Administração Pública

Vezo autoritário de Luiz Marinho
aparece sempre na hora do aperto

DANIEL LIMA - 15/04/2015

Querem ver ou ler o prefeito Luiz Marinho entregar a rapadura de suposto conciliador, fama que trouxe do ambiente sindical porque o ambiente sindical e por demais refratário ao contraditório -- ainda mais o ambiente sindical do setor automotivo? Querem ver ou ler o prefeito Luiz Marinho saltar das tamancas da imagem de equilibrado emocionalmente que os petistas sempre cultivaram por interesses outros?


 


Basta que se lhe aperte o calo do contraditório ou de uma notícia desagradável. O que disse na edição de hoje do Diário do Grande ABC sobre as suspeitas de que o projeto Gripen incorpora corrupção, como desconfia o Ministério Público Federal, que instaurou inquérito para investigar se houve superfaturamento, é uma joia da princesa em matéria de radicalismo.


 


Vamos então, senhores e senhoras leitores, ler o que disse o prefeito de São Bernardo, envolvidíssimo nas negociações que culminaram no bilionário contrato com a empresa sueca Saab:


 


 É uma coisa ridícula, um jornalista faz uma matéria, fazendo ilações, e um promotor resolver abrir investigação. É uma irresponsabilidade por parte da grande imprensa. Temos que aprovar no Congresso. E agora como o Parlamento aprova com investigação aberta? Eu chego a achar que isso responde a interesses internacionais – disse o prefeito petista.


 


Corrupção apoiada


 


Vamos a um caso de corrupção cristalizada, com a participação de Luiz Marinho, para lhe responder sobre a que endereço deveria ser enviado um atestado de irresponsabilidade, se à grande imprensa à qual se refere ou a ele próprio.


 


Na condição de prefeito de São Bernardo Luiz Marinho mandou dizer ao Ministério Público que não houve maracutaia no escandaloso leilão da área pública de quase 16 mil metros quadrados arrematada pela MBigucci em flagrante delito com as construtoras Braido e Even. A gestão de Luiz Marinho cometeu um ato irresponsável porque o comunicado ao MP não condiz com os fatos, já que o edital de licitação foi flagrantemente usurpado pela quadrilha que encenou o arremate daquele terreno que hoje serve à construção do empreendimento Marco Zero.


 


Ou seja: quando pergunta a respeito dos caças suecos (“E agora, como o Parlamento aprova com investigação aberta?”) Luiz Marinho cai em completa contradição, porque lhe poderia ser indagado claramente: como a gestão de São Bernardo aprova a negociata do Marco Zero se as provas documentais que constam do processo encaminhado ao Ministério Público confirmam que houve flagrante irregularidade?


 


Talvez o prefeito de São Bernardo esteja mesmo é muito preocupado com os desdobramentos da compra dos caças, temeroso de que possa ser confundido com as 36 unidades que custarão US$ 5,4 bilhões aos cofres federais. Até agora, para ser reto e direto, o petista não veio a público para responder a uma das pontas do imenso novelo de indagações que o negócio enseja, porque faltou sobretudo transparência.


 


Que pergunta é essa? Simples: o que fazia seu inseparável companheiro de viagens à Suécia, o advogado Edson Asarias, conhecido nos bastidores da Prefeitura de São Bernardo como um agente paralelo da administração petista? Edson Asarias não é, portanto, um advogado qualquer. Ele presta serviços profissionais à Inbra, empresa com sede em Mauá contemplada com uma parceria com a Saab para construir uma filial em São Bernardo, empresa que ficará responsável pela parte tecnologicamente mais pobre do Gripen, a fuselagem.


 


Aliás, as relações entre Luiz Marinho, Edson Asarias e a fábrica contemplada pela Scania são algo a ser igualmente investigado pelo Ministério Público Federal. Alguns fios desencapados de supostos privilégios provavelmente eletrocutariam muitos personagens metidos nas negociações mais que obscuras.


 


Quebrando a cara


 


O prêmio de consolação que Luiz Marinho obteve no lobby com as forças que comandaram as negociações para que o contrato com os suecos fosse encaminhado não pareceria assim tão pouco importante. A bem da verdade, Luiz Marinho não saiu cantando prosa para transformar a fábrica anunciada em São Bernardo como uma conquista extraordinária, embora se excedesse no contingente previsto de trabalhadores. Disse Marinho que seriam cinco mil empregos na fábrica, o que o alçou a mais um registro no Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital. Mais tarde, alertado sobre a linguagem ituana, reduziu o universo de trabalhadores a mil profissionais.


 


Adoro de verdade quando leio declarações de Luiz Marinho. Uma atrás da outra compõem uma linha regular em termos de lógica e coerência quando esses predicados são relacionados à defasagem na capacidade de se expressar com bom senso. Marinho é coerentemente um prefeito de ideias e expressões que se encaixam no manual de besteiras que assolam o País.


 


Ainda outro dia ele quebrou a cara da estultice ao se referir antecipadamente sobre as manifestações de 15 de março como um ato dos privilegiados da sociedade. Se ferrou, porque mais e mais o Datafolha mostra que a credibilidade do governo Dilma Rousseff está ao rés do chão, inclusive no Norte e no Nordeste onde, antigamente, quem mandava era a Arena, linha auxiliar dos militares. Tanto é verdade que a renúncia branca da presidente já se confirmou com o controle político do PMDB e o controle econômico de viés neoliberal, segundo os esquerdistas, ou providencial, segundo os sensatos.


 


Caminhada errática


 


A transposição do sindicalista Luiz Marinho para o prefeito Luiz Marinho tem-se mostrado superfície extraordinariamente acidentada. O prefeito imaginou que o cargo não lhe ofereceria diferença alguma em relação ao que praticou no passado à frente dos trabalhadores e principalmente nos contatos diplomáticos com as montadoras de veículos, sequestradas há muito tempo por ameaças de greves.


 


Entre a suposta democracia imposta pelo sindicalista à democracia exigida pelo conjunto da sociedade há um intervalo à reflexão e à exigência de novos padrões de comportamento. 


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