Caso Celso Daniel

Grandes jornais ignoram 14 anos
da morte de Celso Daniel. Pode?

DANIEL LIMA - 20/01/2016

Nenhum dos grandes jornais impressos editados em São Paulo (Estadão, Folha e Valor Econômico) faz qualquer referência neste 20 de janeiro ao 14º ano da morte do prefeito Celso Daniel. Na região, o Diário do Grande ABC publicou matéria confusa que fugiu da raia do cerne da questão, ou seja, o imbricamento da morte do prefeito e as denúncias de irregularidades administrativas. Salvo engano, nenhum dos demais veículos locais, inclusive digitais, dá a menor bola ao assunto. Quem está equivocado nessa história? Os grandes jornais que supostamente se omitiram, o Diário confuso ou os demais veículos locais que ignoraram o assunto? Todos, rigorosamente todos, demonstraram que o jornalismo está mesmo em crise.


 


Não preparei matéria especial sobre o caso Celso Daniel para esta data porque ainda recentemente me antecipei e abordei o assunto, de forma inédita, correlacionando-o (esse é o mote, gente) ao processo de deterioração do PT.


 


Se durante todos os anos dedicados ao caso Celso Daniel (não há na praça nacional alguém com esse currículo) sempre tomei muito cuidado ao não misturar as bolas, não pude resistir aos desdobramentos do escândalo da Petrobras para preparar texto explicativo, disponível logo abaixo.


 


Não misturar as bolas quer dizer que o crime do qual foi vítima o prefeito mais brilhante que esta Província já conheceu não tem ligação alguma com o laboratório de arrecadação de fundos do PT em Santo André.


 


Operação silenciadora


 


Como se sabe, embora não se fale com todas as letras, Celso Daniel era um dos participantes daquelas operações, não vítima como tentou fazer crer o Ministério Público Estadual em atrapalhadas investigações. 


 


Por determinação do governador Geraldo Alckmin, atingido pelo PT logo após o sequestro, o MPE instalou força-tarefa em Santo André. Tudo para melar o jogo da versão de crime de ocasião, mais tarde provado e comprovado em intensas investigações policiais. 


 


A grande matéria que os veículos impressos de maior porte poderiam ter destrinchado seria a especificação da bobagem em forma de versão de crime de encomenda, do qual Sérgio Gomes da Silva-- Sérgio Sombra, segundo maliciosa e desclassificatória caracterização nominal do acompanhante de Celso Daniel naquela noite -- teria tido participação incisiva.


 


Não é nada agradável a quem, como este jornalista, sempre alçou Celso Daniel a uma categoria muito especial de gestor público, ter de admitir que ele no mínimo assistia de camarote o que o Sistema Judiciário vem revelando como ação sistêmica de desvios de recursos públicos para o PT e também para bolsos particulares em Santo André.


 


Crime de ocasião


 


Exatamente para não meter a mão numa cumbuca que parecia complexa demais, jamais as matérias que preparei sobre o caso Celso Daniel saíram da bitola do crime propriamente dito. Pela simples razão, segundo todas as investigações da Polícia Civil e da Polícia Federal, de que o infortúnio se restringia ao campo criminal.


 


O Ministério Público deslocou a morte de Celso Daniel à esfera da gestão de Celso Daniel, embalado pela insanidade partidária e ideológica da grande mídia avessa ao petismo. Uma enfermidade que, nestes tempos de Petrolão, serve espertamente de defesa aos delinquentes comprovadamente desmascarados pela Operação Lava Jato.


 


Essa mesma grande mídia que, fosse mais competente, teria investido para valer e continuamente no outro lado da moeda -- o lado da gestão petista -- e quem sabe teria antecipado os escândalos do mensalão e do Petrolão sem, portanto, ficar à reboque de delatores premiados.


 


Mas, paradoxalmente, a grande mídia optou sempre por cultivar a barbeiragem de crime de encomenda porque era isso que mais lhe convinha em oposição ao PT. Se avançasse mais teria descoberto a ponta do novelo de traquinagens administrativas do PT, embora perdesse, com isso, a tese de assassinato de um santo homem que chefiava a Prefeitura de Santo André.


 


O caso Celso Daniel é emblemático do quanto a imprensa verde e amarela joga pela janela da preguiça, da negligência e da estupidez ideológica, quando não mercantilista, uma grande oportunidade de produzir o que produziram os jornalistas do The Boston Globo – série de reportagens sobre enxurrada pedófila envolvendo membros da Igreja Católica, gênese do antológico filme Spotligth.


 


Sozinho, com a cara, a coragem, determinação e independência ideológica, fiz o papel de uma equipe inteira de jornalismo e produzi ao longo dos anos tudo que era importante sobre a morte do prefeito Celso Daniel. Paguei caro por tamanha insensatez individual. Paguei e pago. Há instâncias do Ministério Público Estadual que não me perdoam por isso.


 


Silenciando a verdade


 


Os jornais diários preferiram o tempo todo repassar informações principalmente do Ministério Público que, favorecido durante três anos de silêncio imposto pelo governo estadual à Polícia Civil, montou uma narrativa frágil, insustentável. Tanto que a base da condenação dos bandidinhos pés de chinelos que sequestraram Celso Daniel está pautada pelas investigações policiais.


 


O problema maior de quem constrói cenários em desacordo com os fatos é que há sempre a possibilidade de os fatos emergirem um dia. E acabaram emergindo com o escândalo da Petrobras que, entre outras lições, deixou evidente que ninguém mata a galinha de ovos de ouro.


 


Ou os leitores têm dúvidas de que o montante financeiro disputadíssimo nos escaninhos do poder da maior empresa do País eram muito maiores que o caixa dois e o caixa três na Prefeitura de Santo André?


 


A versão de que Celso Daniel se rebelou contra os parceiros de jornada quando, como se sabe, se preparava para levar os parceiros de jornada à campanha presidencial de Lula da Silva, não passa de anedota. Tanto quanto a lista de supostos assassinatos de gente que faria parte do enredo do caso Celso Daniel.


 


Leiam, portanto:


 


Petrolão confirma inocência de Sérgio Gomes. E agora, Justiça? 


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