Política

Paulinho faz da economia eixo
de campanha. Vai dar certo?

DANIEL LIMA - 02/05/2016

Paulinho Serra é o candidato dos tucanos à Prefeitura de Santo André. Há passivos e ativos a envolvê-lo e que serão prato especial aos guerrilheiros de redes sociais. A passagem pela administração petista de Carlos Grana é um dos pontos fracos. A juventude mesclada de experiência como vereador não pode ser desprezada como fonte de potencialidade.

Mas o mais importante mesmo nas primeiras declarações de Paulinho Serra rumo a um Paço Municipal sem rumo há muito tempo é a mensagem de que vai priorizar a economia de Santo André. Isso é tão bom quanto ruim.

Bom porque finalmente alguém se lembra de que sem desenvolvimento econômico não existe mais nada.

Ruim porque Santo André, diferentemente do que disse Paulino Serra em entrevista ao Diário do Grande ABC, não é um território interessante a investimentos. Já o foi no passado, mas está longe de ser no presente.

Pego um trecho da entrevista ao Diário. A pergunta do jornalista Fábio Martins foi a seguinte: “Como aplicar isso (retomada de emprego e renda) na cidade diante de cenário desfavorável na economia?” Leiam a resposta de Paulinho Serra: 

 Temos vantagens comparativas em três aspectos. A localização geográfica, entre o fim do Porto de Santos e o Rodoanel, mão de obra qualificada, que continua sendo gerada, mas hoje não aproveitada, tanto que 37% da população economicamente ativa da cidade trabalham fora de Santo André. Temos UFABC, Fatecs, Etecs, Senai. Terceiro ponto é área disponível. Mais de cinco milhões de metros quadrados de áreas disponíveis para implementação industrial e comercial. Cabe ao poder público coordenar isso tudo, implantar força-tarefa e fazer legislação de incentivo tributário, que não é greve (sic) fiscal.

Complicações demais

Leram atentamente? Então, vamos esmiuçar rapidamente cada ponto abordado pelo candidato do PSDB:

Primeiro – Há muito tempo a suposta vantagem comparativa de Santo André em logística foi para a cucuia. A degringolada começou com a chegada da Anchieta, aumentou com a Imigrantes e se consolidou de vez com o desembarque do trecho sul do Rodoanel, inclusive com o puxadinho que passou a servir Mauá. Enquanto a vizinhança ganhava instrumentos logísticos imbatíveis em termos regionais, embora já defasados num contexto de competição estadual, Santo André era triturada pela obsolescência da Avenida dos Estados. De importante corredor de suprimento de indústria ao longo de seu trajeto, a Avenida dos Estados se tornou via de transposição fortemente convencional, de carros de passeio principalmente. Perdeu a corrida pelo espaço de redução de custos produtivos. A derrocada industrial de Santo André deriva dessa mudança de rota física do transporte de carga. Diferentemente, portanto, do que pensa Paulinho Serra, a centralidade física de Santo André na geografia da Província do Grande ABC dos tempos de “viveiro industrial” sofreu derretimento ao longo dos tempos. Acabou-se o que era doce. A viuvez do crescimento econômico induzido pela estrutura física de transporte passou a exigir engenharia de especialistas em competitividade econômica. Celso Daniel morreu e não deixou herdeiros. Agora, além de herdeiros, são necessários milagreiros. Mais da metade da população economicamente ativa (e não 37% como afirmou Paulinho Serra) não deixa diariamente Santo André por acaso. São trabalhadores que entregam a rapadura da cidadania para terceiros geralmente assanhados demais.

Segundo – As instituições de ensino mencionadas por Paulinho Serra não fazem verão econômico, exceto no sentido de prepararem mão de obra qualificada a terceiros, ou seja, a outras geografias. A UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) é uma farsa regional. Nem deveria carregar identificação da região, porque está voltada ao ramo de cosmetologia curricular em relação às necessidades locais. Foi concebida para ser manequim, não centroavante.

Terceiro – O volume de áreas disponíveis à ocupação produtiva e comercial em Santo André provavelmente se refere ao espaço do distrito de Campo Grande, que fica lá no fim do mundo, e a uma improvável reestruturação do chamado Eixo da Avenida dos Estados, que, desde a morte de Celso Daniel, virou espécie de pó de pirlimpimpim de discursos políticos. Não há fórmula que retire Santo André do banco de reservas de investidores privados. Os milhões de metros quadrados livres, leves e soltos provam isso.

Pés no chão

Paulinho Serra também fez declarações sobre Santo André não econômica. O que poderia sugerir ao candidato é que deve sim insistir na tecla econômica. Não se deixe levar por agendas populistas. Trate de questões que dizem respeito a emprego e renda com empenho, mas não caia no facilitarismo de promessas inviáveis. A melhor maneira de eliminar o ceticismo de quem está bem informado sobre o futuro de Santo André é unir-se a cabeças pensantes que desenhem um modelo de Município econômico compatível com as circunstâncias locais e o contexto regional num quadro de macroeconomia devastada. Ou seja: dá para tomar uma cerveja antes?

Santo André e os demais municípios da região estão a necessitar de luzes no campo econômico. Nesse ponto, a mídia poderia colaborar intensamente ao estimular uma agenda prospectiva que sinalize a importância de retirar os debates de pautas secundárias. Sem economia, não existe mais nada que se sustente. A crise financeira de Santo André vem de longe e parece não ter fim. Os demais municípios da região começaram a acusar os mesmos golpes agora que a farra fiscal do governo petista chegou ao ápice. Vamos ter anos sofridos pela frente. Todo o cuidado é pouco, portanto, ao se descortinar novos projetos. Pior que o desencanto com o que temos é a frustração do que nos prometeram entregar.



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