O prefeito Carlos Grana tem mais possibilidades de reeleger-se prefeito em Santo André do que Luiz Marinho fazer sucessor em São Bernardo, eis a resposta à indagação do título. Não tenho por que fazer suspense sobre o que penso a mais de um ano das eleições municipais, em outubro de 2016. Mais que pensar, de expor o que penso. Não tratem essa avaliação, entretanto, como sentença definitiva. Seria estultice. Mesmo que não houvesse sobre a cabeça do PT uma espada de moralidade e ética na política muito mais contundente do que em outros partidos, a prospecção do resultado seria quase que uma cartomancia. Afinal, política é política, sujeita a chuvas de surpresas e a trovoadas de perplexidades.
Carlos Grana só não faz uma Administração justificadamente mais próxima da sofrível realidade orçamentária, social e econômica de uma Santo André fortemente fragilizada ao longo de décadas porque inventou de projetar expectativas de obras que ultrapassaram o limite do otimismo e se cristalizaram como onirismo puro.
Luiz Marinho só não faz de São Bernardo um terreno fértil a alavancar candidatura ao governo do Estado, como sempre demonstrou interesse, porque lhe faltou dinheiro federal que tanto anunciou aos quatro ventos e, principalmente, escasseou um mínimo de autocrítica de que não pode ser um ditador mal-acostumado com o mandonismo compulsório de sindicalista protegido pela classe de trabalhadores que sempre lhe deu carta branca.
Falta adversário
Também pesa sobremodo a favor de Carlos Grana a ausência de adversários robustos, exceto se robustez for característica corpórea do ex-prefeito Aidan Ravin. Por enquanto não há no horizonte mais próximo alguém que possa dizer que, lançado candidato, teria tudo para canalizar insatisfações contra o governo federal petista e também contra o governo municipal que prometeu demais à sociedade. Ou seja: Carlos Grama é aquele time que está longe de apresentar bom futebol, mas cujos adversários não transmitem a ideia de que possam lhe tirar o título de campeão ao final da temporada. Mesmo que a disputa seja insossa, sem graça, desimportante até.
Já Luiz Marinho tem contra si pelo menos dois concorrentes de lastro eleitoral, casos dos deputados Orlando Morando e Alex Manente, e uma monumental equação a ser decifrada, ou seja, definir quem será o candidato petista que merecerá seu aval. É claro que -- para compensar as fissuras internas e as ameaças externas -- o prefeito de São Bernardo tem a máquina pública à disposição, mesmo sem os milhões que viriam do governo federal. Mas quem é do ramo diz que recursos financeiros não faltarão à campanha que é a travessia da ponte de Marinho. Ao fazer o sucessor, o petista entoaria refrãos de competência rumo ao Palácio dos Bandeirantes. Sem fazer sucessor, sua liderança regional e pretensamente estadual seria colocada em xeque dentro do próprio partido.
Ambiente metropolitano
O que há em comum a envolver os dois petistas é o quadro macroeconômico e macropolítico de muita influência nos desígnios eleitorais em regiões metropolitanas. A municipalização do voto nas disputas às prefeituras é uma verdade longe de ser absoluta. Se temários locais têm grande valor na hora de o eleitor sacramentar o candidato de sua preferência, a interferência do histórico mais recente de ativos e passivos políticos e econômicos de esferas superiores, principalmente envolvendo a imagem monolítica do PT, é faca cortante a muitas pretensões.
Ou seja: desvincular peremptoriamente as disputas municipais do ambiente nacional é acreditar que o eleitor metropolitano está imune a qualquer tipo de influência externa. Numa área interdependente como a Grande São Paulo, onde a identidade regional sofre duros ataques por conta principalmente da mídia de massa centralizada na Capital, supor que a dona de casa moradora num bairro qualquer da região esquecerá os bons ou os maus fluídos de políticas federais comandadas pelo PT não ditará alguma porção do humor na manifestação do voto é fanatizar o raciocínio.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)