Política

Dilma mente sobre 2014 ou vive
no mundo da lua? Você decide

DANIEL LIMA - 31/05/2016

A dúvida que certamente aflorou entre os leitores da Folha de S. Paulo, edição de domingo, ao lerem a entrevista da colunista social Mônica Bérgamo com a presidente afastada Dilma Rousseff, é se a petista é um fino exemplar de patetice (tolice, parvolice, pateta) ou deve ser catalogada como estruturalmente patética (que comove, que incita as paixões). Sim, estruturalmente patética, porque em todas as questões abordadas a mulher que faz questão de dizer que é mulher na tentativa de ganhar a proteção dos adoradores do politicamente correto ultrapassa todos os limites da insensatez. Como seria demais para meu tempo disponível e também para a paciência dos leitores, fico apenas com um dos aspectos do trabalho jornalístico.

Teria sido Dilma Rousseff flagrantemente mentirosa na questão que vamos abordar logo abaixo ou ela vivia completo alheamento econômico durante a campanha eleitoral que a conduziu fraudulentamente à reeleição?

Conhecendo Dilma Rousseff como conheço – e conhecendo as artimanhas petistas que diferem em muito das dos demais partidos, porque a ideologia fala mais alto e congela a inteligência – diria que Dilma Rousseff da entrevista ao jornal paulistano costurou uma roupagem em que o tecido da ignorância se mesclou com o corte da mentira – e deu no que deu, num estúpido espantalho ético.

O trecho da entrevista

Vamos, então, ao que interessa. O ponto que mais me chamou a atenção nas declarações de Dilma Rousseff – embora, a bem da verdade – outros igualmente ofensivos à inteligência tenham sido manifestados com a candura dos inocentes ou com o caradurismo dos cínicos.

Folha de S. Paulo: A senhora fala que o programa de Temer não passou pelas urnas. Mas a senhora também falou uma coisa na campanha e fez outra depois de eleita.

Dilma Rousseff – Quando é que o pessoal percebeu que tinha uma crise no Brasil, hein? A coisa mais difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil.

Folha de S. Paulo: Na eleição, todo mundo tinha percebido, menos a senhora?

Dilma Rousseff – Me mostra a oposição falando que tinha crise no Brasil. Ninguém sabia que o preço do petróleo ia cair, que a China ia fazer uma aterrissagem bastante forte, que ia ter a pior seca no Sudeste.

Primeira prova do crime

Fechem as cortinas, por favor. As respostas mais adequadas às aberrações de Dilma Rousseff estão nas páginas dos jornais. Vou ao meu arquivo e, sem a menor dificuldade, seleciono alguma peças que destroem a bobagem da presidente afastada. Vamos então às provas do crime de lesa-informação?

Na edição de 12 de fevereiro de 2014, Editoria de Economia do Estadão, sob o título “Brasil é o 2º pais emergente mais vulnerável, diz Fed”, seleciono alguns trechos da reportagem assinada por Cláudia Trevisan, correspondente em Washington: 

 O Brasil é a economia emergente mais vulnerável depois da Turquia, na avaliação do Federal Reserve americano, que atribui a recente turbulência nesses países a “desenvolvimentos adversos” não relacionados com sua decisão de inicia o processo de retirada de estímulos monetários da maior economia do mundo, o chamado tapering. No relatório semestral sobre politica monetária enviado ontem ao Congresso, o Fed cita o Brasil 11 vezes e o coloca no grupo de países que mais sofreram com a recente fuga de capitais de ativos “arriscados”. O documento de 49 páginas traz um “índice de vulnerabilidade” de 15 países emergentes, no qual a Turquia aparece na pior posição, seguida do Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul – o grupo batizado de “cinco frágeis” -- escreveu o jornal.

Segunda prova do crime

Uma segunda prova do crime de patetice da presidente afastada Dilma Rousseff retiro da Folha de S. Paulo de 10 de agosto de 2014, a pouco tempo da disputa pela presidência da República. A matéria consta da página da Editoria Poder, sob o título “Estudo diz que Brasil avançou menos que outros emergentes”. Reproduzo alguns trechos: 

 Estudo elaborado por três economistas ataca os resultados obtidos pelo Brasil ao longo dos primeiros 10 anos da administração petista no governo federal. Intitulado “A Década Perdida: 2003-2012”, o trabalho aponta que indicadores econômicos e sociais do país apresentaram melhora no período, contudo, na maioria dos casos, o progresso obtido por países comparáveis ao Brasil foi maior. O texto foi publicado pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio), berço da equipe que elaborou o Plano Real e conduziu a política econômica no governo de Fernando Henrique Cardoso. (...). Para sustentar a tese, os autores examinaram a evolução de diferentes dados – como renda por habitante, produtividade, comércio exterior, infraestrutura, desemprego, escolaridade, gasto em saúde, desigualdade social e taxa de homicídios. Cada resultado foi comparado com os obtidos por países emergentes cujo desempenho era semelhante ao brasileiro até 2002 –- ou seja, antes de o PT chegar ao Palácio do Planalto – escreveu o jornalista Gustavo Patu, de Brasília.

