Política

Grana garante: vai ser mais
dono de possível novo mandato

DANIEL LIMA - 11/02/2016

O prefeito Carlos Grana do primeiro mandato na Prefeitura de Santo André não seria o prefeito Carlos Grana do segundo mandato se for reeleito em outubro próximo. Palavra de Carlos Grana. Ele vai por fim à descentralização da Administração. Vai, portanto, ser mais dono do mandato do que o foi até agora. Como não falei com Carlos Grana mais que alguns instantes durante o primeiro tempo do jogo do Santo André sábado passado no Estádio Bruno Daniel diante do Monte Azul, mais não posso escrever com a garantia de que serei absolutamente fiel  aos pensamentos do petista. Por isso vou especular. Jornalismo seria um exercício enfadonho demais se não comportasse liberdade de expressão baseada também em metabolização de fatos pretéritos.


 


Trata-se de especulação sadia. O prefeito de Santo André deu a chave do cofre à interpretação livre quando disse que vai fazer um governo radicalmente diferente. Ora, bolas, está aí uma questão que poderá fazer a diferença mesmo. Ao cair na besteira de ouvir todos os lobistas da praça sobre o gerenciamento de Santo André, elegendo interlocutores ruins da cabeça de estratégia ou doente dos pés de táticas, Carlos Grana escorregou numa bananosa olímpica.


 


Antecessores ajudam


 


Sem tirar nem por, Carlos Grana segue o ritual de um prefeito digno de seus antecessores imediatos, Aidan Ravin e João Avamileno. Isso é tão bom quanto ruim para ele. O petista Avamileno pegou o barco no prumo mas o desarrumou e o colocou a pique quando, no processo de definição do sucessor, entre o então deputado Vanderlei Siraque e a então vice-prefeita Ivete Garcia, não evitou que a herança do secretariado deixado por Celso Daniel se esboroasse. Um time que tinha norte foi a pique num desmanche desmoralizador que abriu as portas à vitória do médico Aidan Ravin.


 


Aidan Ravin é o que todo mundo sabe e reconhece: um portentoso agente imantado de carisma mas despido de qualificações gerenciais e técnicas à aplicação na maioria das áreas de interesse público. Como se não bastasse tudo isso, ainda deixou um rabicho que poderá atingi-lo na reta de chegada da disputa eleitoral. Trata-se do escândalo do Semana, no qual está metido até o umbigo e consta inclusive do time inteiro de indiciados pelo Ministério Público Estadual. Um time quase inteiro, melhor dizendo, porque empresários inescrupulosos ficaram de fora da lista negra. Milagrosamente e ao contrário do que se verificou com a Máfia do ISS, na Capital.


 


Falta dinheiro federal


 


Carlos Grana poderia ter se salvado de uma gestão que flerta com a nulidade caso contasse com pelo menos um terço do dinheiro prometido pelo governo federal. Com bastante dinheiro é possível transformar um prefeito descuidado em prefeito pragmático. Como Carlos Grana chegou no fim da festa do dinheiro fácil gerado pela exportação de commodities e pelas armadilhas de um orçamento maquiado para fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal da gestão de Dilma Rousseff, só lhe resta mesmo o que Aidan Ravin também tem de sobra: a facilidade de transmitir mensagem aos eleitores de que é o homem certo para gerenciar Santo André. Vai ter de gastar muita sola de sapato, portanto.


 


Possivelmente Carlos Grana não teria dificuldades suplementares de vencer a corrida eleitoral em Santo André se não carregasse a estrelinha vermelha do PT no peito. Como não vai abandonar o barco, terá de se virar nos trinta para dar um nó na percepção geral de que o PT é o caminho mais curto ao cadafalso eleitoral. Como escapar dessa enrascada?


 


Li outro dia que a imagem de Lula e do PT está para lá de comprometedora junto ao eleitorado. Nem poderia ser diferente com o escândalo da Petrobras ganhando manchetes internacionais, além do quadro econômico desesperador para muita gente -- principalmente para aqueles que acreditaram que se tornaram classes médias.


 


O que talvez não tenha chamado a atenção dos críticos e que pode ser um balão de oxigênio providencial a candidaturas petistas mais palatáveis é que a imagem dos demais partidos e políticos não é tão diferente assim. A classe política, em resumo, sofre duras restrições do eleitorado.


 


Impactos locais


 


Em nível Brasil, a pesquisa a qual tive acesso, não apresentava diferenças abissais entre petistas e demais. O paredão valia para todos, em menor ou maior grau. Pesquisa nacional, entretanto, nem sempre serve à Província. Aqui, berçário petista, os estilhaços da Petrobras e as desventuras econômicas que impactam duramente o mercado de trabalho, são mais destrutivos. Ganham tonalidades mais avermelhadas que azuladas.


 


O que se pergunta nestas alturas do campeonato é até que ponto o PT de Carlos Grana e eventualmente dos demais candidatos do partido na região conseguirá misturar de tal maneira as bolas desse jogo de sujeiras a ponto de procurar reduzir ao máximo a margem de julgamento supostamente discriminatória ao partido em matéria de bandalheiras. Ou seja: se no âmbito nacional petistas e demais partidos não são assim tão diferentes segundo os dados publicados, por que haveria de ser radicalmente diferentes na região?


 


Talvez a maior bobagem que o PT venha a cometer na região seja insistir em negar o inegável, embora também não pareça razoável assumir as bobagens dos quadros que se meteram nas lambanças na Petrobras. O que fazer então? Levar a disputa para o ambiente municipal e tentar extrair o máximo de vantagem, no caso de Santo André, por ter um prefeito afável e pronto a uma jornada repaginada.


 


Não apostaria na reeleição de Carlos Grana se as eleições em Santo André fossem hoje, mas até outubro muita coisa poderá acontecer -- inclusive piorar. O noviciado de Paulinho Serra, a idiossincrasia incurável de Raimundo Salles e o passivo administrativo-policial de Aidan Ravin seriam antídotos às desventuras petistas que contaminam a Administração Carlos Grana? 


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