Estão bombando nas redes sociais as declarações da deputada federal tucana, Mara Gabrilli, sobre o caso Celso Daniel. Enfrentar Mara Gabrilli é parada indigesta. Ela é inteligente, articuladíssima, mulher e deficiente física. Ou seja: tem o que chamaria de requisitos que lhe dão, de cara, enorme vantagem sobre eventuais oponentes ou, como vou mostrar, sustentado contraditor. Retirar do domínio de Mara Gabrilli a verdade dos fatos é tarefa árdua. Quase impossível. Mesmo que ela esteja redondamente enganada. Como está. E já cansei de provar.
Deixemos de lado o aspecto criminal do caso Celso Daniel, sobre o qual o Judiciário recentemente se pronunciou e sobre o qual também Mara Gabrilli faz avaliação impiedosa aos três condenados pela juíza da 1ª Vara de Santo André -- principalmente a Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC.
Vou me ater às declarações de Mara Gabrilli sobre o assassinato de Celso Daniel e, mesmo assim, com brevidade. As declarações da deputada que, dizem, teria disposição de concorrer à Prefeitura de Santo André, são contraditórias, quando não desconexas. Mas, reconheço, estão protegidíssimas pelo histórico e brilho pessoal da deputada.
Existe por parte da deputada tucana, da mesma forma que existiu por parte da força-tarefa do Ministério Público que atuou no caso, uma evidente tentativa de amenizar a participação de Celso Daniel no esquema de propina no setor de transporte público que, segundo a deputada, causou muitas dores familiares. Como não cola mais o que se pretendeu desde o início das investigações do MP – a lorota de que Celso Daniel se insurgiu contra o esquema de propina – massifica-se a premissa de que, conhecedor da metodologia que mais tarde serviria de laboratório às roubalheiras nacionais petistas, Celso Daniel pretendia acabar com a festança geral porque assumira a coordenação do programa de governo do então candidato presidencial Lula da Silva. Nada mais falso, nada mais falso. É conversa para boi dormir.
Maior de todos
Quem acompanha este jornalista sabe muito bem que não existe na mídia nacional alguém que se tenha dedicado tanto a resgatar e a valorizar o legado político-administrativo do petista, o maior prefeito dos prefeitos da história da região.
Entretanto, reconhecer virtudes gerenciais de Celso Daniel não o transforma em santo ético e moral. Celso Daniel não só permitia como estimulava, discretamente, as operações de arrecadação de fundos partidários irregulares em Santo André. Exatamente por isso, mais até que o brilhantismo intelectual, galgaria espaços na hierarquia petista nacional. Afinal, há dois caminhos profícuos a pavimentar a mobilidade corporativa petista: ser amigo de Lula da Silva – caso específico de Luiz Marinho, entre tantos outros – ou somar a eventual exuberância intelectual capacidade imensa de gerar dinheiro para o partido. Celso Daniel não era próximo a Lula o suficiente, porque o PT de Santo André, de então, não reunia o mesmo perfil do petismo em São Bernardo, incubadora de Lula.
Ratificando, então, a história do caso Celso Daniel que Mara Gabrilli transpõe com baixo conhecimento porque multiplicou informações de forma enviesada e contaminada pelos efeitos deletérios do escândalo no setor de transporte coletivo de Santo André: o então prefeito de Santo André jamais proporia a ruptura do processo arrecadatório, mesmo com os supostos desvios, porque desvios de recursos financeiros irregulares são rotina que o escândalo da Petrobras confirma.
Celso Daniel estava comprometido até a medula ideológica com os pressupostos de tomada de Brasília naquele 2002 que prenunciava eleições presidenciais bastante factíveis à vitória petista.
Santidade exagerada
A série de investigações da Polícia Civil – do governo do Estado tucano – e a investigação da Polícia Federal não deixam brechas legais sobre os acontecimentos que determinaram a morte do prefeito de Santo André. Ouvi todos os lados, jamais politizei a questão e não tenho dúvida sobre o assassinato físico de Celso Daniel e o assassinato moral de Sérgio Gomes da Silva, boi de piranha que a mídia em larga escala discriminatória o chamava e ainda o chama de Sergio Sombra. Inclusive a deputada Mara Gabrilli.
Celso Daniel foi o mais brilhante homem público que a Província do Grande ABC já teve. Aliás, vivo estivesse, não teria este jornalista o desassombro de chamar esse espaço territorial de Província do Grande ABC. Celso Daniel conferia grandeza à região. Entretanto, a criminalização de Sérgio Gomes como contrapartida à quase santificação do então prefeito de Santo André é um descalabro.
Por mais desagradável que possa parecer, não é justo que Celso Daniel seja retirado da cena do crime de administração voltada entre outras vertentes ao fortalecimento do caixa petista.
Total de 193 matérias | Página 1
11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP