Política

Quem ganharia hoje sucessão de
Marinho? Morando ou Manente?

DANIEL LIMA - 19/10/2015

Vou cumprir a promessa e revelarei neste artigo quem entendo que será o próximo prefeito de São Bernardo. Os candidatos são os jovens Alex Manente e Orlando Morando. Essa previsão é feita com os riscos próprios das investidas contra o tempo e assim deve ser entendida. É uma fotografia do momento que leva o passado em conta e que não controla o que será do futuro. Fotografias sequenciais viram filme e tudo pode acontecer.


 


Por isso não me cobrem por eventual mudança do cenário. Não sou Deus nem candidato a Deus. Mas que Marinho não vai fazer sucessor, não vai. Nem ele venceria se pudesse concorrer a nova reeleição. Seria demais suportar mais quatro anos de promessas e lorotas, de Aeroportozão e de Meca da Indústria do Gás e do Petróleo, entre muitas fanfarronices divulgadas em tom de planejamento.


 


Há motivos de sobra para ficar em dúvida sobre se será Alex Manente ou Orlando Morando o vencedor de outubro do ano que vem, seja quem for o candidato petista. Eles, Morando e Manente, têm muitas semelhanças. São jovens, estão no exercício de mandatos conferidos pelos eleitores (Manente é deputado federal e Morando é deputado estadual), são oponentes petistas e contam com o salomônico suporte do governador do Estado que quer ver o PT se explodir na região.


 


Além disso, Morando e Manente também reúnem apreciável estoque de votos nas últimas eleições em São Bernardo, situação que os credencia ao favoritismo contra o PT. E preenchem expectativa de mudanças num Município dilacerado pela desindustrialização agressiva, incentivada entre outros fatores pela hostilidade mesmo que mais diplomática do sindicalismo cutista, irmão siamês do petismo. 


 


Vejam as diferenças


 


Ora, bolas, se são tão próximos assim no perfil, por que um deles seria mais forte eleitoralmente? Vou tentar destrinchar esse suposto enigma. Vamos tentar estabelecer alguns pontos de desempate técnico entre Orlando Morando e Alex Manente.


 


Morando leva vantagem na coloração partidária que, ao que parece, prevalecerá no eleitorado, porque é mais de centro-direita do que Manente. Entenda-se como centro-direita alguém mais incisivamente contrário ao PT. Alex Manente carrega o ônus de, na primeira vitória eleitoral de Marinho, em 2008, ter-se juntado ao petista para derrotar Morando no segundo turno. Por ser mais bem definido ideologicamente, Orlando Morando conta com discurso que se encaixa com perfeição nestes tempos antipetistas. Mesmo com Alex Manente tendo procurado corrigir a carreira ao enfrentar Luiz Marinho na disputa municipal de 2012, enquanto Morando preferiu a neutralidade do afastamento.


 


Quem olha para a carreira de Morando sabe que há embocadura de concepções ideológicas. Manente é mais nebuloso. Quem se aventurar a mexer no passado para detectar o desempenho de Manente e de Morando nos embates com o PT vai constatar que o primeiro aprecia o topo de muro na maioria dos casos.


 


É possível argumentar que a centrodireitização poderia atrapalhar a caminhada de Morando num segundo turno contra Alex Manente. O eleitorado mais à esquerda, do PT, poderia praticar o voto útil favorável a Manente que, suspeita-se, tenderia a fazer concessões aos petistas em caso de vitória. O passado o manteria preso a algumas das ramificações petistas. 


 


Ganhando e perdendo


 


Se Manente poderia arrebanhar mais votos petistas na segunda etapa do que Morando, quem garante que, em contraposição, não perderia parte de seus próprios votos menos convictos de primeiro turno, obtida de uma faixa de eleitorado que teria preferido inicialmente um candidato não tão ostensivamente contrário ao petismo, mas que se mantivesse seguramente distante do petismo.


 


Trocando em miúdos: o eleitorado mais maleável de Alex Manente poderia preferir deslocar-se à centro-direita de Orlando Morando caso perceba que, ao sustentar a posição do primeiro turno, estará contribuindo para a manutenção do PT em alguns extratos de poder em São Bernardo. Esse cenário poderá levar Manente, preventivamente, a adotar um discurso mais contundente contra o PT já no primeiro turno. A medida o levaria a queimar as pontes que supostamente o favoreceriam num segundo turno contra Orlando Morando. Complicado tudo isso, não é verdade? Política é assim mesmo, com contradições e enquadramentos inesperados.


 


Orlando Morando também é superior a Alex Manente no que chamaria de logística de campanha que, para o tucano, já começou de fato. Morando é considerado um leão em campanhas eleitorais muito antes da fita de largada oficial. No final de semana passada cumpriu 32 compromissos de olho nas urnas. Manente é menos intensivo nas andanças. Quem conhece política e principalmente a caça aos votos analisa essa vantagem de Morando muito expressiva na corrida eleitoral, quando, por atuar em São Paulo, não em Brasília, estará mais e mais próximo do eleitorado.


 


Empatia relativizada


 


Manente teria um grau superior de empatia quando comparado a Morando, mas isso é subjetividade de mensuração difícil. Tanto é verdade que simpatia e antipatia ou mesmo indiferença não podem ser expostas como palavra final que na última campanha eleitoral Orlando Morando correu em raia vizinha a de Alex Manente, com mais obstáculos a superar, e se deu melhor. Há candidatos pouco simpáticos nos bastidores da política, mas se transformam em diplomatas nas ruas. Maurício Soares, ex-prefeito de São Bernardo, é um exemplo disso.


