Vamos reto e direto ao que interessa. E o que interessa é o seguinte, em recado para o prefeito Carlos Grana e a secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Oswana Fameli, metidos em dúvidas sobre o que fazer com o Polo Tecnológico que se pretende construir após o governo do Estado liberar o empreendimento: nosso futuro é de plástico. Entenderam?
Se não entenderam, então vão entender e, com isso, podem parar com firulas comprometedoras de supostas dificuldades para buscar a vocação que mais interessa à cidade – e também à região – na tentativa de estancar a hemorragia econômica fundada na sangria industrial.
Vejam o que disse um especialista no assunto, em futuro de plástico, sobre o que estamos oferecendo ao prefeito e à secretária também vice-prefeita:
Através de avaliação econômica, industrial e de mercado da indústria de plástico do Grande ABC, concluímos uma sinalização da vocação da região para esse gênero da indústria de transformação. O processo é dinâmico e o cenário apresentado representa o ponto de partida para a construção do desenvolvimento sustentado, integral, baseado em condições reais de uso e padrões próprios de desenvolvimento e competitividade. Assim, pode-se dizer que o estudo oferece indicadores e parâmetros medidos no tempo zero. Medidas no tempo qualificam informações e dados coletados, pois mostram relações de causa-efeito de forma intensa e são necessárias para melhor descrever o setor. (...). O trabalho mostra que o Grande ABC possui indústria de plástico diferenciada tecnologicamente, indicando fortalecimento nas áreas de manutenção, acompanhamento de produto, controle de estoques, instalações fabris e organização administrativa. O predomínio é de pequenas empresas. A região teria que integrar esforços, potencializando aspectos positivos, para fazer frente a outras regiões de São Paulo e outros Estados, mais agressivos na prospecção de novos investimentos.
Tudo está encaminhado
Leram, caros prefeito e secretária? Sabem quem disse isso e muito mais, muito mais? Nada menos que um especialista em cadeias produtivas, José Luiz Zuñeda, executivo da MaxiQuim, consultoria contratada em 1999 para aprofundar o estudo encomendado pelo Sebrae sobre a cadeia petroquímica da região. Ele alertou à época que a Província do Grande ABC estava perdendo a disputa pela competitividade no setor de plástico porque faltava integração de interesses.
O quadro não mudou desde então. A entrevista com o dirigente da MaxiQuim , caros prefeito e vice-prefeita, foi publicada em forma de Reportagem de Capa de março de 2003 (isso mesmo, 2003) da revista LivreMercado. Sim, da revista LivreMercado, aquela que quem leu, leu, quem não leu não sabe o que perdeu.
O tempo passou, a Januária da negligência regional viu da janela a situação econômica se agravar, mas há tempo ainda à recuperação. Não será um Polo Tecnológico, isoladamente, a mudar o caos, mas poderia ser um símbolo de retomada e atualização daqueles estudos. Para que perder tempo com definição de um foco que já existia e continua a existir?
Abrindo o apetite
Foi naquele maio de 2003 que produzi a Reportagem de Capa de LivreMercado sobre o futuro econômico da região. Não resisto a puxar alguns parágrafos daquela ampla análise para chamar a atenção dos leitores à obviedade de nossa tentativa de recuperar uma parcela do que já foi para o brejo. Leiam trechos daquela reportagem de título “Nosso futuro é de plástico”:
Quando o Grande ABC de metal será capaz de dar vez ao Grande ABC de plástico e, com isso, contribuir para quebrar o ritmo de desindustrialização e do desemprego? A modernização e a adaptação da região aos novos tempos de mercado automotivo descentralizado – e de substituição gradual de matérias-primas que obedecem a rigidez de metais e ganham a versatilidade dos insumos petroquímicos em forma de plástico – continuam sendo jogo de improvisações que estimulam o desperdício e a irracionalidade.
A insistência com que lideranças políticas e mesmo empresariais batem na tecla da cadeia automotiva como incrementadora do setor industrial no Grande ABC é tão equivocada quanto o descuido de desconsiderar a indústria transformadora de plástico como chute de resultados certeiros.
Se o adensamento do uso de derivados petroquímicos na cadeia transformadora de plástico dentro da produção industrial no Brasil segue na trilha da tendência internacional de substituição de matérias primas metálicas nas mais diferentes atividades econômicas, não é menos importante o fato de que o Grande ABC é um grande palco para a disseminação da matéria-prima saída dos polos petroquímicos.
A frágil institucionalidade regional derrete-se sob o peso de idiossincrasias político-partidárias. A expectativa de que a Câmara Regional pudesse harmonizar interesses municipais, regional e estadual rolou água abaixo depois da morte do governador Mário Covas e, na sequência, do prefeito Celso Daniel.
Um bom pretexto
A conclusão é simples: o Polo Tecnológico é um bom pretexto para que as autoridades públicas da região, enfiadas no Clube dos Prefeitos, deixem os respectivos casulos municipalistas e se lancem a uma jornada muito mais ampla e interessante para o futuro regional; ou seja, a aplicação mesmo que tardia de uma ação de inteligência para chamar correndo o dirigente da MaxiQuim especializado no que temos de mais promissor – a cadeia de plástico ramificada no Polo Petroquímico ao sabor do mercado, ou seja, sem planejamento sistêmico – e botar ordem no galinheiro de improvisações, descuidos e muito mais.
Leiam, portanto:
Falta integração e custo atinge a competitividade
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