Terceira prova do crime

Mais adiante no tempo, e agora mais próximo das eleições para a presidência da República, em 14 de agosto de 2014, a Folha de S. Paulo publicou na Editoria Mercado o seguinte título: “FGV mostra pior pessimismo desde Collor”. Vamos a alguns trechos da matéria: 

 O clima econômico no Brasil é o pior desde janeiro de 1991, quando o país ainda sentia os efeitos do confisco da poupança no ano anterior pelo então presidente Fernando Collor de Mello, segundo pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Na pesquisa, o Brasil aparece em julho com 55 pontos do chamado ICE (Indicador de Clima Econômico) que mede desde o desempenho da economia até inflação, contas do governo e comércio exterior. É a pior avaliação desde os 54 pontos de janeiro de 1991. (...) Na América Latina, a avaliação do Brasil só supera a da Venezuela (20 pontos). O Brasil aparece pior que a Argentina (57 pontos), que vive sua segunda moratória. (...) A avaliação do mundo como um todo vem melhorando, resultado da retomada das economias americana (ICE subiu de 125 para 132 pontos) e da desaceleração comedida da China (88 para 102 pontos), além de certa estabilidade na Europa (recuou de 121 para 119 pontos) -- escreveu o jornal.

Quarta prova do crime

Uma quarta e também destruidora matéria da tese furada da presidente afastada Dilma Rousseff foi publicada na edição de 30 de agosto de 2014 na Editoria de Economia do Estadão sob o título “Investimento e indústria afundam e Brasil entra em recessão”. Agora, os principais trechos: 

 Com investimentos e indústria em baixa, a economia encolheu no 2º trimestre, e as projeções agora apontam para crescimento perto de zero em 2014. O Produto Interno Bruto (PIB, renda total gerada no País) recuou 0,6% de abril a junho, na comparação com o 1º trimestre, revelou ontem o IBGE (...). A oposição atacou o governo. Aécio Neves (PSDB) criticou duramente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmando que o modelo do governo petista fracassou. Marina Silva (PSB) afirmou que o País atravessa um momento grave, “em que há falta de confiança e de credibilidade”. (...) A economia teve outra má notícia ontem, com a divulgação do desempenho ruim das contas públicas, o que eleva o risco de um rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de classificação de crédito. Em relatório, a agência Fitch afirmou que o governo terá desafios importantes após as eleições” – escreveu o Estadão.

Quinta prova do crime

Na mesma edição do Estadão de 30 de agosto de 2014, pouco mais de um mês da eleição presidencial, o colunista Celso Ming abordou a situação econômica do País. Alguns trechos do artigo sob o título “PIB miserável”: 

 É uma desconsideração para com a inteligência do brasileiro continuar com o ramerame de que esse fiasco se deve à seca (embora o setor agrícola tenha crescido) e ao mau momento da economia global. Não é preciso listar os campeões mundiais. Basta comparar com o comportamento da economia de alguns emergentes. Turquia e Austrália crescem 3,0% ao ano; a Índia, 6,0%; a Coreia do Sul, 3,8%; o Chile, 2,8%; a Colômbia, 5,0%; a África do Sul, 2,0%. (Dados da revista The Economist). – escreveu o articulista.

Sexta prova do crime

Para completar essa metralhadora de provas de que a presidente afastada Dilma Rousseff deve levantar as mãos aos céus por estar onde está apenas porque levaram adiante o crime de responsabilidade fiscal considerado insofismável pelas maiores autoridades jurídicas e econômicas do País (inclusive pelo ex-conselheiro presidencial de Lula da Silva, o ex-ministro Delfim Netto), reproduzimos alguns trechos da matéria publicada em 15 de setembro de 2014 na Folha de S. Paulo sob o título “País tem 3,5 milhões de empresas inadimplentes”: 

 Mais de 3,5 milhões de empresas estavam em julho com algum tipo de dívida em atraso no país, resultado da queda das vendas e do aumento de custos com fornecedores, funcionários e bancos. É o maior volume de inadimplentes já registrado no setor produtivo, segundo a Serasa, dona do maior banco de dados de crédito do país. O número equivale à metade dos sete milhões de empresas “operacionais” no país, segundo os critérios da Serasa. (...) Para Luiz Rabi, economista da Serasa, o número de empresas inadimplentes mostra o microcosmo da recessão técnica do País, após dois trimestres de contração no PIB: “A empresa fica inadimplente porque não tem caixa para pagar contas, pois não vendeu como esperava. Ao mesmo tempo, aumentou o custo de materiais, aluguel, salários e os juros do banco” – afirmou o especialista à Folha de S. Paulo, em matéria assinada por Toni Sciarretta e Anaís Fernandes.

Combate aos enganadores

O que pretendi mostrar com esse artigo é uma combinação de dois aspectos que ajudam a entender o conceito nuclear de meus textos: não abro mão de fundamentação às intervenções que faço como braço do interesse público que é a essência do jornalismo – mesmo que isso me custe caro, ante bandidos sociais que infestam a região.

O que produzi sobre as pasmaceiras de Dilma Rousseff à Folha de S. Paulo é, portanto, um padrão de incursões neste território tão esculhambado e há muito tempo carente de uma Operação Lava Jato que os podres poderes públicos e privados tanto temem.



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