Administração Pública

Que tal comemorar aniversário da
cidade com sabatina do prefeito?

DANIEL LIMA - 10/04/2015

Pensei no que vou escrever agora após ler as entrevistas que o prefeito Carlos Grana concedeu à mídia da região e que compuseram as edições especiais de aniversário de Santo André. Na maioria dos casos o que se apresentou ao petista, como se apresenta normalmente a prefeitos de todas as cores partidárias ou interpartidárias, foi um convite a fazer gol de placa. O sentido crítico que deveria permear o encontro foi jogado às traças. Até parece que existe uma cláusula pétrea no relacionamento entre jornalistas e autoridades públicas que expressa proibição a qualquer manifestação senão contestatória pelo menos indelicada em encontros do tipo na semana de aniversário dos municípios. Como se já não houvesse cláusula pétrea que estende as oferendas a todos os dias e meses de cada temporada.


 


O que vou sugerir não é aberração alguma se o conceito de democracia fosse levado adiante não como farsa mas como autenticidade participativa. Já imaginaram se a cada aniversário os prefeitos da região  reunissem no espaço mais apropriado da municipalidade algumas centenas de contribuintes para questionar pessoalmente, frente a frente, o chefe de Executivo de plantão? Não existe nada de abusivo na proposta. Até o ditador russo Vladimir Putin tem um encontro anual com a população e, pelas informações da mídia, não se trata de jogo de cena. São postos à prova tanto o conhecimento como também os nervos do presidente. Não se sabe exatamente o que ocorre depois do evento, mas Putin sofre um bocado ante algumas questões menos conciliatórias.


 


Compromisso legal


 


Vou mais longe ao que proponho e que poderia até virar lei se os parlamentares dos respectivos legislativos municipais não fossem em grande parte carneirinhos à disposição do chefe de Executivo da hora. Proporia que todos os prefeitos da região assinassem um termo de responsabilidade se comprometendo a não só estarem à disposição dos contribuintes durante pelo menos três horas de sabatina durante a semana de aniversário de cada Município como também, na semana de aniversário de fundação do Clube dos Prefeitos, estivessem todos reunidos, reunidíssimos, para responder às questões regionais a um grupo também expressivo de eleitores.


 


Já imaginaram o quanto esse gesto de transparência significaria à imagem dos políticos da região já que iniciativa dessa ordem não se tem notícia nesse Brasil varonil? E vejam que não se trata de nada extravagante, nada fora do esquadro do bom senso e da cidadania. O lamentável é exatamente o que temos tradicionalmente, de completo afastamento dos prefeitos da comunidade a que deveriam servir.


 


A relação com a mídia é muito importante, porque os jornalistas representam a intermediação entre os poderes estabelecidos e a sociedade, mas que haveria um ambiente muito menos amistoso e mais contributivo a permear esses encontros anuais, não tenho dúvida.


 


Duvido que algum parlamentar da região ouse apresentar um projeto que transforme essa proposta em lei. Fosse prefeito não me esquivaria de tomar a iniciativa, independentemente inclusive do legislativo, nomeando comissão com prazo definido para definir regras básicas ao encontro das águas com a sociedade. Em nome da transparência e do direito à informação -- mesmo que a informação seja potencialmente explosiva, chefe de Executivo algum deveria descartar a medida.


 


A grande dificuldade que na maioria dos casos os prefeitos encontram para se comunicar com a sociedade é que os marqueteiros que lhes servem são extremamente arbitrários. Eles esculpem muitas vezes com instrumentos mistificadores perfis de prefeitos que não passam de artifício moldado conforme as regras-padrão costuradas para engabelar o distinto público. É cada vez menos provável que se encontre um chefe de Prefeitura, de governo de Estado e de governo federal que não tenha parentesco comportamental com marionetes de especialistas em driblar a mídia. Tudo em nome da governabilidade, que não passa de conversa para boi dormir.


 


O manual de como sustentar uma imagem a salvo de questionamentos que não comportem ensaios exaustivos é um mantra dos administradores públicos. Para que arriscar a reputação de um prefeito, por exemplo, expondo-o a um conjunto de representantes da comunidade previamente organizado para tocar em pontos provavelmente suscetíveis de uma administração, se deixar como está é muito mais vantajoso?


 


Marinho rabugento


 


Tenho cá comigo que o prefeito Carlos Grana se daria relativamente bem nas sabatinas, por mais que enfrente dificuldades em provar que realizou metade do plano de governo que o levou ao Paço de Santo André. Provavelmente o prefeito Donisete Braga, de Mauá, seria suficientemente diplomático para minimizar questões com potencial de estragos. De Paulo Pinheiro e sua imensidão de calma não se esperaria algo diferente. Sobre a situação de Lauro Michels, de Diadema, tenho cá minhas dúvidas. Ele não encararia com finesse as pedras no caminho que certamente lhe jogariam.


 


Já a projeção sobre o comportamento de Luiz Marinho, de São Bernardo, só fugirá do alvo avaliativo provável quem acreditar que ele terá fair-play ante, por exemplo, a ideia maluca de construir um aeroporto internacional na região de proteção ambiental. Marinho foi cevado nas lides sindicalistas sempre tendo a retaguarda de uma categoria pronta para a greve. É verdade que exercitou mandatos no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sugerindo que não era adepto de rabugices, mas o tempo e o cargo no Executivo de São Bernardo provaram que em situações em que se apertam os calos de contraditórios indesejáveis, Luiz Marinho sobe nas tamancas verbais e acaba vitimado pela escuridão analítica.


 


Fica, portanto a sugestão aos vereadores e também aos prefeitos da região: quem vai dar o primeiro passo para encarar o eleitorado dos respectivos municípios uma vez por ano, durante os festejos de aniversário, e também uma vez por ano, todos juntos, pra-frente Província do Grande ABC, diante de representantes dos sete territórios locais?


 


Não venham com papo furado de que dia de aniversário é dia somente de festa. Isso pode valer para a individualidade dos prefeitos, mas quando se trata da integridade histórica de cada Município, há muito que se expor em nome da cidadania. Estou farto dos cadernos especiais nas datas festivas. Esse levantar de bola para gol de placa se repete todo ano com o mesmo viés de improdutividade. 


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