Demorou para o PSDB colocar Orlando Morando na televisão, nas vinhetas de propaganda eleitoral. Terceiro candidato mais bem votado no Estado de São Paulo nas últimas eleições para a Assembleia Legislativa e candidato fortíssimo à Prefeitura de São Bernardo, Orlando Morando vinha perdendo nos bastidores para aquele que certamente lhe será o principal obstáculo na corrida pelo Paço Municipal, o deputado federal Alex Manente, do PPS. A fonética de Manente, carregadíssima de “erres” caipiras, são uma constante na TV. Não lhe tem faltado treinamento para driblar a especificidade, mas a língua e o passado nem sempre ajudam.
O que quero dizer é que Orlando Morando ganha fácil de Alex Manente na televisão. Por isso certamente os tucanos vão lhe dar mais espaço. Televisão pode dar e tirar votos, como se sabe, mas tem limitações nas urnas. No extenso campo eleitoral propriamente dito, tudo indica que a disputa será acirradíssima.
Tanto quanto nos demais municípios da região, é muito cedo a quem tem juízo desfilar argumentos supostamente esclarecedores do que estaria reservado às urnas em outubro próximo. O quadro político nacional e as desgraceiras econômicas deixadas pelo PT sugerem análises conservadoras. Corre-se o risco de descredenciamento como fonte de informações confiáveis.
Fora da disputa direta
Mesmo assim, mesmo com o jacaré da realidade futura de boca aberta para apanhar os precipitados ou ousados de agora, antecipo algo que parece tão escancaradamente verdadeiro que, ao ser enunciado, poderá soar como anedótico: o candidato petista indicado pela turma de Luiz Marinho, atual prefeito, só terá alguma possibilidade de sucesso se a população de São Bernardo for composta por uma maioria que somaria estupidez, alheamento, desinteresse com o próprio futuro e lobotomia cidadã.
Nada contra o também ex-sindicalista Tarcísio Secoli. Aliás, nas poucas vezes que nos encontramos o supersecretário de Luiz Marinho (a primeira dama é outra coisa, espécie de primeira ministra, como todos comentam), me pareceu mais comedido que a maioria dos petistas. A maré nacional está tão brava e os equívocos do atual prefeito tão pronunciados que, ao secar a fonte de investimentos federais em obras, São Bernardo deu de cara com a realidade de que contava com um trabalhador sem talento algum para desarmar as várias armadilhas que congelam a economia local, quando não a derretem.
Houvesse na região uma mídia de massa com liberdade suficiente para traduzir o desempenho de Luiz Marinho quando exposto aos meios de comunicação, o prestígio do ex-ministro da Previdência da Lula da Silva estaria no palco do Inacreditável Futebol Clube.
PT com Manente
Com Tarcísio Secoli, o candidato do prefeito, praticamente fora da briga, os jovens Orlando Morando e Alex Manente deverão incrementar o show eleitoral em São Bernardo. Muito do resultado poderá derivar do apoio explícito ou de bastidores do PT.
Levando-se em conta as artimanhas do passado recente, o PT daria suporte envergonhado a Alex Manente, porque não quer nem a pau o tucano Orlando Morando no Paço.
É verdade que o prestígio de Manente já foi maior entre os petistas. Ao declarar voto pelo impeachment de Dilma Rousseff, numa intervenção alinhadíssima com o uso daqueles preciosos segundos de vídeo durante a campanha eleitoral, Alex Manente queimou o filme com parte dos antigos protetores.
Mas esse aparente transtorno deverá ser superado sem dificuldades. O próprio PT de Luiz Marinho não poupa a presidente afastada da degola depreciativa – principalmente após a queda temporária ou definitiva. Dilma Rousseff é um desses casos raros em que os petistas de origem sindical enfatizam nos bastidores, sem cerimônia, que foi uma tremenda burrada do então presidente Lula da Silva retirá-la da condição de poste e alçá-la à presidência da República. Tudo porque Dilma Rousseff parecia moderna ao usar um laptop supostamente recheado de dados gerenciais.
Vantagem relativa
Se a presença cênica e oral de Orlando Morando ganha fácil da de Alex Manente – os especialistas em imagem certamente corroborariam essa avaliação mais que óbvia – e de alguma forma contrabalança a participação até então soberana do adversário de outubro (com reflexos importantes junto a uma população portadora do Complexo de Gata Borralheira) isso não significa muita coisa, embora também não seja pouca coisa.
Afinal, são tantas as variáveis a compor o disco de influências junto ao eleitorado que não seria sensato atribuir favoritismo apenas por um ou alguns condimentos de marketing. Mais pesa o desequilíbrio da ausência televisiva em contraposição à presença do oponente do que a vantagem quando se estabelece concorrência, como agora se deu com o suporte da cúpula do PSDB. Explicando: Morando perde potencialmente mais pontos ao não surgir na TV aberta enquanto Manente se faz presente periodicamente do que ganha quando, como agora, resolve aparecer. O povo dessa Província costuma se inebriar com gente local na TV da Capital. Até boçais juramentados já foram ovacionados após segundos de exposição cinderelesca.
Então ficamos assim, para que ninguém me cobre vaticínios eleitorais antes da hora: por enquanto, dadas as condições de tempo, pressão e temperatura, os meninos Morando e Manente são os favoritos em São Bernardo e, agora, parecem correr em termos de exposição midiática em situação menos desfavorável ao tucano. Outros quesitos com peso nas avaliações ficam para mais tarde. Antes de as urnas se abrirem, claro.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)