Política

Agonia de Dilma só atrapalha
as pretensões do PT na região

DANIEL LIMA - 18/04/2016

O calendário da queda da presidente Dilma Rousseff, que cumpriu nova etapa ontem à noite, estilhaça os nervos dos petistas da região. A confluência cada vez mais próxima da derrocada da presidente com as eleições municipais é o pior dos mundos para os avermelhados. Para os azulados, alguns naturalmente adicionados de oportunistas que até outro dia se deleitavam com os petistas, quanto mais a elevação da temperatura de desgaste do Partido dos Trabalhadores se aproximar de outubro, melhor para as pretensões de chegarem aos paços municipais como alternativas falsamente restauradoras da moralidade e da ética administrativas.

Como o mundo da politica está de pernas para o ar e o que parece novidade agora se torna velharia 15 minutos depois, continuaria sendo uma loucura projetar com detalhismo o panorama eleitoral nesta Província. Não vou meter a mão nessa cumbuca. Quando se escreve, tem-se um compromisso maior com a credibilidade, embora jornalista não faça com o dedilhar constante algo que conflite com a metralhadora oral.

Certo mesmo é que cada vez mais se consolida no ambiente politico regional a certeza de que o grau de vulnerabilidade dos gestores públicos locais sofrerá mais ataques em forma de condicionantes nacionais, no bojo da crise instalada, situação que enfraquecerá o discurso municipalista. Não que eventuais conquistas administrativas possam ser ignoradas pelos contribuintes e eleitores. Nada disso. Mas é impossível amenizar o quadro.

Final de Mundial

Quem ouviu o foguetório, a gritaria e o buzinaço de ontem à noite, assim que o deputado pernambucano imprimiu no placar o voto de número 342 que sacramentou o prosseguimento da ação de cassação de mandato de Dilma Rousseff, como se vivêssemos uma final de Copa do Mundo, sabe que a agenda municipalista sofrerá mesmo um redutor qualificativo na hora de escolher um candidato. O petismo, salvo grande reviravolta, sofreria a maior derrota regional da história.

Como sair do buraco negro eleitoral – eis uma questão que os petistas da região não ousam responder publicamente. No fundo, no fundo, estariam a torcer pelo fim mais que breve do processo de impedimento da presidente da República. A maioria já teria entregado a rapadura.

Mas também há agentes proeminentes do PT na região com a pulga da Lava Jato atrás das orelhas de malandragens perpetradas no passado recente de investimentos do governo federal em parceria com empreiteiras comprovadamente delituosas.

Há, portanto, uma dupla carga pesada a sacolejar tanto a expectativa como os nervos dos petistas. A queda federal do PT é vista como um desastre pelos petistas locais do ponto de vista eleitoral. Mas eles torcem mesmo é que tudo se resuma a ordem constitucional. Temem, muitos deles, a Operação Lava Jato. O portfólio de obras de empreiteiras já relacionadas e na maioria dos casos penalizadas pela força-tarefa federal no território regional pode abrir uma cratera suplementar de estragos inapeláveis.

Escândalos no gatilho

Há pelo menos três ameaças mais patentes do ponto de vista político-partidário aos petistas e aliados na Província do Grande ABC. As obras da OAS em São Bernardo, o escândalo de compras de medidas provisórias no setor automotivo, envolvendo lobistas que frequentam há muitos anos o ambiente sindical cutista da região, e a construção de uma fábrica de estruturas aeroespaciais dos caças suecos Gripen seriam bombas-relógios prestes a explodir.

Mas há outros casos na ponta da agulha de revelações, como os trambiques na Administração Celso Daniel que poderiam proporcionar salvadora delação premiada ao empresário Ronan Maria Pinto em detrimento do PT, e também os investimentos no Polo Petroquímico tanto em obras realizadas como na compra de ações que colocaram a Odebrecht como detentora da maioria das ações da Braskem.

Resta saber quanto desses potenciais incômodos serão abordados pela Operação Lava Jato e outras investigações.

Por enquanto é inegável que as trapalhadas estão concentradas nos próprios petistas na região. A democratização de escândalos, que abrangeria outras agremiações, atenuaria o quadro para os avermelhados, mas não interferiria de forma incisiva na percepção do eleitorado com juízo de valor formado sobre as lambanças do partido.

Definindo prioridade

Chegamos a um ponto de inflexões que, mesmo se reconhecendo que na sessão de ontem da Câmara Federal predominava a hipocrisia e o caradurismo, tudo se releva, tudo se perdoa temporariamente, por causa do objetivo principal que povoa a imaginação da maior parte do eleitorado – a derrubada de uma agremiação que, ao longo de 13 anos de poder federal, só fez aumentar e sofisticar as roubalheiras nos cofres públicos.

Tenho sérias dúvidas se, após a mais que provável profilaxia cívica que caracterizaria a derrubada de Dilma Rousseff, haverá espaço igualmente cívico a uma rigorosa faxina politica no País, eliminando do jogo de podridões agentes de agremiações agora propagadores de moralidade e ética.

Tenho a impressão de que haverá um intervalo sensorial coletivo -- até porque ninguém suporta um longa-metragem de emoções no campo politico, tanto quanto no futebol – que permitiria à sociedade respirar com certo alívio, embora crente de que ainda haverá muito a ser restaurado.

É no pós-cassação de Dilma Rousseff, de ressaca cívica, que imagino que se darão as eleições municipais, as quais poderiam dizimar o PT naquilo que mais ambicionava para ter o controle eleitoral no País: tomar gradualmente o espaço das demais agremiações, de forma direta ou com parcerias táticas, como o fez em São Caetano nas últimas eleições municipais.

A votação de ontem à noite deixou impressão devastadora aos petistas. Uma mistura de oportunismo eleitoral e de retaliação comportamental ao modo imperial com que o PT tratou os parceiros e adversários nos tempos de vacas gordas fechou completamente as portas ao futuro próximo entre petistas e ex-parceiros de jornadas.

O paradoxo do quadro institucional e politico destes dias é que a renúncia de Dilma Rousseff para proporcionar alguma ação que efetivasse eleições diretas custaria muito à imagem da agremiação, enquanto o esticamento da crise com o desenlace mais que previsível aumentaria as dores do parto das eleições de outubro.



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