Política

Marinho quer sangue contra
impeachment da presidente

DANIEL LIMA - 12/04/2016

A notícia está na edição digital de hoje do jornal ABCD Maior -- “o braço esquerdo” da Província do Grande ABC. Parece inacreditável, mas, partindo de quem parte, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, do alto da gênese de um sindicalismo que sempre teve as costas largas da Imprensa supostamente de direita, nada surpreende. O título da matéria resume o estado de indigência pública do prefeito da Capital Econômica da região – “Marinho: impeachment é o caminho mais sangrento para o Brasil”.

É preciso escrever mais alguma coisa? Claro que sim. É esse prefeito petista e é essa cultura de mandachuva que impõem o ônus incalculável ao “Custo ABC”, que vai muito além das planilhas de privilégios dos trabalhadores de primeira classe da indústria automotiva, os quais penalizam duramente o espectro de competitividade da região.

Espertamente o jornal ABCD Maior não perguntou a Luiz Marinho até que ponto o “sangrento” da frase de efeito que destilou é uma metáfora ou está literalmente encaixado no contexto de um País que vive a maior crise econômica de toda a história, superando, inclusive, o final dos anos 1930, quando o mundo estava em convulsão.

O fato é que Luiz Marinho, cevado num sindicalismo que sempre deu as cartas e jogou de mão no setor automotivo, em contínua encenação com os executivos das empresas para extrair do Estado o máximo de benefícios em detrimento do restante da sociedade, o fato é que Marinho não aceita contrariedades.

Pretensos avatares sindicais

Mimado pelo amigo presidente Lula da Silva, acreditou Luiz Marinho que pudesse vir a ser algo semelhante a esse gênio da politica nacional. Sim, Lula da Silva é um gênio da política nacional. Nada surpreendente. Prevalecem camadas sociais desprovidas de senso crítico que caem facilmente na lábia de quem faz das palavras e dos gestos teatrais roteiro de sedução. E também sobram acadêmicos que desde os tempos universitários fazem do esquerdismo retrógrado trincheira ideológica sofisticada.

Ao proferir declarações ameaçadoras de suposto pós-sangrento ao impeachment da pobre presidente da Republica, Luiz Marino segue rigorosamente o figurino de despreparo com que se lançou na atividade pública com o vezo autoritário que não demorou a exalar.

O titular do Paço de São Bernardo é a reprodução em série da linha de montagem de aberrações politicas do sindicalismo incrustado principalmente em São Bernardo.

Ali, em dezenas de fábricas que são incubadoras de mandonismo e de arbitrariedades protegidas pela Legislação Trabalhista e pela ausência de um jornalismo independente a seguir os passos das liderança sindicais, os comitês de fábricas multiplicam pretensos avatares de Lula da Silva. A diferença é que o original é muito mais esperto, maleável e, por que não dizer, muito mais capaz de encontrar eco fora das quatro linhas do campo trabalhista. Tanto que, apesar de tudo o que está aí, com escândalos sobrepostos, Lula da Silva ainda apresenta 21% de potencial de votos dos brasileiros numa eventual corrida presidencial.

O grau de irresponsabilidade do prefeito Luiz Marinho na declaração ao jornal ABCD Maior apenas reforça a impressão baseada em fatos objetivos e em subjetividades de que o PT e os movimentos sociais e sindicais sob seu guarda-chuva de privilégios não aceitarão democraticamente a consumação de uma crônica anunciada.

A queda de Dilma Rousseff parece iminente nos cálculos de especialistas. A derrota prevista para este domingo, remetendo-se o processo à guilhotina do Senado, deverá mesmo provocar situações que exigirão atenção máxima das autoridades ligadas à Segurança Pública.

Luiz Marinho, portanto, é apenas um dos mais desastrados porta-vozes dos inconformados com os rumos do processo de impeachment. Está à altura dos radicais de outros movimentos que se pretendem representantes da opinião pública nacional.

O outro lado

Fosse menos obtuso e dogmático, Luiz Marinho deveria sim comemorar, discretamente, a derrubada da presidente da República.

Primeiro porque aliviaria consideravelmente o desgaste contínuo do partido ao entregar à oposição o abacaxi de um País quebrado e de perspectivas amenizadoras apenas no médio prazo. Praticamente fora do cronograma eleitoral desta temporada.

Segundo porque, na condição de oposição, o PT poderia iniciar processo de regeneração da musculatura politica estraçalhada e, a partir daí, quem sabe, vender nas próximas eleições municipais a ilusão, quando não a mentira, de que a desgraceira geral é de responsabilidade dos novos situacionistas.

Afinal, para tanto, não se deve desprezar o grau de alienação política da sociedade brasileira. Não fosse assim, convenhamos, Lula da Silva não teria ainda tantas intenções de votos, como detectou o Datafolha anteontem. Lula da Silva conta com 21% da preferência do eleitorado. É verdade que se esqueceram de destacar um contraponto mortal para quem precisa da maioria do eleitorado: 53% dos eleitores não querem o ex-presidente jamais de volta ao Palácio do Planalto. A manutenção de Dilma Rousseff num ambiente econômico e politico cada vez mais deletério provavelmente só pioraria esses dados.

Discurso belicista

Ao sugerir na matéria do ABCD Maior que o impeachment de Dilma Rousseff é o caminho mais sangrento para o Brasil, o prefeito e ex-sindicalista Luiz Marinho indica mais que a interdição do diálogo de reconstrução nacional. Ele quer guerra mesmo. O belicismo é seu argumento.

A alegação de que Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade não resiste ao aspecto nuclear da iminente queda: ela representa na oficialidade do cargo o período mais condenável da vida pública nacional, tanto no campo econômico quanto de moralidade.

No vetor econômico porque o PT desperdiçou uma enorme janela de prosperidade ditada pela alta das commodities, contexto que poderia proporcionar não só mudanças significativas na estrutura do Estado como também saltos triplos de produtividade econômica, sem a qual não existe futuro.

No campo da moralidade, com a sistematização de práticas delituosas que transformaram os então mais conhecidos bandidos sociais da República em simples batedores de carteira.

Quem conhece os meandros da Província do Grande ABC sabe que a versão regional das roubalheiras federais não é um conto da Carochinha.



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