Administração Pública

Gestão Luiz Marinho é poço
sem fundo de desconfiança

DANIEL LIMA - 24/04/2015

A manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) do Diário do Grande ABC de hoje é praticamente uma peça de acusação. E que peça! Nada mais lógico. Quando imprime na vitrine maior da publicação que “Irmão de Romero Jucá tem contrato milionário com gestão Luiz Marinho”, somente os ingênuos, os ignorantes, os alienígenas e os petistas até a raiz do fio de cabelo diriam que se trata de perseguição do jornal. Luiz Marinho é um poço sem fundos de desconfiança. Por isso, tudo que o coloque sob suspeição não pode ser desconsiderado. Muito pelo contrário. É prenúncio de que há complicações.


 


Leiam o que afirma a matéria do Diário do Grande ABC de hoje, na chamada de primeira página:


 


 Empresa de Álvaro Jucá, irmão do senador Romero Juca (PMDB-RR), faz parte de consórcio que recebeu R$ 27,8 milhões da Prefeitura de São Bernardo desde 2011, sendo R$ 2,9 milhões apenas nos três primeiros meses deste ano. A companhia foi contratada pela gestão Luiz Marinho (PT) para dar apoio técnico em obras de mobilidade urbana. Consórcio Sondotecnica/Diagonal, inclusive, é alvo de diversas investigações do Ministério Público Federal, da Promotoria de Roraima e da Procuradoria Geral da República, que apuram suposta influência política nos acordos com o poder público – escreveu o jornal.


 


Na página interna, sob o título “Marinho pagou R$ 27,8 milhões a empresa de irmão de Romero Jucá”, pinço alguns trechos bastante instigantes:


 


 Integrante da parceria, a Diagonal Empreendimentos e Gestão de Negócios Ltda pertence a Álvaro Jucá, irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-líder do governo de Dilma Rousseff (PT) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Senado. Em quatro anos, a companhia já recebeu R$ 27,8 milhões dos cofres públicos são-bernardenses – escreveu o jornal. 


 


Romero na Lava Jato


 


Só faltou o Diário do Grande ABC dizer que Romero Jucá integra a relação de suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras. O nome do senador apareceu em depoimento de delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Jucá foi citado, segundo publicou o Estadão de 15 de março último, em uma relação de outros 27 políticos que, segundo o ex-diretor, seriam beneficiários do esquema.


 


Luiz Marinho não pode reclamar porque o Diário do Grande ABC tratou o assunto em manchetíssima com viés de denúncia sobre os rumos do dinheiro público liberado àquele consórcio de empresas. Fosse um administrador público razoavelmente diligente e que fizesse dos discursos de ex-sindicalista pedra angular de comportamento, há muito Luiz Marinho teria convocado a mídia para se explicar ante a avalanche de informações de bastidores que o colocam como participante do esquema da Petrobras.


 


Basta citar que uma das empresas mais atingidas pela Operação Lava Jato, a OAS, mantém contratos milionários com a gestão de Luiz Marinho. Contratos não só milionários mas também contestáveis pelas características muito associadas à matriz de inconformidades de relacionamento do chamado Clube das Empreiteiras com a Petrobras.


 


Amante da escuridão


 


É claro que a proposta de tornar transparente a gestão de Luiz Marinho é apenas uma brincadeira séria. O petista é avesso, totalmente avesso, a qualquer coisa que lembre compromisso com a democratização de informações. Ele ainda se sente sindicalista, suposto herdeiro de Lula da Silva. Trata os contribuintes de São Bernardo com o viés de subalternidade coletiva com o qual controlava os metalúrgicos de São Bernardo. Para Luiz Marinho, o rebanho é o mesmo. A diferença é que a sociedade não carrega no peito o dístico de uma empresa privada. Prefere, possivelmente, observar os contribuintes como gado tangido.


 


Quem acha que exagero na dose de crítica não sabe da missa um terço. Perguntem a Luiz Marinho, por exemplo, quem são os sócios do negócio mais que obscuro de anúncio de construção do que já foi um aeroportozão em São Bernardo e virou um terminal de carga e descarga de voos de executivos. Mais: perguntem ao prefeito da mais importante cidade da região qual é a área escolhida – e também seus proprietários -- para o empreendimento que, mesmo redimensionado, não sai das pranchetas?


 


Querem mais? Quantos escândalos foram denunciados durante os últimos anos sem que o prefeito de São Bernardo, na maioria das vezes, contrapusesse argumentos e provas? O engavetamento seguido de omissões nas informações prestadas ao Ministério Público sobre a roubalheira patrocinada pela MBigucci do terreno público leiloado durante a gestão William Dib e confirmada na gestão Marinho deixa claramente as impressões digitais de um dirigente público pronto a tomar qualquer iniciativa que lhe interessa -- mesmo ante um até então inimigo declarado, no caso o empresário Milton Bigucci.


 


Operação Gripen



Talvez a maior de todas as articulações político-administrativas que fogem completamente da doutrina republicana foi patrocinada por Luiz Marinho e seu fiel escudeiro, o advogado Edson Asarias, junto à companhia sueca Saab na definição do contrato de aquisição de 36 unidades dos caças Gripen. Tanto quanto a operação em si, investigada numa das vertentes de potencial explosivo pelo Ministério Público Federal, pesa sobre o prefeito a insistência em desprezar a inteligência alheia e o bolso dos contribuintes quanto ao local da fábrica de fuselagem que se pretende construir em São Bernardo.


 


Fosse ético, há muito teria fornecido todos os detalhes que culminaram na escolha da área e, com isso, eliminaria os ruídos que dão conta de que tudo não passa de cartas marcadas, em benefícios de supostos negócios paralelos de sócios ocultos.


 


Não vou esticar o assunto com novos exemplos de decisões no mínimo estranhas do prefeito de São Bernardo. O diagnóstico de que se transformaria no maior executivo público da história regional porque contaria com recursos financeiros federais abundantes entrou em parafuso desde que se descobriu que o governo Lula da Silva deixou uma bomba que Dilma Rousseff teimou em subestimar, até que teve de chamar um economista liberal para consertar os estragos.


 


Marinho vai encerrar o segundo mandato longe do que imaginava como alavanca para concorrer ao governo do Estado. Se depender do currículo de prefeito, e também de prefeito dos prefeitos como titular durante duas temporadas do Clube dos Prefeitos da Província, terá dificuldades em seguir na vida pública vinculada ao escrutínio popular. Principalmente se a Operação Lava Jato chegar para valer à Província.


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