Política

Morando está pouco à frente de
Manente; Tarcísio tem um dígito

DANIEL LIMA - 12/11/2015

A disputa eleitoral para a sucessão do petista Luiz Marinho em São Bernardo, em outubro do ano que vem, está longe, muito longe, de um mínimo do que se poderia chamar de aquecimento das turbinas. Nestes tempos de Petrolão e de recessão, seria surpreendente, quando não inexplicável, esperar que o candidato do Paço Municipal, o ex-sindicalista Tarcísio Secoli, acenasse com a possibilidade de acumular boa reserva de votos que o embalasse a uma disputa parelha.


 


A primeira rodada de pesquisas do Instituto DataRegional, interpretada pela Consultoria DLC, deste jornalista, indica que Orlando Morando (PSDB) e Alex Manente (PPS) são os favoritos. Morando conta com 18,91% dos votos estimulados, contra 15,23% de Alex Manente e 7,36% de Tarcísio Secoli. Tudo somado, juntando-se 9,4% destinados a outros candidatos, o acumulado de votos mal ultrapassa metade do eleitorado. Entre votos em branco e votos nulos, além de indecisos, o pelotão de deserdados da política chega a 49,1%. Mais que o registrado em Santo André e pouco menos que em Mauá.


 


A grande dúvida que paira no ambiente político em São Bernardo é a projeção dos votos que teriam como destino o candidato petista que atuou nos últimos anos como secretário de Obras, depois de, nos primeiros anos da Administração Luiz Marinho -- e novamente agora -- atuar como espécie de secretário dos secretários – menos em relação à primeira dama e secretária Nilza de Oliveira, com abrangente ação administrativa.


 


Oponentes fortes


 


Até que ponto Tarcísio Secoli vai decolar se o ambiente macronacional de escândalos e penalidades da Operação Lava Jato seguir efervescente e, também, se o PIB (Produto Interno Bruto) continuar a embicar? Mais ainda: como serão os próximos meses de emprego industrial, já bastante inquietante mas que poderá se tornar insustentável com a extensão da escassez de demanda principalmente no setor automobilístico?


 


A introdução do PPE (Programa de Proteção ao Emprego) aliviou a barra de montadoras e de algumas médias empresas da região, mas a legislação estabelece prazo de validade de socorro com dinheiro público. Será que a corda esticada para proporcionar transição menos dolorosa será rompida justamente durante o período pré-eleitoral?


 


Tudo isso e muito mais colocam Tarcísio Secoli na corda bamba como candidato petista. Não bastassem esses obstáculos circunstanciais, ainda pesa como indicativo de que sua candidatura está fadada a sofrer grandes solavancos o perfil dos dois principais rivais.


 


Orlando Morando e Alex Manente são jovens e ocupam titularidade em dois legislativos importantes: Morando é deputado estadual e Alex Manente, depois de duas legislaturas como deputado estadual, foi eleito deputado federal. Tanto um quanto outro foram os concorrentes mais votados em São Bernardo nas eleições proporcionais do ano passado. Morando foi mais longe: bateu com mais de 100 mil votos a soma dos três candidatos, igualmente eleitos, do PT em São Bernardo – Luiz Fernando Teixeira, Ana Maria do Carmo e Teodonílio Barba. Cada um deles representa um espectro socioeconômico. Barba é sindicalista, Ana do Carmo tem relações com movimentos sociais e Luiz Fernando Teixeira envolve-se com esporte e manifestações religiosas. 


 


Entretanto, pode estar enganado quem acredita que o jogo que já está sendo jogado em São Bernardo para ver quem substitui Luiz Marinho no comando do Paço Municipal é um jogo de cartas marcadas que instalam Tarcísio Secoli irremediavelmente nas cordas. Chegar ao segundo turno é uma meta que, apesar dos pesares, pode parecer factível desde que os estragos na imagem do PT em São Bernardo não tenham sido semelhantes ao que ocorreu na média de regiões metropolitanas brasileiras. São poucos os indicativos nesse sentido.


 


Concentrando pancadarias?


 


A força do sindicalismo e o carisma do ex-presidente Lula da Silva, entre outros apetrechos, deverão invadir as ruas, os lares, os bares e as fábricas. Perder o jogo no próprio campo é inaceitável para o PT que durante muitos anos negligenciou a importância de São Bernardo como símbolo de resistência ao autoritarismo fardado. Luiz Marinho foi escalado para tanto. O que restaria desse discurso histórico como força de resistência aos fatos mais que desastrosos que ocupam a mídia há tanto tempo?


