Política

Quantos votos vão virar sucata
nas próximas eleições na região?

DANIEL LIMA - 14/06/2016

Façam suas apostas, senhoras e senhores: quantos por cento dos eleitores habilitados a participar das disputas de primeiro turno de outubro próximo na Província do Grande ABC vão votar em branco, vão anular o voto ou simplesmente deixarão de comparecer aos locais determinados?

Quem acha que exagerou ao responder 30% está completamente engando. Ou melhor: poderá estar completamente enganado.

Em 2012, quando os estragos do Petrolão e da Lava Jato não constavam da agenda de nenhum cidadão brasileiro, nada menos que 29,71% dos eleitores da região acumularam o que chamo de sucata de votos. Pretendia definir com outro adjetivo aquele desempenho, mas não ousei repetir o verbete que utilizei à época: desperdício. Como chamar de desperdício o aumento sobressalente de eleitores desiludidos?

O desencanto com a política partidária nacional é imenso. Quem negá-lo e adotar postura cínica de que o voto é um dever de todo cidadão corre o risco de ser execrado. Guardadores de veículos, garçons, motoristas de taxi, atendentes e tudo o mais que lida com gente em que se confia, dada a proximidade cotidiana, fazem prognósticos alucinantes. Dizem que haverá uma hecatombe. A democracia, sob o ângulo eleitoral, que lubrifica a legalidade da representatividade, será duramente atingida.

Pouco mais de um terço

Convém lembrar que os quase 30% de votos sucateados na região nas disputas de 2012 poderiam ser mais se não houvesse segundo turno em três municípios. A tendência de dispersão do eleitorado é maior quando há mais concorrentes em busca do Paço Municipal, ou seja, no primeiro turno.

Mesmo assim, em Santo André, onde se disputou o segundo turno, o prefeito Carlos Grana obteve apenas 36,95% dos votos totais, contra 31,47% do então titular do Paço, Aidan Ravin, e nada menos que 31,47% de votos em branco, nulos e abstenção. Somente Saulo Benevides superou Carlos Grana em matéria de votação muito aquém do contingente habilitado: em primeiro turno, ele ficou com 28,17% dos votos em Ribeirão Pires.

A massa de votos que se perderão nos escaninhos da legislação eleitoral é apenas uma face do significado desse quesito entre tantos que compõem o cardápio de sensibilização do eleitorado – como mostrei aqui ainda nesta semana.

Há uma pergunta mais que oportuna: quem vai se beneficiar do mais que provável desencaixe entre estoque de votos disponíveis e sucata de votos que as urnas eletrônicas produzirão?

Por conta do frio que congela meus dedos no escritório domiciliar nesta manhã em que talvez até abra mão de meus 50 minutos de bicicleta ergométrica não devo esticar essa análise. Mais erro que acerto as palavras. O frio tirou minha mobilidade manual. Meus dedos não obedecem ao raciocínio no ritmo costumeiro. Morar num descampado tem a desvantagem do inverno rigoroso que congela os ossos e a vantagem da brisa nos dias de muito calor.

O peso da TV

Certeza mesmo é que, dadas as características midiáticas da região, na penumbra tecnológica da televisão aberta, quem provavelmente mais sofrerão serão os candidatos de primeira viagem.

Massificar seus nomes é tarefa complexa em situação normal. Imagine sob a desconfiança e o desconhecimento generalizados. Ou seja: os candidatos que gozam de memória eleitoral, por já terem participado de outras campanhas, vitoriosas ou não, têm potencialmente mais condições de se aproximar do eleitorado disposto a enfrentar a desmoralização da classe política – conforme registram diferentes pesquisas.

Tanto é factível esse raciocínio que dá vantagem aos mais conhecidos que, ainda outro dia, li no Diário do Grande ABC a informação de que a enxurrada de concorrentes à Prefeitura de Santo André – ao que parece uma dezena deles – não passa de jogo de cena que tem como objetivo cavar uma vaga de candidato a vice-prefeito numa das chapas com combustível para chegar lá.

Mesmo o desgaste dos principais concorrentes às prefeituras da região não os desloca ao acostamento da viabilidade eleitoral – salvo a candidatura do petista Tarcísio Secoli em São Bernardo, aonde a projeção máxima de capitalização eleitoral não chegaria a 20% dos votos válidos.

Memória eleitoral não é quinquilharia que se descarta ao sabor dos bons e dos maus resultados do passado. A especificidade de viver na sombra tecnológica, sem meios de comunicação de massa, é um obstáculo e tanto para quem está começando a jornada eleitoral. É preciso comer muita grama, andar muito pelos bairros e contar com estrutura partidária forte, entre outros vetores, para reduzir a desvantagem ante competidores mais populares.

Paro por aqui porque estou virando sorvete.



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