Administração Pública

Marinho experimenta do próprio
veneno sindical e se dá muito mal

DANIEL LIMA - 15/05/2015

Quem com o ferro do sindicalismo fere com o ferro do sindicalismo será ferido. Quem ousasse dizer ao então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luiz Marinho, devoto de Lula da Silva, que o tempo o colocaria de saia justa diante de trabalhadores, provavelmente ele agiria com a mesma arrogância de hoje: fingiria que não ouviu e seguiria em frente.


 


A greve do funcionalismo público em São Bernardo é sintomática do quanto Luiz Marinho jogou no quarto de despejos do passado as vestes obsoletas de liderança sindical e se traveste com empáfia em executivo público a sonhar muito acima da competência duvidosa que exibe há mais de seis anos na Prefeitura de São Bernardo.


 


A gestão de Luiz Marinho é digna de trapalhão em cristaleira. Nem o fato de ser considerado um homem público devotado ao trabalho -- até que o trabalho não atrapalhe as ambições de chegar ao governo do Estado -- alivia a baixa frequência com que o comandante petista flerta com a eficiência.


 


Ao depositar praticamente todas as fichas nos dinheiros do governo federal, graças ao apadrinhamento do amigo Lula da Silva, Luiz Marinho projetou uma administração retumbante, a fazer as lembranças de Celso Daniel virarem cinzas na região. Como se fosse possível que supostas obras físicas obscurecessem a genialidade do ex-comandante público de Santo André e da região em defesa de uma regionalidade historicamente pífia. Marinho só não contava com a derrocada da política econômica do governo federal e muito menos com a Operação Lava Jato no esfriamento da expectativa de multiplicação dos pães de empreendimentos públicos tão vistosos quanto rentáveis.


 


Não vou me deter sobre qualquer aspecto econômico ou financeiro da proposta dos servidores públicos que está entalada na garganta da Administração petista de São Bernardo porque, nestas alturas do campeonato de fragilidade de interlocução, é o que menos interessa.


 


Lições esquecidas


 


O fato inquestionável é que a turma do prefeito de São Bernardo, muitos dos quais integrantes do movimento sindical dos metalúrgicos que a crônica mais apressada incensou como exemplo de humanismo, essa turma ou esqueceu as lições do passado ou quer que o passado se dane.


 


Fico a imaginar a satisfação de pequenos e médios empresários que acompanham o noticiário dos jornais locais nestes dias e observam a escaramuça envolvendo os servidores públicos de São Bernardo e a gestão de um petista que saltou para a estratosfera do deslumbramento público graças ao controle do gado metalúrgico.


 


Quantas fábricas que produziam empregos de verdade, não empregos de call-centers, importantes mas longe de agregar valor à comunidade, quantas fábricas, repito, escafederam-se da região ou simplesmente desapareceram do mapa de atividades porque o sindicalismo trabalhista exagerou na dose de reivindicações?


 


Sim, exageraram e exageram muito. Ainda outro dia o então presidente Lula da Silva reconheceu publicamente que a pauta de reivindicações e de conquistas dos sindicalistas colocavam empresas de portes diferentes no mesmo saco de gatos de obrigações a cumprir. Uma situação que inviabilizou o futuro de boa parte dos empreendimentos.  Da antiga Associação das Pequenas e Médias Empresas Industriais da região (Anapemei), não sobrou sequer a própria entidade criada para fazer frente às distorções sindicalistas.


 


Comitê de fábrica


 


Se o prefeito Luiz Marinho fosse minimamente coerente com o próprio passado de sindicalista, há muito teria levado à gestão da Prefeitura de São Bernardo o modelo de intromissão, quando não de abusos, que o Sindicato dos Metalúrgicos e tantos outros sindicatos implantaram na região, enfiando goela abaixo dos empresários espécies de comitês de fábricas que deitam e rolam num manancial de dispositivos do dia a dia de produção.


 


Se os comitês de fábricas são tão bons assim por que o prefeito Luiz Marinho teima em dar de ombros à possibilidade de contar com algo semelhante na estrutura de decisões estratégicas envolvendo o funcionalismo público de São Bernardo?


 


Cadê a coerência do prefeito que, do alto do autoritarismo com que costuma lidar com todos aqueles que não lhe dobram os joelhos, quer simplesmente que as lideranças dos servidores públicos em greve aceitem a data que ele estipulou para um encontro definidor da situação?


 


Luiz Marinho se transformou numa das maiores decepções da região. Imaginava que cumpriria dois mandatos revolucionários. Algumas conversas informais que tivemos, e sobre as quais não escrevo uma linha sequer justamente porque eram informais, supunham que a firmeza das declarações do ex-sindicalista seria transposta ao campo público de forma alvissareira e estabeleceria nova conceituação sobre governança e governabilidade não só municipal como regional. Ledo engano.


 


Do mesmo saco


 


Marinho é farinha do mesmo saco de políticos oportunistas, fanfarrões e ilusionistas. Alguém que tem a desfaçatez de anunciar um aeroportozão internacional na área de proteção ambiental de São Bernardo e que, mais que isso, fecha as portas da Prefeitura à transparência inclusive porque se aliou a corruptos do setor imobiliário, como é o caso de sua relação com o empresário Milton Bigucci, denunciado pelo Ministério Público da Capital no caso da Máfia do ISS, entre outras irregularidades, alguém que chega a esse ponto deve agradecer aos céus por ainda não estar diretamente na teia de lambanças do Petrolão.


 


São tantas as deficiências de Luiz Marinho como gestor público e como potencial candidato mesmo que com poucas possibilidades de sucesso ao governo do Estado que não chega a surpreender o distanciamento beligerante que mantém dos servidores públicos. Mas não há dúvida de que esse novo caso de despreparo é emblemático demais: o prefeito de São Bernardo vive em outro mundo, o mundo dos que se consideram intocáveis.


 


O entorno de Luiz Marinho também é responsável por esse desastre de relacionamento com os servidores porque está infectado pelo vírus do mandonismo que emana da primeira ministra Nilza de Oliveira, mulher do titular do Paço Municipal, e por conselheiros manquitolas em matéria de discernimento. Gente que tomou conta do gabinete do Executivo diante de ausências constantes do chefe mais preocupado em amealhar recursos para lançar-se ao governo do Estado em 2018.


 


Ver as ruas centrais de São Bernardo tomadas por grevistas que exibem placas nada lisonjeiras à gestão do petista Luiz Marinho não tem preço para os empresários duramente atingidos pelo radicalismo sindical que se espalhou historicamente pelas ruas da Província sem distinguir alhos de bugalhos. Marinho está provando do próprio veneno e se tem dado muito mal. Está encurralado pelo passado e pelo presente de reivindicações que mudaram de lado. Um ex-sindicalista que não aprendeu a lição de como negociar propostas é o pior dos ex-sindicalistas. E um chefe de Executivo pouco dotado para o cargo. 


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