A matéria que o Diário do Grande ABC publicou na edição de hoje sobre a vice-prefeita e secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Oswana Fameli, poderia ter sido acompanhada de sugestão aos leitores. Todos deveriam recorrer ao Google para capturar uma antiga marchinha de Carnaval. “Apareceu a Margarida, olé, olé, olá” ficaria bem como fundo musical.
Afinal, Oswana Fameli voltou às manchetes após longo inverno de abstinência incompreensível para quem não saía do noticiário, embora pouco fizesse para justificar tamanha e persistente exposição.
Antes que os maledicentes interpretem essa observação com viés da velha e surrada sustentação maliciosa de que estou aqui apenas para mandar o pau, com o perdão da simplicidade que expressa o raciocínio dos rasos, recorro a uma frase cortante, instigante, monumental, que acabo de ler na Folha de S. Paulo de hoje, a qual resume o estado de espírito com que desenvolvo minha função social de não dar trégua aos enganadores da praça e também de reconhecer os poucos e bons exemplos a serem seguidos.
Aliás, não foi por outra razão que comandei o Prêmio Desempenho, o maior evento regional do País durante 15 anos, e que proporcionou a entrega de 1.718 troféus de reconhecimento. De vez em quando faço questão dessa lembrança porque os predadores que tentam me estigmatizar como um mal a ser eliminado não podem ficar sozinho num jogo sórdido mais que semântico, porque objetivamente abjeto.
Declaração sábia
Vamos então ao que li na Folha de S. Paulo de hoje e que arrasa inclusive com boa parte dos coleguinhas que não passam de lustradores de botas de inúteis sociais. Sob o título “Debatedores divergem sobre futuro do jornal”, a matéria do jornal paulistano dá destaque a uma frase de Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e um dos raros acadêmicos com capacidade de executar a função jornalística. O que disse Bucci? Leiam: “Sem contra-poder não há sociedade livre. Nós precisamos de grandes redações independentes”.
Preciso acrescentar alguma coisa ou estamos conversados? Pois, com variáveis de conteúdo sempre agregado ao conceito extremamente bem destacado pelo professor da USP, tenho procurado manter esta revista digital. Não é tarefa fácil. Principalmente porque os fatos são tremendamente desestimulantes.
Diferentemente disso, os opositores encardidos me fornecem energia regenerativa para seguir em frente. Talvez sem eles já tivesse jogado a toalha.
A reportagem de hoje do Diário do Grande ABC com Oswana Fameli é uma situação própria de desestimulo profissional. Mais uma vez o Polo Tecnológico de Santo André volta á agenda. É uma promessa que vem de longe, de muito antes de o prefeito petista Carlos Grana ganhar a Prefeitura com um terço dos votos disponíveis na praça.
Modelo ultrapassado
O que assusta é a cara de pau dessa proprietária de estabelecimento de ensino ao reaparecer em cena após um tempão atingida por surpreendente apagão midiático. Oswana Fameli é sustentada pela Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), entidade cuja história de representatividade ao desenvolvimento econômico de Santo André com a produção de propostas, análises, projetos e o escambau equivale à destreza com que o já ex-ministro de Educação de Dilma Rousseff, Cid Gomes, manejou a diplomacia nas relações com o Legislativo Federal.
O jornalismo reprodutor passivo de informações de terceiros é o jornalismo da acomodação. Não afirmo que exista dolo em praticamente avalizar novas e desgastadas informações de uma secretária de Desenvolvimento Econômico sem qualquer intimidade com a pasta. O que existe é um modelo de informação do qual não apenas o Diário do Grande ABC é parte integrante. Tornou-se lugar comum na mídia nacional.
As declarações praticamente sem contra-argumentação informativa da secretária municipal de uma Administração completamente nula no setor de desenvolvimento econômico estimula os leitores acomodados, desinformados ou absolutamente ingênuos a imaginar que algo de novo se oferece à sociedade – e que esse algo de novo seria a panaceia para todos os males do Município.
Não vou entrar nos detalhes da reportagem do Diário do Grande ABC que ressuscita publicamente uma secretária inútil que, nos últimos noticiários, foi colocada como moeda de troca para a recomposição das relações de controle do Legislativo pelo Executivo de Santo André. A desmoralização da pasta de Desenvolvimento Econômico chegou ao ponto – e isso, a bem da verdade, vem de longe, de antecessores de Carlos Grana – que o vereador Ailton Lima, um dos opositores do Paço Municipal, recusou a oferenda granista. Ele prefere apostar no aparentemente salto no escuro do mercado de votos ao comando da Prefeitura de Santo André, ano que vem.
Peso pouco importante
O lastimável é que Oswana Margarida Fameli presta-se ao papel de reencontrar-se com os holofotes da mídia requentando uma temática desgastada e que, mesmo que alcance o primeiro dos patamares propostos, no caso a sacramentação burocrática do Polo Tecnológico, não oferece a menor garantia de recuperação do tecido econômico de Santo André, mais especificamente da atividade industrial.
Santo André não é lanterninha nos indicadores dos últimos 20 anos do PIB Industrial do G-20 (o grupo dos 20 municípios mais importantes do Estado de São Paulo, exceto a Capital) por obra do espírito santo. A sucessão de fracassos administrativos do Poder Público e de acovardamento, quando não de submissão de entidades de classe empresarial, está na raiz dessa derrocada.
Não seria um Polo Tecnológico de ação seletiva que resolveria o problema, embora a secretária que reapareceu na praça procure vender a iniciativa como salvação da lavoura.
A Margarida da marchinha de Carnaval era mais efusivamente promissora que a Margarida da Administração Carlos Grana.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