Política

Até que ponto PT vai influenciar
de novo disputa em São Caetano?

DANIEL LIMA - 05/11/2015

Foi o PT com artilharia pesadíssima de dinheiro escapando pelo ladrão que mudou a história da eleição à Prefeitura de São Caetano em 2012. Ao adotar clandestinamente a candidatura do vereador Paulo Pinheiro para chegar ao Palácio da Cerâmica o PT de Luiz Marinho e de seu braço logístico-eleitoral, o agora deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, não deu trégua à Regina Maura Zetone, indicada e apoiada pelo prefeito José Auricchio Junior.


 


Não adiantou a candidata carregar o feminismo como bandeira implícita, o que então configurava  marketing valioso ante o sucesso da presidente Dilma Rousseff, e tampouco a aprovação quase unânime como secretária de Saúde. Sem contar, também, que o prefeito José Auricchio gozava de largo prestígio junto à população.


 


Como em política o assassinato de reputações é corriqueiro sem que se apliquem castigos merecidos, como, aliás, se dá na mídia eletrônica ocupada por bandidos apócrifos, eis que detratores colocados no campo de batalha minaram a moral da candidata de forma acachapante, quando não vergonhosa. A sociedade conservadora de São Caetano foi bombardeada por um jogo sórdido orquestrado por gente desclassificada que se locupleta de sandices. Redes sociais a serviço da delinquência disseminaram ódio.


 


Recursos muito menores


 


E agora que o PT está na boca do povo como agremiação abaixo de qualquer suspeita e que sofre os efeitos diretos e indiretos do escândalo da Petrobras, como vai se virar o prefeito Paulo Pinheiro?


 


É certo que o Petrolão escasseará recursos aplicáveis em campanhas eleitorais, principalmente sobre os nacos distribuídos pelo PT.


 


Seria ingenuidade acreditar que dinheiros do escândalo da Petrobrás não irrigaram direta e indiretamente as campanhas do PT na região. A importância estratégico-eleitoral da região à imagem do PT implica em óbvia inserção de recursos financeiros. O partido então em lua de mel com os eleitores se manifestou fortemente naquela temporada de 2012.


 


Dinheiro, muito dinheiro, brotava nas campanhas. Paulo Pinheiro fez dobradinha silenciosa – sob a proteção voluntária e também omissa da maioria da mídia da região – com os petistas, aos quais entregou importantes nichos da administração que acabaria por assumir após a vitória nas urnas.


 


As revelações sobre a tabelinha entre petistas e peemedebistas nas eleições de 2012 em São Caetano só vieram a público e mesmo assim de forma discreta muito tempo depois. Só este CapitalSocial ligou antecipadamente uma coisa à outra. Sem o apoio endinheirado do PT Paulo Pinheiro jamais ganharia aquela disputa. E sem a candidatura confiável de Paulo Pinheiro aos olhos e mente dos moradores de São Caetano o PT poderia jorrar dinheiro na campanha que o resultado final seria pífio. A logística de guerra subliminar dos petistas se juntou à logística de boa-praça de Paulo Pinheiro.


 


Bonome em ação


 


Até recentemente não havia muitos eleitores em São Caetano que apostavam na reeleição de Paulo Pinheiro. Sobretudo porque o ex-prefeito José Auricchio Júnior está na parada, agora com nova roupagem, com as bênçãos do governador Geraldo Alckmin e do PSDB potencialmente favorito às próximas eleições presidenciais. O desembarque do ardiloso Nilson Bonome, que durante muito tempo deu governança e governabilidade ao então prefeito Aidan Ravin, em Santo André, redesenhou o quadro. Já se fala numa disputa menos desequilibrada, embora o favoritismo siga com Auricchio.


 


A capacidade de Nilson Bonome juntar as pedras de um tabuleiro político desarrumado e quando não a beira da perdição não tem conexão alguma com o sobrenatural. São forças vivas que lhe dão o aparato de sustentação de medidas que acabam por reverter situações insatisfatórias. Foi só deixar a equipe de governo de Aidan Ravin, na qual chegou a ocupar três pastas cumulativamente, que o desastre se instalou no Paço de Santo André. Agora se dá justamente o inverso em São Caetano. Nilson Bonome tem o dom profético de levar paz onde estiver. E de deixar rastro de destruição quando sai.