 


Concorrendo com três petistas locais à Assembleia Legislativa, os eleitos Luiz Fernando Teixeira, Ana do Carmo e Teodonílho Barba, que ocupam três espectros diferentes do eleitorado, Orlando Morando os bateu na soma de votos com folga. Foram 103.292 contra 87.889 do trio petista. Alex Manente em sua saga rumo a Brasília só encontrou um petista de São Bernardo pela frente, o experiente Vicentinho Paulo da Silva, e obteve menos votos que Orlando Morando, superando o petista por 88.540 a 33.378.


 


Ou seja: até contra-argumentação consistente, o que parece improvável, a disputa a deputado estadual é muito mais acirrada que os confrontos a deputado federal. Pela lógica, Manente deveria ter sido mais bem votado que Morando em São Bernardo.


 


Se existem dúvidas quanto aos votos úteis dos petistas supostamente barrados do segundo turno que envolveria Manente e Morando, com pontos e contrapontos favoráveis e contrários aos dois hoje oposicionistas ao Paço Municipal, uma pergunta cala fundo: qual dos dois, Manente ou Morando, iria a um eventual segundo turno com um improvável candidato petista? Talvez a resposta mais próxima das possibilidades já tenha sido respondida, com a supremacia de Morando sobre os petistas eleitos deputados. A logica de que o segundo turno só comportaria um concorrente de esquerda, seja centro-esquerda seja esquerda de fato, lubrifica o entusiasmo de Morando.


 


Com PT no segundo turno


 


Supondo que Morando seja o adversário do PT num segundo turno, para onde iriam os interesses de Alex Manente? Há quem aposte que Manente repetiria a decisão de 2008 por razão de sobrevivência, mas não falta quem descarte a iniciativa. Os tempos são outros, as composições de Manente convergiram mais ao centro e ao centrodireitismo. Além disso, Manente também não arriscaria o futuro aliando-se aos sujos e malvados petistas, como assim interpreta a atual situação dos representantes do Paço Municipal.


 


Os votos de um Alex Manente fora do segundo turno iriam, portanto, em maior escala para as urnas de Orlando Morando. E a recíproca seria verdadeira, pelos mesmos motivos. Mesmos motivos?  Não, pela mesma razão: apear o PT de Luiz Marinho, afilhado principal de Lula da Silva, da Prefeitura de São Bernardo.


 


Um ponto que vai determinar para valer o potencial de votos de Manente e de Morando é o encaixe da retórica de campanha. Bater no PT em franca decomposição ética e administrativa será o esporte preferido de ambos. Quem souber lançar mão de forma mais incisiva da nacionalização política e econômica do contexto eleitoral, impedindo que o PT circunscreva a disputa aos interesses locais, quem conseguir isso levará vantagem.


 


Voto metropolitano é diferente


 


Já escrevi sobre o assunto, mas não custa repetir: em regiões metropolitanas como a de São Paulo, onde, no caso desta Província, um quarto do eleitorado trabalha na Capital e mais de dois terços em cidades locais diferentes dos pontos de moradias, os temários mais debatidos são de cunho nacional.


 


O escândalo da Petrobras e suas ramificações midiáticas e o desastre econômico gestado por Lula da Silva, entregando a Dilma Rousseff a bucha de canhão de uma recessão inevitável, vão causar estragos nacionais ao PT. Muito superiores muito superiores mesmo, aos estragos mensurados do Mensalão, os quais os petistas procuram desclassificar, quando não negar. Afinal, a nenhum agrupamento político é aceitável deixar a bola temática desagradável sob controle absoluto dos adversários.


 


O PT é um partido orgânico em todos os sentidos, principalmente na retórica, quando não na prática, de iniciativas coordenadas a partir de determinadas estratégias. Municipalizar os temários será um esforço hercúleo dos petistas porque, nesse ponto, é mais provável que se enrole o eleitorado pouco afeito às realidades locais no campo político-administrativo. Nossos eleitores são capazes de acreditar nas promessas e lorotas de Luiz Marinho, por exemplo.


 


Feita essa primeira abordagem sobre as eleições do ano que vem em São Bernardo, uma abordagem fotográfica, como já expliquei, acredito até prova em contrário que, quando o filme desses quase 12 meses completos estiver pronto, os correligionários de Orlando Morando estarão comemorando a retirada involuntária dos petistas do Paço Municipal.


 


A pedra preciosa da campanha eleitoral de Orlando Morando é a originalidade dos embates contra os petistas ao longo dos tempos. Alex Manente poderá seguir na mesma linha, e deve mesmo até por questão de fortalecimento da musculatura rumo a eventual segundo turno, mas não parecerá ao público mais atento que tenha a patente de oposicionista petista em grau semelhante ao de Morando. Entre a cópia e o original, o eleitorado possivelmente preferirá a segunda alternativa.


 


Bala de prata da diferença


 


Possivelmente, Morando deixará a bala de prata, de mostrar que é diferente de Manente na interpretação dos anos petistas, para o momento mais apropriado: em eventual arremetida para ganhar um lugar na etapa final ao lado do candidato petista ou na corrida final, de segundo turno, diante de Manente. 


 


Esse jogo que já começou a ser jogado sob os escombros do Petrolão promete muitas emoções e muito menos recursos financeiros de parceiros petistas da livre iniciativa, muitos dos quais apanhados em flagrantes delitos e por isso mesmo sob a vigia da força-tarefa da Operação Lava Jato.


 


Mas a situação não significaria que os petistas não teriam recursos fartos, porque, entre outros motivos, São Bernardo é uma cidadela a ser mantida a qualquer custo. O voto metropolitano acentuadamente contrário ao governismo petista será condenatório em larga escala ao indicado por Luiz Marinho porque a conexão de Petrolão e desemprego, além de desesperança, gerou bólido irrefreável.


 


Outros capítulos dessa emocionante disputa virão com retoques aqui e acolá de fotografias que vão virar filme. 


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