 


Eventuais mútuas hostilidades dos jovens Alex Manente e Orlando Morando poderão definir a sorte de Tarcísio Secoli na luta pelo segundo turno. Até que ponto eles correrão na própria raia e, mais que isso, até que situação vão concentrar artilharia na candidatura petista? Provavelmente até sentirem que Tarcísio Secoli está fora de combate. E como Orlando Morando e Alex Manente direcionariam estocadas ao candidato petista sem correr o risco de mais perder do que ganhar votos num eventual segundo turno? Bater no PT seria o esporte favorito dos dois deputados?


 


E se o candidato petista avançar nas pesquisas, como se comportarão Orlando Morando e Alex Manente em defesa do eleitorado que já não quer mais ouvir falar do PT? Se apenas uma vaga estiver em disputa, como eles vão se manter distantes de um conflito mais candente em busca de votos?


 


Alex Manente carrega o fardo histórico de ter-se aliado a Luiz Marinho na campanha de 2008, ajudando a eleger o petista justamente contra Orlando Morando.  Quatro anos depois, Alex Manente concorreu sozinho com Luiz Marinho e obteve 30% dos votos válidos. O tucano Orlando Morando preferiu recolher-se diante do que chamou de avalanche de investimentos de apoiadores da campanha do petista num ambiente em que o PSDB estava fragilizado na região. Diferentemente de agora.


 


Influência do passado?


 


Embora haja resistência dos pensadores políticos em admitir que eleições para o governo do Estado e para a presidência da República tem baixa influência nas disputas municipais, convém prestar atenção aos resultados do ano passado para o Palácio dos Bandeirantes e Palácio do Planalto. Convém lembrar também que até então o escândalo da Petrobras mal ganhara as manchetes. Não se tinha a dimensão dos destroços na imagem do PT.


 


O governador do Estado, Geraldo Alckmin, obteve 45,23% dos votos do turno único em São Bernardo. Muito acima do candidato petista Alexandre Padilha, que somou 28,15%. Quando incorporados os 23,51% de votos do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, mais à centro-direita do espectro ideológico do que à centro-esquerda do PT, o resultado foi mais desastroso à Administração Luiz Marinho, chefe da campanha da presidente Dilma Rousseff no Estado.   A mesma Dilma Rousseff que também perdeu a disputa em São Bernardo: o tucano Aécio Neves obteve 36, 25% dos votos, contra 32,79% da presidente reeleita graças à votação em Minas Gerais, Norte e Nordeste do País. Os 25,23% de Marina Silva são ideologicamente mais à esquerda de Aécio Neves, mas não podem se juntar compulsoriamente ao estoque de Dilma Rousseff. Elas trocaram ácidas críticas durante a campanha, principalmente após Marina Silva despontar como eventual principal adversária da petista. 


 


Outros candidatos


 


O que a primeira pesquisa do Instituto DataRegional indica, além de quase congelamento do ambiente eleitoral, é que há mais munição para especulação do que para convicções. O registro de 9,4% de votos a outros candidatos – não nominados na pesquisa -- poderia reforçar os quase 50% de eleitores que votariam em branco, nulo ou estão indecisos. Afinal, nenhum dos três principais concorrentes foi escolhido. Para onde irão esses votos?


 


Um outro aspecto da pesquisa endurece ainda mais o jogo de recuperação para Tarcísio Secoli: 41,6% dos eleitores rejeitam o candidato petista. Quem melhor se saiu na resposta foi Orlando Morando, que registrou apenas 19,5% de rejeição, contra 38,9% de Alex Manente. A evolução desses níveis individuais também operará de forma incisiva na remontagem dos números da primeira rodada. Acredita-se que haja volatilidade intensa porque a campanha eleitoral ainda não está devidamente posta aos olhos dos eleitores. Nesse ponto, quem deve se preocupar mais é o candidato petista. A histórica integridade da marca que representa pode se tornar um estorvo e tanto. Ou seja: a rejeição a um candidato petista é mais acentuada do que o mesmo sentimento a representantes de outros partidos.


 


Como nos casos dos petistas Carlos Grana (Santo André) e Donisete Braga (Mauá), Tarcísio Secoli só lidera entre os eleitores da Classe D, que, no caso de São Bernardo, representam 21,78% da população. E mesmo assim, como nos dois casos, por margem de votos muito menos densa do que no passado em que o PT nadava de braçadas com políticas sociais, baixa inflação e muito crédito. Na Classe A e na Classe B a situação do petista é inquietante, com menos da metade do percentual de votos de Morando e Manente.


 


A pesquisa do DataRegional considera 7.612 respostas de 12 mil entrevistados e foi realizada entre 16 e 26 de outubro. 


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