A primeira rodada da pesquisa eleitoral desenvolvida pelo Instituto DataRegional, no qual este jornalista atua como consultor, coloca o ex-prefeito Aidan Ravin (PSB) na condição de favorito à Prefeitura de Santo André. O médico que governou Santo André entre 2009 e 2012, ao derrotar o petista Vanderlei Siraque, carrega um caminhão de vantagem ante os demais competidores -- sobretudo Carlos Grana, atual titular do Paço Municipal. Entretanto, o retrato do momento está longe de ser definitivo. Pode passar por mudanças típicas do mundo político-partidário movido a emoções principalmente por força de solavancos econômicos e escândalos administrativos.
Aidan Ravin conta com o dobro de votos do principal concorrente (31,67% a 16,26%) e praticamente com metade da rejeição (24,75% contra 45,38%). Os demais candidatos listados pelo DataRegional (Paulinho Serra, Raimundo Salles e Luiz Zacarias) somam apenas 13,45% dos votos estimulados. O possível pior adversário de Aidan Ravin, numa perspectiva que leva em conta 11 meses de intervalo às disputas, é o gigantesco universo de eleitores decididos a votar em branco, a anular o voto (14,55%) e principalmente os indecisos (24,07%). Ou seja, quase 40% do eleitorado de Santo André estão à deriva sem saber quem escolher, se escolher.
O grande ponto de interrogação no horizonte da corrida pela Prefeitura de Santo André vai ser desfeito pelos quase 40% de eleitores dispostos a votar em branco, a anular o voto ou que estão indecisos. Para onde irão os maiores nacos desses eleitores sem rumo e sem prumo? Até que ponto os índices de rejeição aos dois principais concorrentes, Aidan Ravin e Carlos Grana, vão se mover de forma que, numa combinação com o derretimento de eleitores sem voto, promoveriam possíveis alterações radicais nas projeções? Quem entre os candidatos com apenas um dígito de votos nessa primeira rodada invadiria o terreno dos dois favoritos a ponto de chegar ao segundo turno? Esse é um desafio a tirar o sono principalmente dos marqueteiros de prontidão.
Movimentos complementares
Não há dúvida de que a liderança de Aidan Ravin na pesquisa do DataRegional está muito vinculada a dois movimentos complementares que se retroalimentam: a memória eleitoral de quem já usufruiu do cargo que pretende reocupar e os estrondos que abalam o Partido dos Trabalhadores de Carlos Grana. O escândalo da Petrobras está longe de ser, como gostariam os envolvidos e seus entornos, um caso restrito à política federal. A simbologia da maior companhia do País e o envolvimento do PT colocam o peso destrutivo sobre os ombros dos candidatos do partido em todos os quadrantes do País.
Os 45,38% de rejeição a Carlos Grana são quase uma sentença de morte eleitoral. Se não houver rebaixamento significativo, talvez o candidato que ocupa o Paço Municipal só iria ao segundo turno por falta de concorrente para valer. Não se deve ignorar também o sobrepeso negativo do quadro econômico, com alta de desemprego, inflação nas nuvens e perspectivas de que também no ano que vem haverá novo rebaixamento do PIB (Produto Interno Bruto), além dos 3% já encomendados para esta temporada. O PIB cairia mais 2% no ano que vem, com novos efeitos catastróficos na região movida à indústria automotiva.
Quem vai ao segundo turno?
E quem seria o eventual concorrente de Carlos Grana pelo segundo lugar no turno decisivo? A candidatura do ex-vereador e ex-secretário de Mobilidade Urbana da Administração Carlos Grana, Paulinho Serra, agora no PSDB, talvez seja a melhor resposta. É verdade que falta muito para isso. Paulinho Serra soma apenas 5,05% dos votos detectados pelo Instituto DataRegional. É muito pouco. Tanto quanto os 4,12% destinados a Luiz Zacarias e os 4,28% a Raimundo Salles.
Paulinho Serra seria entre os três concorrentes que estão em segundo plano na luta pelo segundo turno em Santo André o que reúne maior potencial de amealhar votos de eleitores que não se definiram por nenhuma candidatura até agora. O ingresso no PSDB é a garantia de que ganhará visibilidade ao contar com o suporte do partido do governador do Estado.
