Política

Como Província reagirá aos
efeitos eleitorais na Capital?

DANIEL LIMA - 21/01/2016

Não há  estudo que dê resposta confiável ao título deste artigo, mas não temo dizer que muito do que decorre da percepção popular da gestão petista em São Paulo, para o bem e para o mal, pode ser replicado em doses assemelhadas nas eleições do ano que vem na região.


 


Como a Rede Nossa São Paulo e a Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) acabam de divulgar uma ampla pesquisa realizada pelo Ibope na Capital, é melhor os petistas da região botarem as barbas de molho. A contaminação do ambiente da Cinderela nos territórios locais da Gata Borralheira pode minar ainda mais as bases de votação dos petistas.


 


Os números do Ibope indicaram que mais da metade da população de São Paulo (56%) considera a gestão do prefeito Fernando Haddad como ruim ou péssima. Dos entrevistados, 31% avaliaram a gestão como regular e 13% como ótima ou boa. Como desprezar os efeitos da estrela vermelha? Não se trata de paranoia de quem enxerga política em tudo.


 


Ou não vale nada a constatação de que um quarto da população economicamente ativa da região trabalha em São Paulo. Ou que a TV que assistimos todos os dias é predominantemente dominada pela pauta paulistana. Somos Província, como se sabe.


 


Quem considera que o dia a dia de casa para o trabalho e do trabalho para casa de um entre quatro trabalhadores da região que atuam em São Paulo e a maciça cobertura jornalística sobre política nacional nestes tempos de cacete puro no PT não vão influenciar o que chamaria de voto metropolitano é ruim da cabeça econômica ou doente do pé partidário.


 


Metropolização insana


 


O mau humor generalizado com a esfera pública na Capital possivelmente não é diferente do que encontramos na região. Só faltaria uma pesquisa análoga àquela para tirar as dúvidas, se dúvidas existirem. Somente os bajuladores inveterados e os irresponsáveis sociais que temos às pencas são capazes de tentar vender gato de prostração social por lebre de conformismo circunstancial. O buraco é mais embaixo. A sociedade das metrópoles está de saco cheio com tanta incompetência cumulativa dos gestores públicos. Gente que só pensa na próxima eleição. E que faz de tudo para ludibriar o distinto público com o sequestro da mídia vulnerável.


 


Já lamentei em artigo escrito há algum tempo a inexistência regional de uma instituição que se inspirasse na Rede São Paulo. O coordenador-geral da instituição é um nome de peso na Capital entre aqueles que acreditam na possibilidade de haver uma esquina de futuro onde os olhos comuns se limitam a enxergar o fim do trajeto. Oded Grajew criou uma entidade respeitada e temida pelos agentes públicos entre outras razões porque a gestão pública é permanentemente escrutinada, tendo a população como tribuna de avaliação.


 


A nota geral da sétima pesquisa do Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município) ficou em 4,7, numa escala de zero a 10. Parece razoável, mas não é. As áreas mais críticas são as mais contestadas, casos de segurança, assistência social, acessibilidade para pessoas com deficiências, desigualdade social e transparência e participação politica.


 


Fugindo do inferno


 


A pesquisa da Rede Nossa São Paulo e da Fecomércio, apresentada pela executiva do Ibope Inteligência Márcia Cavallari, deve ter representado para a Administração petista algo como a malhação de Judas para os políticos que caem em desgraça. Mas a rapança é geral em termos de acidez crítica da população. Apenas 15% dos entrevistados disseram confiar na Câmara Municipal, enquanto 23% confiam no Tribunal de Contas do Município (TCM) e 24% sentem o mesmo em relação à Prefeitura de São Paulo. Quem acredita que os números gerais na região seriam diferentes? As áreas mais bem avaliadas da pesquisa estão relacionadas à esfera privada, como relações interpessoais e amorosas.


 


Mesmo as instituições consideradas mais confiáveis pela população -- Corpo de Bombeiros (85%) e Correios (80%) tiveram quedas significativas as em relação aos anos anteriores. “Desde 2013 a confiança nas instituições está caindo” explicou Márcia Cavallari ao lembrar que em junho daquele ano ocorreram grandes manifestações públicas em todo o País, contra aumento das passagens de ônibus e por melhoria nos serviços públicos.


 


Embora a executiva do Ibope Inteligência tenha tido o cuidado de não partidarizar a pesquisa ao afirmar que “há um mau humor generalizado com a esfera pública”, o desgaste do prefeito Fernando Haddad é evidente. No mínimo, pagaria o pato pela situação revelada em amplitude estratosférica. Nada menos que 68% dos entrevistados declararam que mudariam de cidade se pudessem (patamar mais elevado desde o início da série). No ano passado, esse índice era de 57%. Volta à regionalização da pergunta: quantos não pretenderiam deixar a Província do Grande ABC? Certamente em volume superior ao da Capital, por razões mais que óbvias: carregamos praticamente todos os vícios da vizinha pujante nas mais diferentes esferas públicas e não temos a riqueza potencial de mobilidade social inerente à própria vida.


 


Manchetes comprometedoras


 


As manchetes dos meios de comunicação sobre a pesquisa divulgada na Capital não deixam dúvida sobre o peso sobressalente a incomodar a gestão de Fernando Haddad. Reparem: 1. Avaliação negativa da Prefeitura de SP sobe de 40% para 56%, diz Ibope (UOL); 2. Rejeição à gestão Haddad passa de 40% para 56% entre paulistanos (Valor Econômico); 3. Cresce insatisfação com a gestão de Fernando Haddad em SP (O Globo); 4. Quase 70% dos paulistanos mudariam de cidade se tivessem oportunidade (CBN); 5. Pesquisa aponta a violência como maior medo das pessoas que moram na Capital (SP TV 1ª edição); 6. Pesquisa revela nível de bem-estar de quem mora em São Paulo (Globonews); 7. Cai percepção de segurança dos moradores de SP em 2015 (Terra); 8. Cai percepção de segurança dos moradores da cidade de São Paulo em 2015 (Agência Brasil); 9. Avaliação negativa da Prefeitura de SP sobe de 40% para 56%, diz Ibope (Estado de Minas); 10. Sobe número de pessoas que culpam Sabesp por crise hídrica, diz pesquisa (G1): 11. Avaliação negativa de Haddad sobe para 56% (Brasil 247); 12 – Espera para consulta na rede pública de SP subiu para 82 dias, diz pesquisa (G1); 13 – Sete entre 10 paulistanos deixariam a cidade se pudessem (Estadão); 14 – Avaliação negativa da gestão Haddad sobe de 40% para 56%, diz pesquisa (G1); 15 -- Rejeição a Haddad vai a 56%, segundo Ibope (Veja); 16 – Aumenta número de passageiros de ônibus em SP (Via Trólebus).


 


Morar em São Paulo só é agradável quando se tem o trabalho bem remunerado por perto ou de acessibilidade rápida. Aí é uma festa. A diversidade de opções de entretenimento e também de aperfeiçoamento profissional oferece contraponto valioso à loucura de conviver com tanta gente. Como apenas a minoria das minorias consegue essa façanha e o tempo tem provado e comprovado que existe uma combinação sinistra entre mercado imobiliário, gestores públicos e explosão do uso de veículos a solapar qualquer resquício de humanismo e civilidade, os resultados do Ibope não poderiam ser mesmo diferentes. Com Haddad ou sem Haddad. Mais com Haddad, porque o PT é a bola nacional da vez. A Geni da política nacional. Não que não seja por merecimento, claro.


 


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