O deputado estadual Luiz Fernando Teixeira disse ontem em entrevista ao Diário do Grande ABC que o PT deverá enfrentar o tucano Orlando Morando no segundo turno das eleições municipais do ano que vem. Tarcísio Secoli é o candidato petista, apoiado por Luiz Marinho. Luiz Fernando Teixeira era cotadíssimo à disputa até que a casa da probabilidade de juntar as diversas vertentes do PT se tornou inviável em São Bernardo. Ele não é exatamente um amigo de todas as horas de segmentos ideológicos do PT dominados por sindicalistas e por movimentos sociais. Mas isso não interessa agora.
O que se discute é por que o deputado que também preside o São Bernardo Futebol Clube disse o que disse ao jornal. São algumas as explicações à mensagem subliminar da entrevista. Mensagem subliminar é algo que se esconde nas entrelinhas e, ao contrário do que se imagina, poucos leitores são capazes de decifrar – situação que eleva o potencial de doutrinação psicológica.
Para que os leitores entendam bem o que pretendo decifrar, para que não haja dúvida alguma, vou transcrever os trechos mais importantes da reportagem Diário do Grande ABC sob o título “Luiz Fernando não fala em derrota para Tarcísio e vê duelo com Morando”:
Pouco mais de um mês depois de ser preterido pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, para vaga de representante do petismo no pleito municipal do ano que vem, o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira admitiu ontem que “não recebeu com frustração” a definição em torno do secretário de Serviços Urbanos, Tarcísio Secoli. Confirmado como um dos coordenadores de campanha do PT, o parlamentar destacou ainda que prevê a disputa eleitoral rivalizada com o deputado estadual e pré-candidato a prefeito pelo PSDB, Orlando Morando, tirando da corrida o deputado federal Alex Manente (PPS). (...) Para a disputa, Luiz Fernando elegeu Morando o candidato a ser batido, acreditando que o tucano tem mais musculatura partidária para o embate do que o popular-socialista. “Respeito demais o Alex, porém, acho que lhe falta time, grupo. Isso o Morando tem. O PT também está com suas forças respaldadas e diante dessa análise vejo polarização entre nós e os tucanos”, comentou Luiz Fernando. O parlamentar prevê dificuldade ao petismo, no entanto, vê algumas fraquezas na candidatura tucana. “O Morando tem rejeição por representar figura do passado. Do governo (prefeito William) Dib (do PSDB, entre 2003 e 2008). A gestão do PT está na frente em comparativos. Além disso, o Tarcísio, que está melhorando politicamente, está com percentuais melhores do que o Marinho em 2008”, concluiu.
Fatiamento de explicações
Vamos, agora sim, a algumas considerações sobre as declarações de Luiz Fernando Teixeira:
Primeiro: Ao apontar Orlando Morando como candidato de segundo turno contra o petista Tarcísio Secoli, LFT deixa subtendido que o PT não infligirá a Alex Manente discurso desclassificatório na campanha eleitoral porque o tem como aliado iminente. O grupo de Luiz Marinho e o grupo de Alex Manente têm mais afinidades do que se imagina. Pergunte a quem frequenta o Legislativo de São Bernardo como são as relações de fato, não aparentes, da bancada do PPS, o partido de Manente, e a Administração Luiz Marinho. Liderado por Julinho Fuzari, o agrupamento de vereadores é linha auxiliar do prefeito de plantão. Há oposicionismo que não se confirma na prática. Um exemplo claro: Fuzari alardeou investigar pelo menos dois escândalos clamorosos da gestão petista, os casos OAS e o caso da MBigucci, do empreendimento Marco Zero. Tudo para inglês ver. Acordos de bastidores mataram os dois movimentos praticamente no nascedouro. É claro que o encontro das águas não foi apenas pelos cabelos sempre alinhados do prefeito petista. Ou seja: Manente é visto como companheiro em potencial que precisa ser preservado tanto quanto controlado para não ameaçar a participação do candidato petista no segundo turno. Minimizar a candidatura de Alex Manente sem hostilizá-lo é uma maneira de tê-lo como parceiro de jornada.
Mais explicações
Segundo: ao apontar Orlando Morando como concorrente maior, Luiz Fernando Teixeira sinaliza a ideia de que a cúpula petista em São Bernardo pretende polarizar a disputa pela Prefeitura desde já, de modo a matar a possibilidade de o partido ser superado pelos dois jovens deputados e com isso ficar de fora do segundo turno. É preciso escolher um adversário desde agora para tentar vender a ideia de que o PT não coloca em dúvida a passagem ao segundo turno.
Terceiro: ao escolher Orlando Morando como adversário, o PT tem a perspectiva de que, aliado a Alex Manente no segundo turno, jogará o tucano Orlando Morando numa faixa eleitoral conservadora, que seria rejeitada pela coalização com Alex Manente, tido como de centro-esquerda. Daí, a vinculação de Orlando Morando ao ex-prefeito William Dib, que sofre forte rejeição do eleitorado de centro-esquerda de São Bernardo. O projeto é colar em Orlando Morando o adesivo depreciativo de direitista num Município em que a maioria do eleitorado está concentrada entre o centro, a centro-esquerda e a esquerda. Não se pode esquecer que Alex Manente apoiou o então candidato Luiz Marinho no segundo turno das eleições de 2008, isolando Orlando Morando, e na eleição seguinte, sem Morando, concorreu sabidamente com Luiz Marinho apenas para marcar presença. Dinheiro grosso tornou a reeleição de Marinho uma barbada. Diferentemente do que provavelmente teremos no ano que vem, sob os efeitos da Operação Laja Jato e de uma recessão econômica que desemprega o principal filão petista -- os metalúrgicos do setor automotivo.
Tendência pró-Morando
Observados esses pontos, não custa lembrar que pesquisas identificam os eleitores menos doutrinados de Alex Manente muito próximos também de Orlando Morando. Seriam 70% do eleitorado de Manente potencialmente favoráveis a Orlando Morando num segundo turno. Até que ponto Manente repetiria o alinhamento com o PT de 2008? Tudo indica que é mais provável que ceda ao petismo, caso fique mesmo fora do segundo turno, mas se manterá discretamente na torcida contra Orlando Morando. No máximo, liberaria apoiadores mais próximos a se juntarem ao candidato petista, não se expondo publicamente.
Alex Manente é considerado extremamente prático. Isso significa que a certeza de que estava dando um tiro eleitoralmente certíssimo ao se juntar a Luiz Marinho em 2008 não será necessariamente replicada no ano que vem. Entre outros motivos, além do ambiente político macronacional, o cenário interno seria muito menos favorável à perspectiva de avanço do petista Tarcísio Secoli rumo à maioria de votos.
É totalmente descabida a comparação de Luiz Fernando Teixeira, que opõe os votos detectados agora em favor de Secoli aos votos potenciais de Luiz Marinho, manifestados em pesquisas no mesmo período do ano que antecedeu a disputa. O contexto era completamente diferente tanto no ambiente local quanto principalmente nacional.
O presidente Lula da Silva, patrono de Marinho, navegava em águas plácidas. Sobre o PT de agora é dispensável utilizar qualquer adjetivo. Tarcísio Secoli também não tem a proeminência pública de Luiz Marinho, o qual ocupara pouco tempo antes o Ministério do Trabalho e o Ministério da Previdência Social. A visibilidade numa região gataborralheiresca costuma fazer a diferença. Para o bem e para o mal, claro. Como agora, evidentemente.
Um novo figurino
O jogo de compadres de Luiz Marinho e Alex Manente em 2012, antecedido pelo jogo casadinho de 2008, provavelmente não se repetirá no ano que vem. Há uma candidatura agora potencialmente robusta de Orlando Morando no meio do caminho. Tudo que o PT não gostaria de ter, principalmente porque o jovem deputado estadual terá o apoio de Geraldo Alckmin. Medida que parece suficiente para fazer de Alex Manente um parceiro provavelmente a roer a corda. Como os políticos asseguram que é praticamente impossível Secoli e Manente irem juntos ao segundo turno, porque há faixas eleitorais que se confundem e canibalizam uma das candidaturas, Luiz Fernando Teixeira teria exercitado apenas o óbvio na entrevista ao Diário. E, quem sabe, colocou Alex Manente em posição incômoda como aliado disfarçado de candidato não necessariamente favorável ao petismo, mas discretamente hostil a Orlando Morando.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)