Política

Presidente da OAB ataca porque
quer espaço na disputa eleitoral

DANIEL LIMA - 28/08/2015

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Santo André (OAB) é adepto do fastfood político. Seus interesses são legítimos, porque cultivamos a democracia, mas Fábio Picarelli não organiza o cardápio de ambições de forma que legitimidade faça parceria com ética e bom senso. Ou seja: há pontos contraproducentes sobre os quais Fábio Picarelli não detém controle que estimule em terceiros a ideia de que seja representante de nova geração na política regional. Muito pelo contrário. 


 


Fábio Picarelli não domina o tempo porque o tempo geralmente é aliado da coerência e inimigo do oportunismo. Quando se subestima o andar da carruagem das horas, dos dias, faz-se convite ao desgaste da imagem em frequentes bailes de máscaras. Quando não se leva em conta as marcas do passado, principalmente quando o passado não tem marcas que se alinhem às pretensões do presente, tudo desanda. Fábio Picarelli é um dirigente de interesse público -- como todo dirigente de entidades sociais -- sem passado que sustente o presente.


 


O que comer?


 


Fábio Picarelli é alguém que chega a um restaurante sem saber o que vai comer e beber e, conforme o pedido dos vizinhos de mesa, monta o prato imaginário até que chama o garçom. Quando o garçom aparece, é possível que mude de ideia, porque seu olhar está grudadíssimo, ainda, na vizinhança de clientes. Fábio Picarelli navega conforme as ondas; mas como mau timoneiro, nem sempre interpreta as ondas com acuidade. Quando acredita estar navegando em águas plácidas, sobrevém tempestade.


 


Vejam o que Fábio Picarelli pretende agora, sempre em busca de qualquer espaço no organograma público municipal nas eleições do ano que vem. Quase nove meses após a assinatura de contrato da Prefeitura de Santo André com a World Center Comércio, prestadora de serviços da ciclofaixa de lazer, Picarelli anuncia envio de denúncia ao Ministério Público. O dirigente da OAB aponta que o acordo apresenta indícios de prejuízos aos cofres públicos, incluindo na peça preços do aluguel de equipamentos para a realização do serviço aos domingos, como cones e viaturas. “O termo tem itens fora da realidade do mercado entre a locação e aquisição por parte do poder público” – disse Picarelli.


 


Demora explicada


 


Vamos supor que Fábio Picarelli tenha motivos de sobra para requerer a intervenção do Ministério Público. O que se questiona é o tempo que levou à empreitada. Seus defensores vão dizer que ele descobriu apenas agora que o ex-secretário da pasta de Mobilidade Urbana, Paulinho Serra, teria cometido deslizes.


 


A versão não se sustenta. Picarelli vive em torno do Paço Municipal, tem aliados afinados com os oposicionistas da Administração Carlos Grana e não deixaria que suposto buraco delitivo ocorresse sem que tomasse imediato conhecimento.


 


É melhor acreditar que Fábio Picarelli fez poupança de suposta varredura daquele contrato imaginando momento apropriado para agir. Ou seja: supostamente teria construído escopo estratégico que reduziria a tese de que é intempestivo. Teria agido com o maquiavelismo típico dos políticos mais invejáveis. Só se esqueceu de que o conjunto da obra da gestão na OAB não o habilita a ganhar roupagem de novo, quando não passaria de algo surrado.


 


O que Fábio Picarelli pratica é jogo político, independentemente de ter caminhão de razões para questionar a gestão Carlos Grana. O que move o presidente da OAB de Santo André não é uma cultura de faxina na gestão pública -- é o mais puro oportunismo político-partidário, aliado a forças que pretendem apear o PT do poder. 


 


Ainda outro dia o dirigente da OAB exercitou a magnitude de articulações que sempre dão com os burros nágua ao anunciar nos bastidores que agora é aliado de Mara Gabrilli, deputada federal tucana que pretensamente tomaria o gabinete de Carlos Grana. A mesma Mara Gabrilli que há algum tempo fez duro pronunciamento na Câmara dos Deputados contra o dono do Diário do Grande ABC e Gilberto Carvalho, então mandachuva de politicas sociais do governo Dilma Rousseff. Tudo por conta do requentamento mais que manipulador do caso Celso Daniel. O pai de Mara Gabrilli era um santo homem do setor de transporte coletivo de Santo André. Na versão da filha, é claro. Os demais, na versão da filha, não passavam de sanguessugas dos cofres públicos.


 


Endereço certo


 


Mas, voltando a Fábio Picarelli, o que temos de fato e insofismavelmente é uma investida contra Paulinho Serra, adversário incômodo entre outras razões porque ocupa o mesmo espaço geopolítico em Santo André. Do alto da patente da OAB, instituição respeitada mais pelo passado de redemocratização do País do que pelo presente de sensibilidade afloradíssima à politização partidária, Fábio Picarelli quer mesmo desgastar Paulinho Serra e a gestão petista. Tanto é verdade que a ação supostamente moralizadora não passa de surto político-eleitoral. Algo como uma moeda de troca que poderia ter algum valor segundo projeções de conservadores otimistas que, como Fábio Picarelli, acreditam que o povo não tem memória.


 


Ou seja: Fábio Picarelli atua agora em total contraponto às omissões permanentes na OAB, período no qual irregularidades não faltaram em Santo André.


 


Cadê o presidente?


 


Onde estava Picarelli durante e após os escândalos do Semasa, do Residencial Ventura, da Cidade Pirelli e de tantos outros casos mais que conhecidos que fizeram das páginas do noticiário político puxadinho compulsório de páginas policiais? 


 


Sem contar o marco regulatório das lambanças permanentes do dirigente da OAB: em 2013 ele criou o que chamou entusiasticamente de Observatório da Cidadania na OAB, com o suposto interesse de vasculhar as contas da Administração Carlos Grana. À primeira investida e dada a impossibilidade de conciliar as primeiras dificuldades do lado faxineiro com o lado marqueteiro do presidente da OAB, a comissão foi estimulada a se dissolver.


 


Tudo, portanto, não passou de carnavalização. Sugerir dificuldades para obter facilidades não seria premissa descabida àquela situação. O tempo, mais uma vez, é inimigo de Picarelli.


 


O cardápio ao qual Fábio Picarelli finalmente se definiu (definiu?) rumo a alguma coisa que seja interessante no Paço é indigesto a ele próprio porque o obrigou a tomar posição pública que não permitiria recuos. Negar uma velha especialidade, a especialidade de acreditar que pode manipular situações que bem desejar, coloca o dirigente da OAB na linha de tiro de adversários que consideram sua artilharia pixotesca. 


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