 


Resta saber até que ponto o amalgama representado por Nilson Bonome, peemedebista com fortes laços com a cúpula estadual do partido, será mais resistente que a provável degringolada do PT, cujos recursos financeiros terão de ser mais focalizados no próprio partido.


 


Não se tem como medida sensata negar o alimento indispensável de dinheiro de campanha eleitoral a integrantes do próprio partido para favorecer aliados. Somente quanto o dinheiro é farto a generosidade ganha elasticidade. Foi o que ocorreu com o que chamei de Cavalo de Troia petista nas eleições de 2012 em São Caetano.


 


Talvez a candidatura de José Auricchio Júnior ganhe mais impulso se a verdade que sobreveio às eleições de 2012 foi instrumentalizada no ano que vem, ou seja: que os eleitores de São Caetano sejam informados, massificados, de que ao votarem em Paulo Pinheiro estavam assinando uma nota promissória em favor do PT. O candidato pouco provável de chegar à vitória foi o tempo todo  ventríloquo petista, devidamente preparado para sustentar um discurso de campanha que se encaixasse no perfil conservador de São Caetano.


 


Até que ponto a sociedade de São Caetano tem a dimensão desse passado? A combinação sigilosa de interesses petistas e peemedebistas seria uma traição que se rivalizaria com o que aprontou Dilma Rousseff em busca do segundo mandato, quando disse o que desdisse após tomar posse?


 


Auricchio no ataque


 


Entrevistado pelo jornal Diário Regional na edição de ontem, o ex-prefeito José Auricchio Júnior transpareceu estar preparando chumbo grosso ao martelar um tema muito caro a São Caetano, um dos municípios brasileiros com maior incidência populacional de terceira idade. Disse Auricchio que a gestão de Paulo Pinheiro expõe pés de barro em duas pontes de travessias improváveis: os setores de saúde e de zeladoria. “A saúde foi a área do governo que mais se desorganizou. Perdeu completamente os parâmetros básicos. Recebo relatos de pessoas que não conseguem marcar consultas e exames diagnósticos. A área de assistência farmacêutica também está precária. Há um sucateamento da Saúde em São Caetano e quem sofre com isso é a população” – disse Auricchio.


 


Quer saber mais algumas declarações do ex-prefeito ao Diário Regional? Toma: “Há um imenso ralo em relação à folha de pagamento da Prefeitura, que responde por 63% do orçamento. Esse número ultrapassa o limite de responsabilidade fiscal e coloca em risco a administração. Talvez seja por isso que a Saúde e outras áreas da cidade estejam sendo prejudicadas. Outra questão é o número de funcionários terceirizados que cresceu muito. É uma situação insustentável” – disse o ex-prefeito.


 


Sei lá se José Auricchio Júnior está inteiramente correto nas observações. Período pré-eleitoral enseja a pintura de quadros administrativos com cores mais fortes, muitas vezes um pouco ou muito fora do foco da realidade. Quem melhor pode responder às intervenções críticas do ex-prefeito é o atual titular do Palácio da Cerâmica. Quanto mais tempo passar e menos disposição mostrar a prestar contas à sociedade, com transparência de verdade, mais as declarações de José Auricchio ganharão substância.


 


Aliás, não resisto e lembro que já sugeri neste espaço uma iniciativa que deveria ser transformada em legislação ou em compromisso moral dos prefeitos com as respectivas comunidades que os elegeram. Fosse o Clube dos Prefeitos mais dinâmico e menos reprodutor dos equívocos dos comandantes dos municípios, uma vez por ano os titulares dos Paços Municipais deveriam se reunir com representantes de todas as tendências da sociedade e se submeterem a sabatinas sobre os resultados até então das respectivas gestões.


 


Não valeriam truques nem tergiversações. Os prefeitos deveriam estar acompanhados do secretariado para que os socorressem em questões que eventualmente lhe fugissem do controle imediato de informações.


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