Um especialista em cadeias produtivas confirma: o futuro do Grande ABC é de plástico. João Luiz Zuñeda, executivo da MaxiQuim, consultoria de Porto Alegre contratada em 1999 para aprofundar o estudo encomendado pelo Sebrae sobre a cadeia petroquímica da região, afirma em entrevista via e-mail que o Grande ABC está perdendo a disputa pela competitividade no setor de plástico porque falta integração de interesses. Ele garante também que as conclusões do trabalho, apresentadas em abril de 2001, não tiveram ações efetivas. Exatamente porque prevalece o municipalismo e a improvisação nas pastas de Desenvolvimento Econômico.
Quais os principais problemas e o grau de dificuldades encontrados no parque industrial de transformação de plástico do Grande ABC na pesquisa encerrada em abril de 2001?
João Luiz Zuñeda — Através da avaliação econômica, industrial e de mercado da indústria de plástico do Grande ABC, concluímos uma sinalização da vocação da região para esse gênero da indústria de transformação. O processo é dinâmico e o cenário apresentado representa o ponto de partida para construção do desenvolvimento sustentado, integral, baseado em condições reais de uso e padrões próprios de desenvolvimento e competitividade.
Assim, pode-se dizer que o estudo oferece indicadores e parâmetros medidos no tempo zero. Medidas no tempo qualificam informações e dados coletados, pois mostram relações de causa-efeito de forma intensiva e são necessárias para melhor descrever o setor.
Como primeiro entrave, não identificamos a vontade do setor e das instituições em procurar dar seguimento à avaliação. O trabalho mais difícil e complexo foi feito, ou seja, um censo buscando todas as empresas do setor do Grande ABC. Dessa maneira, as informações sempre se manterão qualitativas: a região está perdendo investimentos, a região está reduzindo o emprego etc. E os dados que suportam tais informações, onde estão? Trabalhos semelhantes como esse,
O que seria necessário para minimizar ou resolver esses problemas?
João Luiz Zuñeda — O trabalho mostra que o Grande ABC possui indústria de plástico diferenciada tecnologicamente, indicando fortalecimento nas áreas de manutenção, acompanhamento de produto, controle de estoques, instalações fabris e organização administrativa. O predomínio é de pequenas empresas.
A região teria que integrar esforços, potencializando aspectos positivos, para fazer frente a outras regiões de São Paulo e outros Estados, mais agressivos na prospecção de novos investimentos.
É isso que os empresários estão esperando. Existem boas escolas técnicas na região, participação intensa do Sebrae e vontade política. Faltam os elos ficarem mais próximos, senão fica difícil encontrar solução de crescimento.
Que tipo de iniciativa o Grande ABC teria que ter tomado para transformar a indústria de plástico em alternativa econômica ao esgotamento da indústria automotiva como fonte de novas receitas tributárias e de emprego? O senhor apostaria no plástico como matriz de melhoria do desempenho industrial do Grande ABC em vez de se martelar na cadeia automotiva que foi descentralizada e cada vez mais se contrai em produção e empregos na região?
João Luiz Zuñeda — Observando a natureza das atividades e sua intensidade na região, em termos de pontos fortes e pontos fracos das organizações, percebe-se um conceito de tecnologia focado em processo e produto. Isso significa que o foco está voltado para a máquina e o que dela é obtido, sem concentrar necessária atenção nas relações com o meio. Até mesmo o conceito de produto mostra-se um pouco limitado. Acredito que, em muitos casos, isso ainda guarda o sentimento de que a indústria do plástico do Grande ABC é muito dependente da indústria automobilística.
Já existem muitas empresas importantes na região que são fornecedoras de outras cadeias industriais (alimentos, eletroeletrônica, agronegócio etc.). É necessário aprofundar esse conhecimento e ir
Pelos números do Sebrae, em estudos que culminaram com a pesquisa de sua empresa, o Grande ABC contava com 10% do volume de produção do setor transformador de plástico no Brasil. Isso continua atual e significa a liderança no País?
João Luiz Zuñeda — A indústria do plástico do Grande ABC é um Estado, ou seja, emprega, consome e produz como muitas unidades da Federação brasileira. Não é a liderança, mas fica no patamar de um Estado como o Rio Grande do Sul, com perfil produtivo e de número de empregos muito similar.
Também pelos números do Sebrae, o Brasil consumia em média 12 quilos de materiais plásticos por pessoa/ano em 1998, contra 100 quilos dos Estados Unidos. Esses números foram alterados significativamente?
João Luiz Zuñeda — Para ver como a indústria do plástico cresce no Brasil, atualmente, ou seja, em 2002, o consumo de plástico ficou próximo a 22 quilos por habitante por ano. A tendência de substituição por outros materiais cresce de forma expressiva. O plástico no Brasil não cresce mais, comparando economias como a brasileira e não com os Estados Unidos, só porque a renda de nossa população ainda é pequena e está estagnada nos últimos anos.
Em que prazo seria possível tornar o segmento de plástico carro-chefe de um setor industrial que, como um todo, tem sofrido muitos revezes?
João Luiz Zuñeda — Com uma articulação entre governos municipais, Câmara do Grande ABC, Sebrae, empresários e empregados da indústria do plástico, petroquímicas, com a ajuda da Imprensa local para avaliação e divulgação dos resultados, dados positivos começariam a aparecer em um a dois anos.
Tem que ocorrer integração entre todos os elos. Isso já acontece
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira