Política

Sem Petrolão, como serão as
eleições na Província em 2016?

DANIEL LIMA - 27/03/2015

O PT vai encontrar muito mais dificuldades nas eleições municipais do ano que vem do que transpareceram as urnas nos resultados à Presidência da República e ao governo do Estado em outubro do ano passado. Além de novo desgaste, após os desbastes do eleitorado pós-mensalão, desta vez não serão apenas as investigações e as mais que prováveis penalidades aos indiciados do escândalo da Petrobras que afetarão a agremiação no berço esplêndido que a embalou.


 


Acabou a farra do milionário sistema de financiamento de campanhas eleitorais petistas e de aliados na região com dinheiro da rede de fornecedores da estatal.  O mercado imobiliário é extraordinariamente ávido por contrapartidas, mas a maré também não deverá ajudar. Os mercadores imobiliários estão às voltas com uma recessão brava que reduz, aos poucos, a especulação por metro quadrado.


 


Provavelmente o prefeito Luiz Marinho, chefe da companhia partidária na região, deve estar a arrancar os cabelos fartos como a arrogância para tentar minimizar os estragos mais que prováveis na próxima temporada de votos. A ressonância da Petrobras não estará limitada a desdobramentos criminais. A coalizão de forças que deram ao PT 12 anos de extremas facilidades ambientais para comandar o País virou bumerangue ante a lógica salvacionista de que ninguém gosta de carregar caixão de defunto.


 


A presidente Dilma Rousseff está sendo rifada principalmente pelos peemedebistas e só resiste à tentação da renúncia porque é teimosa e não pretende, segundo sua ótica, manchar o currículo de revolucionária que acabou no Irajá.


 


Com o quadro macroeconômico nacional em frangalhos, porque o PIB vai embicar mais que em qualquer outro dos últimos 15 anos, e indicadores sociais convergindo para a antítese das propostas do governo federal, de contínuos avanços, o que restaria aos candidatos petistas na região?


 


A resposta mais plausível seria um cardápio de obras realizadas com recursos do Plano de Aceleração do Crescimento. Entretanto, como o PAC também está indo para o vinagre na região, na esteira do esquartejamento do orçamento federal baleado ao longo dos últimos anos pela artilharia populista liderado pelo então presidente Lula da Silva, pouco se apresentará de efetivo em forma de obras.


 


Falsos profetas


 


Não faltam falsos profetas de que eleições municipais têm realidade diametralmente oposta do quadro nacional, mas, como escrevi de passagem ainda outro dia, essa interpretação não passa de generalização inadequada. Nas áreas metropolitanas, principalmente em geografias mais consolidadas pela classe média formadora de opinião, caso desta Província, a contaminação da situação estadual e principalmente nacional é automática. Votam-se largamente em candidatos da oposição.


 


No caso atual, dada a centralidade destruidora da imagem do PT como organização política a quem não se deve confiar a gestão de recursos e propriedades públicas, é mais que previsível a repetição com dados ainda mais graves do desastre eleitoral de Dilma Rousseff no Sudeste do País, especialmente no Estado de São Paulo.


 


Seria surpreendente se vetores municipais interferissem de tal maneira a ponto de levarem o eleitorado a esquecer o que se passa principalmente em nível nacional. A mais recente pesquisa do Datafolha desmoralizou a ideia do prefeito Luiz Marinho e de tantos outros sem-argumentos de que as manifestações de 15 de março seriam exclusivas de eleitores que votaram na oposição em outubro. Até no Nordeste que o PT imagina propriedade eleitoral intransferível é majoritariamente opositor a Dilma Rousseff. Imaginem então na Província do Grande ABC, onde a petista apanhou feio no ano passado.


 


O grau de influência de fatores municipais tem peso bastante representativo, é verdade. Diria que até majoritário, mas não suficientemente sufocador do quadro extra-região. Ainda mais nestes tempos em que as redes sociais despersonalizam uma regionalidade e uma municipalidade ainda deficientes e boa parcela dos moradores trabalha e estuda fora dos municípios em que reside, como mostrou mais uma vez o IBGE nesta semana.


 


Esses deslocamentos diários típicos de metrópoles favorecem o compartilhamento e a propagação de opiniões, ideais, desassossego e tudo o mais. O eleitor metropolitano exerce sobre si mesmo, eleitor municipal, algo como uma cobrança permanente de melhoria de vida que transcende, embora não neutralize, as preocupações exclusivas com o território em que se recolhe para morar.


 


E as coligações?


 


A massa critica de competências para multiplicar fontes de financiamento eleitoral certamente está sendo duramente dolorosa ao PT, mas isso não significa que a aridez será total, sobretudo onde a agremiação está direta ou indiretamente no poder. Aliás, fora do poder de verdade o PT está apenas na maior das cidadelas que construiu na região, no caso Diadema. Nos demais municípios os acordos com o PMDB foram estratégicos. São Caetano e Ribeirão Pires contaram com forte influência petista em 2012. Redutos conservadores, quando não deliberadamente antipetistas, foram levados a sufragar candidatos lubrificados pela máquina de recursos financeiros abundantes.


 


Fico a imaginar com meus botões qual seria a estratégia regional do PT para os enfrentamentos municipais no ano que vem. Se no passado recente houve registros de fissuras entre caciques petistas da região porque o mais poderoso de todos controlou os cordéis mais importantes, o que acontecerá no ano que vem quando provavelmente a regionalidade de arrecadação estará dinamitada com o escândalo da Petrobras?


 


Um dos sintomas mais ingenuamente explicitados de que o PT regional vive turbulência na esteira da Petrobras e da rede de fornecedores colhida em delitos com a estatal foi publicado ainda outro dia na mídia regional pelo agora deputado estadual Luiz Fernando Teixeira. Até recentemente apontado como candidatíssimo à sucessão de Luiz Marinho, do qual é parceiro desde muito tempo, eis que o petista se antecipou precipitadamente para anunciar que jamais pretendeu ocupar o Paço Municipal.


 


Luiz Fernando Teixeira agiu politicamente com a habilidade racional do piloto que ainda outro dia levou 150 pessoas a mergulhar nos alpes franceses, porque não só se manifestou fora de hora como também num contexto de artilharia pesada contra roubalheiras na Petrobras e, especificamente, sobre a empreiteira OAS, que mantém contratos milionários com a Prefeitura de São Bernardo.


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