluto de votos. Governabilidade se constrói com vitória, seja qual for a marca de rejeição.

 

Um quatro concorrente à Prefeitura de Santo André obteve números decepcionantes no DataDiário: apesar da exposição midiática de dois anos e à frente de uma pasta supostamente importante, que lida com qualidade de vida urbana em forma de mobilidade, Paulinho Serra registrou apenas 6% dos votos. A salvá-lo está o apenas 1,5% de rejeição. Mas a conclusão é que Paulinho Serra está muito longe do pretendido quando se bandeou à candidatura de Carlos Grana em 2012.

 

Manente na frente

 

Em São Bernardo, segundo o instituto de pesquisas do jornal, Alex Manente lidera os dois cenários propostos, contra Tarciso Secoli e Luiz Fernando Teixeira do PT. Os 39,3% de Manente no melhor dos cenários é surpreendente, porque está bem à frente de Orlando Morando, com 22,8%. O desempenho eleitoral em São Bernardo de Morando a deputado estadual foi superior ao de Manente a deputado federal. O tucano encontrou adversários locais bem mais competitivos do que Manente.

Talvez a explicação para a diferença seja que Manente é menos dogmático na oposição ao PT do que Morando. Uma vantagem comparativa do candidato do PPS que poderá se tornar desvantagem na medida em que se consolidar trajetória de demonização do PT.

 

Assustadores são os números da rejeição a William Dib, ex-prefeito por seis temporadas: são 34,3% dos eleitores ouvidos que não votariam no tucano. Muito mais que os 13,3 de Orlando Morando. Também foi mal no ranking de rejeição o petista Luiz Fernando Teixeira, com 11,3% de apontamentos. Mais que o dobro dos 6,5% dos eleitores que o escolheram candidato ideal. Alex Manente somou apenas 9,3% de rejeição. William Dib paga o preço de dois mandatos e do antipetismo que cultivou. Um antipetismo que parece ter ficado no passado, embora falte combinar com o eleitorado avermelhado.

 

Pinheiro atolado

 

Rejeitadíssimo também está o prefeito Paulo Pinheiro, de São Caetano. São 35,3% dos eleitores, contra 21,3% do ex-prefeito José Auricchio Júnior. A desvantagem de Paulo Pinheiro se consolida nos votos válidos perscrutados pelo DataDiário: são 33,8% favoráveis a José Auricchio e apenas 17,5% ao atual prefeito. O saldo entre votos favoráveis e votos de rejeição coloca Auricchio como favorito ao Palácio da Cerâmica. Os 8,3% do ex-vereador Gilberto Costa, terceiro mais indicado pelos entrevistados, são uma marca pouco expressiva. Do outro lado da faixa de segurança ele aparece com 10,8% de rejeição.

 

Em Diadema, o desgaste do prefeito Lauro Michels parece notório com 25% de apontamentos de rejeição, ante 17,3% do ex-prefeito José Augusto da Silva Ramos, 16,5% de José de Filippi Júnior e 15,3% de Mario Reali, igualmente ex-prefeitos. Nos dois cenários do DataDiário o prefeito Lauro Michels fica em segundo com 19,5% e 19,3% dos votos válidos. No primeiro, Filippi lidera com 25% e no segundo, com Mário Reali como candidato petista, o tucano José Augusto da Silva Ramos está na dianteira com 19,8%. Um jogo embaralhadíssimo em Diadema. Nada que rompa a história de combates parelhos. Diadema talvez seja a única cidadela regional onde a afirmação de que o PT tem possibilidades imensas de vitória no ano que vem não soaria como heresia. O passado mesmo que contraditório da gestão de esquerda explicaria o fenômeno.

 

Vanessa lidera

 

O nível de rejeição a Donisete Braga em Mauá, muito acima do registrado por Vanessa Damo, (30% contra 17,8%) talvez seja a maior preocupação do petista rumo ao segundo mandato. Os dois cenários apresentados pelo DataDiário colocam a peemedebista Vanessa Damo na liderança, com 23,3% e 25% dos votos. Donisete Braga vai dos 18,8% quando tem além de Vanessa também Atila Jacomussi como adversário aos 19,3% quando Jacomussi é substituído por Diniz Lopes.

 

O futuro de eventuais composições, uma tradição na política de Mauá, decidirá a disputa no ano que vem. Atila Jacomussi parece ser mais fiel da balança do que Diniz Lopes: enquanto reúne 16% de intenção de votos, com rejeição de apenas 3,5%, o concorrente do PR registrou apenas 4,3% de intenção de votos contra 18,5% de recusa do eleitorado.

 

Em Ribeirão Pires quem está na frente é o jovem Edinaldo Dedé de Menezes, do PPS, com 21,5% e 24,8% dos votos nos dois cenários. No primeiro, o ex-prefeito Clovis Volpi aparece como concorrente pelo PTB. No segundo, o ex-prefeito de Rio Grande da Serra, Kiko Teixeira, do PSC, é quem surge na proposta do DataDiário. Os 17,3% destinados a Clovis Volpi podem seduzir o ex-prefeito a voltar ao Paço Municipal. Já os 16,5% a Maria Inês Soares, do PT, parecem ser o limite da ex-prefeita com elevada índice de rejeição (18,3%). Nada que se compare ao atual prefeito, Saulo Benevides, com 47,5%.

 

Kiko na cabeça?

 

Saulo Benevides é um caso a ser analisado mais detidamente. Como um prefeito com a disponibilidade da máquina pública registra apenas 7% de votos a 16 meses das eleições e praticamente sete vezes mais de rejeição?  Já os 13,5% de votos a Kiko Teixeira não parecem, inicialmente, volume suficiente vivo para tentar vencer uma disputa em terra estranha.

 

Mas, por outro lado, em se tratando de Rio Grande da Serra, onde foi prefeito durante oito anos, os 49% que Kiko Teixeira registra num dos cenários lhe dão a condição de franco favorito. Com ele, Claudinho da Geladeira, do PT, fica muito distante em segundo lugar, com 28% dos votos. Sem Kiko Teixeira, num dos cenários, Claudinho da Geladeira soma 36,5%. O prefeito Gabriel Maranhão se dá mal no cenário em que aparece como candidato, com 24,5% dos votos.

 

Estranhamente o DataDiário não manteve Gabriel Maranhão no cenário em que Kiko Teixeira é candidato. A rejeição a Gabriel Maranhão é de 29,5%, contra 23,8% a Valmir Copina, do PMDB, e 22,8% ao petista Claudinho da Geladeira. Kiko Teixeira tem 10%. Parece claro que a candidatura de Kiko Teixeira é imbatível em Rio Grande da Serra. Será que ele vai trocar o certo de um pequeno Município pelo duvidoso (eleitoralmente) de um vizinho mais poderoso? 



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