Também pesam a favor do tucano os apenas 3,96% de rejeição do eleitorado. Muito menos que os 18,54% de Raimundo Salles e um pouco abaixo dos 7,33% de Luiz Zacarias. O pressuposto de que, com menor nível de rejeição, Paulinho Serra tenderia a deixar Raimundo Salles e Zacarias para trás, não é uma heresia. Muito menos a possibilidade teórica de que tanto o governador do Estado como a índice de rejeição podem atuar favoravelmente na quebra do potencial de votos de Carlos Grana. Afinal, não é tão grande assim a distância que separa o candidato petista do trio que divide esquálidos índices.
Paulinho Serra desafiado
Talvez a pergunta mais instigante que os números da primeira rodada da pesquisa do DataRegional sugerem é até que ponto Paulinho Serra desmontará o sonho do PT de Carlos Grana chegar ao segundo turno, considerando-se que parece pouco viável que Aidan Ravin seja deslocado de uma das duas primeiras posições tendo o dobro de intenção de votos em relação ao nível de rejeição.
O quadro político e econômico nacional, que tem sim muita influência no eleitorado de regiões metropolitanas, provavelmente decidirá o rumo de boa parte dos votos dos 40% que ainda não escolheram nenhum candidato em Santo André. E nesse ponto o eleitorado popular, formado pela Classe C e pela Classe D, terá papel significativo. Os números do Instituto DataRegional indicam que esses dois segmentos sociais apresentam maiores índices de resistência aos candidatos listados em Santo André.
Na Classe C, os votos em branco, nulos e dos indecisos formam um exército de 45,22%, 6,60 pontos acima da média geral do eleitorado pesquisado. Já entre os eleitores da Classe D, nada menos que 73,68% compõem o contingente provisório de desiludidos com a política ou que seguem sem saber a quem destinar o voto.
Populares mais arredios
Talvez o contingente de votos nulos, em branco e de indecisos seja má notícia para Paulinho Serra, cuja maior densidade eleitoral está nas áreas centrais de classe média tradicional de Santo André. Tanto a Classe A como a Classe B se manifestaram mais intensamente na escolha de um dos nomes da lista do DataRegional. Tanto é verdade que na Classe A o total de votos ainda desperdiçados (branco, nulos e de indecisos) é de 34,85%, um pouco abaixo da média geral, enquanto na Classe B o total alcança 25,53%.
Preliminarmente, como se pode observar, as potenciais maiores mudanças do eleitorado em Santo André estão concentradas nas classes mais populares, áreas nas quais Aidan Ravin e Carlos Grana contam com a preferência do eleitorado. Não está descartada a possibilidade de que esse seja um vetor decisivo à transposição dos dois candidatos ao segundo turno.
Classe média com Aidan
Supostamente, essa seleção natural dos eleitores indicaria o encaminhamento do resultado da disputa entre Aidan Ravin e Carlos Grana a um segundo turno em que o peso da classe média tradicional de Santo André se faria decisivo. Aidan Ravin leva nítida vantagem nesse critério, beneficiado pelos estragos federais dos petistas. Aidan Ravin tem 42,64% dos votos nos dois segmentos sociais, contra 20,24% de Carlos Grana.
O Instituto DataRegional estratifica as classes sociais de acordo com o padrão nacional. Os integrantes da Classe D têm renda familiar de zero a um salário mínimo, da Classe C de dois a cinco salários mínimos, da Classe B de seis a 10 salários mínimos e de Classe de renda familiar de 11 a mais que 20 salários mínimos. Santo André conta com 23,25% de moradores da Classe A, 30,09% da Classe B, 37,41% da Classe C e 9,25% da Classe D.
Para construir a primeira rodada de projeções eleitorais em Santo André o Instituto DataRegional trabalhou com 8.937 questionários respondidos completamente por 15 mil endereçados, situação que reduz a margem de erro a 2,7 pontos percentuais. Ou seja: o índice de confiabilidade ultrapassa a 97%.
Confronto com DataDiário
Numa comparação com a segunda rodada da pesquisa realizada pelo DGABC Pesquisas, o qual chamamos de DataDiário, do Diário do Grande ABC, há semelhanças e diferenças. Publicada em dois de agosto último, a pesquisa do DataDiário identificou 39,3% de eleitores distantes da disputa, como indecisos (9,5%) ou dispostos a votar em branco ou nulo (29,8%). Aidan Ravin liderou a disputa de votos estimulados com 21,8%, contra 15,5% de Carlos Grana e 11,3 de Raimundo Salles, num primeiro cenário. Num segundo cenário, Aidan Ravin contava com 28% dos votos, Carlos Grana com 15,5% Raimundo Salles com 9,5% e Paulinho Serra com 6,3%. Zacarias não constou de nenhuma das duas listas apresentadas aos entrevistados.
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