Política

Lava Jato segue a ditar tempo para
Marinho indicar candidato petista

DANIEL LIMA - 27/08/2015

Está ficando cada dia mais evidente que o PT de São Bernardo morre de medo da Operação Lava Jato, aquela que pode, como se sabe, destruir candidaturas a prefeituras da região caso se confirmem versões de bastidores que dão conta de que, mesmo sendo peixes pequenos no oceano de contravenções, eventuais envolvidos podem ter cabeças decepadas pela força-tarefa do Ministério Público Federal e do juiz Sérgio Moro.


 


O prefeito Luiz Marinho faz pose, chama o primeiro amigo Lula da Silva para lhe dar força em encontro com vereadores do partido, mas todo mundo sabe que conversas que mantém com os mais próximos vazaram e continuam a vazar: Lava Jato virou um tormento às projeções locais entre outras razões também por motivos cronológicos: como seriam peixes pequenos, as denúncias ficariam para depois e quanto mais depois, pior, porque o depois seria muito próximo das eleições municipais do ano que vem.


 


Quem está vibrando com tudo isso são os jovens oposicionistas Alex Manente (deputado federal) e Orlando Morando (deputado estadual). Eles correm em raias diferentes, mas contam com estímulos diversos para o perdedor do primeiro turno juntar-se ao outro num segundo turno. Isso se for levado em conta que o PT, mesmo sangrando, resistiria e colocaria um finalista na disputa.


 


Bom de marketing


 


Não se pode negar jamais que o PT é bom de marketing e, também, que os adversários petistas são de ruindade de dar pena. Em matéria de capacidade de entender a linguagem do povo o PT é uma Alemanha em semifinal de Copa do Mundo no Brasil. E os adversários são o Brasil de Felipão. Historicamente a comunicação do PT tem encaixe perfeito.


 


Tudo isso sendo verdade, o que se deveria esperar de Luiz Marinho e de sua turma que vão disputar as eleições municipais do ano que vem é mais um show de encantamento. Agora, entretanto, é preciso combinar com os russos da Lava Jato. As consequências econômicas, éticas e políticas do escândalo da Petrobras são nitroglicerina pura nas mãos dos adversários. Resta saber se eles, os adversários, vão saber manipular a razão e a emoção na dose certa. 


 


Luiz Marinho está certíssimo, sob o ponto de vista de interesses próprios e do partido que representa, em tentar vender a ideia de que a disputa municipal será prevalecentemente sobre questões locais -- ou seja, os efeitos da Lava Jato e de outras lambanças seriam limitados. Estivesse no lugar dele diria a mesma coisa. É assim que se sofisma. Como o que nos separa é o fato de ele ser político e eu, jornalista, cria-se um padrão diferencial de abordagem. Marinho dá um drible da vaca em tudo que está aí; eu me prendo (ou me liberto) aos fatos e à repercussão dos fatos.


 


Voto metropolitano


 


Ainda não se mediu o tamanho do voto municipal em regiões metropolitanas seguindo uma cartilha específica de comportamento do eleitorado de regiões metropolitanas. Imaginem então o caso da Província do Grande ABC, que integra uma região metropolitana de forma diferenciada da quase totalidade dos entornos das regiões metropolitanas.


 


Bem ou mal  contamos com uma identidade regional menos combalida que as demais áreas submetropolitanas nacionais. Aqui o bicho político-partidário é maior do que a média dos assemelhados. Aqui somos escravos ou quase isso dos meios de comunicação de massa da Capital. Aqui, em suma, somos mais contaminados culturalmente pela proximidade da Capital. Aqui, também, desenvolvemos senso crítico supostamente mais aflorado, porque temos classe média proporcionalmente maior do que a maioria de regiões submetropolitanas.


 


Então -- chegando ao ponto que desejava -- qual será o tamanho da interpretação do pensamento regional em torno de eleições municipais levando-se em conta a metropolização da cidadania regional? A indagação não tem nada de hermética. O que quero dizer aos mais negligentes que se metem à leitura é que uma pesquisa bem elaborada poderia responder à seguinte pergunta: “Até que ponto o voto que você reserva ao candidato a prefeito de sua cidade está condicionado à atuação do partido político dos concorrentes?”. É claro que a pergunta não precisa ser necessariamente essa, mas o conceito é esse.


 


Estragos do mensalão


 


Em outubro de 2012, a propósito da vitória de Luiz Marinho, reeleito em São Bernardo, defendi a tese de que o mensalão então em fase de julgamento cortou boa parte do eleitorado petista. A expectativa de Marinho superar os 76,35% dos votos obtidos por William Dib nas eleições de 2004 foram para o buraco. Marinho registrou 10 pontos percentuais abaixo do então tucano ao estabelecer 65,79% dos votos válidos.


 


Havia então quem, em termos nacionais, negasse bravamente a contaminação do mensalão nos votos petistas. O cientista político Marcos Nobre defendeu até o fim a tese de que o peso do mensalão foi próximo de zero. Uma barbaridade à qual muitos deram credibilidade. Sempre é mais fácil os acadêmicos de lustro obterem credibilidade.


 


Não demorou para a Folha de S. Paulo sair com uma pesquisa do Datafolha sobre o tema e constatar que 19% dos eleitores mudaram de voto por conta do julgamento do mensalão. Sempre é bom lembrar que esses 19% são a média brasileira. Em regiões nas quais embates ideológicos são mais abrasivos, caso do Grande ABC, certamente os estragos foram maiores. E agora que o mensalão virou fichinha perto do Petrolão?


 


Uma pesquisa nos termos sugeridos e que reserve para a última indagação, de modo a que não deixe qualquer rastro de contaminação, uma pergunta essencial para lançar mais luzes sobre o assunto, poderia ser altamente esclarecedora. Que pergunta? Eis: "Em que partido o entrevistado não votaria de forma alguma”.


 


Acho que o prefeito Luiz Marinho deve estar muito encafifado com a possibilidade de a retórica municipalista de fazer de obras anunciadas -- e muitas das quais nem iniciadas ou não concluídas -- simplesmente se desfazer ante avalanche antipetista na esteira da Petrobras. Se fosse Luiz Marinho, alguém que não sou porque me falta topete em todos os sentidos, estaria perdendo o sono. E adiaria a escolha do concorrente à sucessão também por isso, além daquilo: também, por conta dos estragos eleitorais do Petrolão; além daquilo,  por causa dos estilhaços locais do Petrolão.


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