Administração Pública

Marinho flutua entre Pedro de Lara
e Márcia de Windsor. Quem aguenta?

DANIEL LIMA - 03/07/2015

Ao atribuir nota 9,25 à demitida secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, na solenidade de despedida da servidora, e ao maltratar seguidamente os moradores de São Bernardo que ousam confrontá-lo nas plenárias do Orçamento Participativo, o prefeito Luiz Marinho me faz lembrar de dois personagens do mundo do entretenimento televisivo, mais precisamente dois julgadores de calouros. A boníssima Marcia de Windson, que só dava nota 10 aos candidatos à fama, por piores que fossem no palco, e o intempestivo Pedro de Lara, que lascava notas baixas sem apelação, por melhores que fossem os concorrentes. A diferença que separa o prefeito de São Bernardo daqueles dois artistas é exatamente essa: eles eram artistas, faziam papeis especialmente pensados para chamar a audiência, enquanto o petista é de autenticidade tão aterradora quanto desastrada. Quando Luiz Marinho deveria ser Pedro de Lara é Márcia de Windsor. Quando deveria ser Marcia de Windsor é Pedro de Lara. Quem suporta tamanha travessura administrativa?


 


Fez bem o Diário do Grande ABC na edição de hoje, ao dar manchetona de primeira página (manchetona é a manchete menos importante apenas que a manchetíssima, a manchete das manchetes de primeira página) à declaração de Luiz Marinho em favor da secretária que deixou o cargo depois de temporadas e temporadas contestatórias do outro lado da gestão publica, inclusive do Ministério Público Estadual de São Bernardo. Como se sabe, o MP requereu a prisão da servidora. Luiz Marinho é desses personagens que fazem questão de afrontar o bom senso porque provavelmente tenha algum problema naquela peça que fica logo acima do pescoço.


 


Tragédia encerrada


 


Mais que atribuir nota 9,25 a Cleuza Repulho, o equivalente a todas as notas 10 que Márcia de Windsor distribuiu aos calouros de programas de televisão, Luiz Marinho solicitou ao entorno político para que se mobilizasse e fizesse da cerimônia de despedida uma festa de suposto reconhecimento do trabalho exercido pela especialista em Educação. Tanto que do Salão Nobre inicialmente reservado, transferiu-se a festa para o Teatro Cacilda Becker. Nada mais emblemático ao fechar das cortinas de uma tragédia de longa duração.


 


Mesmo que Cleuza Repulho seja uma sumidade em gestão educacional, no sentido técnico da atividade, algo que não pode ser retirado da órbita de avaliação, porque atuou durante longo período com Celso Daniel, o fato de ter-se metido em enrascadas inclusive na gestão do então prefeito de Santo André, possivelmente não é apenas uma coincidência. Portanto, a beatificação ética proporcionada pelo sumo pontífice de São Bernardo dá um giro de 180 graus e se desloca para o terreno da consagração de malfeitos como métrica de reconhecimento público.


 


Só faltou chamar os ladrões do Petrolão como convidados especiais da festança não mais que dissimulatória de uma crise que se estendeu anos a fio.


 


Se até o Gaeco de São Bernardo, grupo de investigação sobre o qual tenho sérias restrições, já que foi incapaz de constatar a roubalheira do Marco Zero, manifestou-se contrariamente à atuação de Cleuza Repulho, parece não haver dúvida de que há mais que fumaça em jogo.


 


Neobatismo emblemático


 


Luiz Pedro Marcia de Windsor de Lara Marinho pode ser neobatismo de mau gosto do prefeito de São Bernardo, mas utilizado circunstancialmente para definir sua personalidade administrativa deve ser perdoado em nome do caráter definidor do que temos à frente do Paço Municipal da cidade mais rica da região.


 


Talvez o leitor do Diário do Grande ABC tenha ficado encafifadíssimo com a nota quebrada atribuída pelo prefeito à ex-secretária de Educação. Afinal, por que 9,25 e não 9,5 ou 10,0? Como se explica essa preciosidade do petista? Talvez tenha entrado em campo a memória sindical de Luiz Marinho, quando, nos embates com as montadoras, à frente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, discutiam-se percentuais cuidadosamente calculados para transmitir a ideia de que aqueles encontros estavam sustentados pela mais fina flor da matemática de reposição e ganhos salariais, entre outras chamadas conquistas trabalhistas.


 


Falta memória que me remeta de imediato, como nos casos de Marcia de Windsor e de Pedro de Lara, a um personagem popular que explicaria a paixão de Luiz Marinho pelo depois da vírgula. Talvez falte um nome que expresse mesmo essa vocação ao detalhismo, mas a praça está recheadíssima de gente assim, que pretende repassar a ideia de que se esmera na análise de determinado problema ao evitar o número cheio, supostamente estigmatizado pela doçura de Márcia de Windsor e pelos rigorosos e mau humor de Pedro de Lara. Luiz Marinho oscila o tratamento entre um e outro daqueles famosos no dia a dia de avaliações, mas recorreu ao depois da vírgula para parecer original, embora não passe de medíocre.


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