Política

Está muito mais difícil apontar
quem será prefeito na Província

DANIEL LIMA - 10/06/2016

Há pelo menos 12 motivos a interferirem diretamente nos resultados eleitorais desta temporada na Província do Grande ABC. Muitos desses motivos -- os quais chamaria de quesitos -- não são novidades, embora pouca gente os  leve em conta de forma sistematizada nas análises. Há, entretanto, situações novas ou recentes que prometem ponderações mais cuidadosas no jogo a ser jogado ou que já está sendo jogado. É por essas e outras que tenho adiado e continuarei a adiar análise que estabeleça de forma incisiva quem é o favorito em cada Município. Não me arriscaria a passar vexame.

Se tudo estivesse em ordem e nenhuma dúvida existisse para ser digerida com todo o cuidado, diria aos leitores que seria muito arriscado tentar adivinhar o futuro eleitoral na maioria dos municípios desta Província. Como se sabe, as urnas nem sempre seguem o que dizem as pesquisas eleitorais – sobretudo quando falta tanto tempo para a reta de chegada.

Como está tudo confuso, não boto a mão na cumbuca de forma nenhuma -- por mais que alguns concorrentes pareçam mais fortes que outros. Mesmo nessas situações, sempre sobram pelo menos dois para conquistar o voto do eleitorado. E a disputa mesmo que restrita sempre se apresentará complexa nestes tempos. Por isso mesmo é melhor esperar.

Quesitos a considerar

Acho que para construir um cenário que se encaminhe à definição dos principais concorrentes a cada Prefeitura deve-se levar em conta uma relação de condicionantes que se entrecruzam a ponto de produzir um coquetel que pode ser embriagante no sentido de deixar tonto quem se meter a besta.

Vou expor essa relação logo em seguida, porque foi depois de prepará-la que cheguei à constatação de que o jogo eleitoral neste 2016 nos municípios da região é um clássico convidativo ao drama ou à tragédia a quem se precipitar no apontamento de favoritos.

Vejam os pontos que devem ser considerados por quem decidir embrenhar-se mato eleitoral adentro para decifrar o caminho preferencial da maioria do eleitorado. Observem que se trata de algo emanharadíssimo. Não é tarefa para principiantes. E tampouco poupará esforços e cautela de especialistas. Aliás, quanto mais especialistas procurarem encontrar respostas seguras, mais terão a certeza de que podem estar num mato de alternativas sem cachorro de convicção para expressarem conclusões definitivas.

Vamos então ao elenco de condicionantes à definição eleitoral nesta temporada na Província do Grande ABC:

1. Descrédito generalizado da classe política.

2. Máquina eleitoral.

3. Descrédito maior de quem está no poder.

4. Desinteresse de parte substantiva dos eleitores.

5. Municipalização da pauta.

6. Nacionalização da pauta.

7. Baixa audiência dos programas eleitorais.

8. Financiamento escasso e desconfiado.

9. Novos rescaldos da Operação Lava Jato.

10. Memória eleitoral.

11. Economia regional em frangalhos.

12. Centralidade da macropolítica nacional.

Complicações inegáveis

A pergunta que faço é simples e direta: quais candidatos conseguirão dar um drible nas intempéries ambientais do jogo eleitoral na região – e no Brasil como um todo, apesar das especificidades locais – e, com isso, minará a resistência dos eleitores mais do que nunca escaldados com os representantes políticos?

A dificuldade de estabelecer pesos relativos nesse conjunto de indicadores torna os prognósticos ainda mais arriscados. Vou dar um exemplo: pesa mais para um candidato que detém o cargo de prefeito na região a possibilidade de utilizar-se da máquina pública numa atmosfera de recuo de financiamento eleitoral ou prevalece o ônus do desgaste de estar no cargo numa temporada hostil aos mandantes do jogo administrativo? Traduzindo: que vantagem Maria leva ao estar na condição de prefeito se por outro lado o eleitorado supostamente interessado em renovação de valores entender que já passou da hora de trocar o titular do Paço, mesmo que para tanto recorra a um candidato que eventualmente já tenha estado no cargo ou que está cansado de tentar chegar ao cargo?

Municipalização e nacionalização

Passo a exemplo em que a subjetividade destrói o muro que blindaria em larga escala o prevalecimento da municipalização da pauta em oposição à nacionalização da pauta. Quanto pesa na estrutura de definição de cada voto em outubro próximo o que um determinado prefeito do PT possa valorizar na agenda de realizações locais ante a avalanche que o partido sofreu nos últimos tempos com o escândalo do Petrolão e o afastamento da presidente Dilma Rousseff? Explicando: o eleitor vai dar mais importância ao eventual saldo do prefeito petista de plantão ou prevalecerá o martelar incessante da mídia de massa sobre os estragos da Operação Lava Jato?

Viram que não é nada fácil tentar perscrutar a cabeça do eleitorado às próximas eleições na região? E olhem que estou expondo apenas dois dos aspectos listados. Mas posso ir adiante, porque o tema é instigante.

Por exemplo: um candidato a prefeito que já tenha sido prefeito tem a suposta vantagem do que chamam de memória eleitoral. Normalmente esse concorrente lidera as primeiras pesquisas eleitorais. A sustentação dessa liderança passará por vários mata-burros. Se for petista, as dificuldades serão bem maiores. Se não for, mas deixou percalços graves que possam ser explorados pelos adversários, também poderá sofrer baixa. Verificaram que memória eleitoral é um vetor que tanto pode ser positivo como também uma encrenca? Exemplos na região não faltam, como se sabe.

Desinteresse e descrédito

Também é preciso diferenciar desinteresse de descrédito dos eleitores. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Desinteresse é o somatório de vagabundagem acumulada da classe política que se manifesta a cada disputa eleitoral na forma de votos em brancos e nulos, além de abstenção.

Descrédito é algo mais recente, decorrente das águas da Operação Lava Jato, principalmente. Descrédito é formado por uma nova leva de eleitores que até outro dia eram cidadãos que entendiam ser dever cívico irem às urnas eletrônicas.

Resta saber qual será o volume desse grupo nas próximas eleições. E quantos se tornarão desinteressados de vez nas eleições seguintes. Sim, porque eleitores descréditos estão a apenas um passo de eleitores desinteressados.

Praticamente um terço do eleitorado da região – número semelhante ao da média nacional – deixou de votar nas últimas eleições, votou em branco ou anulou o voto. Quantos serão agora? Quem vai perder mais? Os petistas estão apavorados porque os níveis de rejeição a Lula da Silva e Dilma Rousseff são muito superiores aos de políticos de outras agremiações. Sofrem por antecipação com o efeito-contaminação.

A virtude histórica de o PT ser uma agremiação com agregado de valores que o tornavam claramente diferente dos demais, quase que integralmente sacos de gatos, tornou-se um bólido destrutivo, porque homogeiniza, junto ao eleitorado, o sentimento de frustração e desencanto. Aquela parcela de um terço do eleitorado que ficava ao sabor das circunstâncias político-eleitorais para decidir em quem votar na reta de chegada bandeou-se para o terço que nutria horror ao petismo.



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