Política

PT corre o risco de não contar
com um prefeito sequer em 2017

DANIEL LIMA - 15/06/2016

A batalha está praticamente perdida em São Bernardo. Em Diadema, mais perdida do que ganha. Em São Caetano, nem mais com Paulo Pinheiro como cavalo de Troia. Em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, praticamente sem possibilidades. Sobram Santo André e Mauá, principalmente porque a oposição não é lá essas coisas -- embora também não seja coisa nenhuma. Esse é um retrato apressado, confesso, das perspectivas do PT nas eleições de outubro próximo.

Pela primeira vez desde que Gilson Menezes, em 1982, ganhou a Prefeitura de Diadema, o PT pode não contar com um representante sequer no Poder Executivo da região. Seria uma catástrofe para a imagem já tão debilitada da agremiação. E um golpe fatal nas pretensões do prefeito Luiz Marinho disputar o governo do Estado, projeto que, a bem da realidade, já deve ter sido desativado.

Em outubro de 2012 o PT garantiu três prefeituras na região (São Bernardo, Mauá e Santo André), surfando ainda nos resultados do governo federal de Lula da Silva, que combateu o que chamou de marolinha com o incremento de crédito farto e barato, o qual, como se sabe, está na origem dos descalabros que nos custa a maior crise econômica da história.

Não bastasse a crise nacional, as torneiras de financiamento eleitoral daquela temporada podem custar caro a muitos petistas, conforme o andar da carruagem dos filhotes da Operação Lava Jato. Ou o leitor acredita que o PT das campanhas eleitorais de 2012 construiu uma barreira ética para impedir que a dinheirama do Petrolão chegasse à região? Os sinais exteriores de aquecimento das turbinas das candidaturas avermelhadas impressionavam.

Diferença estreitíssima

Também entrou na contabilidade petista de 2012 a vitória de Paulo Pinheiro em São Caetano, antecipada exclusivamente por este jornalista. Os demais veículos de comunicação se calaram ante o suporte financeiro do PT de um Luiz Marinho então de olho na estruturação de uma base política e eleitoral que o levaria ao Palácio dos Bandeirantes. Faltou combinar com os russos da Lava Jato. Paulo Pinheiro virou prefeito e custou a se livrar mesmo que parcialmente do jugo petista, com ampla distribuição de cargos comissionados.

A votação geral do PT em 2012 foi levemente superior à dos azulados e assemelhados. Os votos válidos aos candidatos petistas às prefeituras naquelas eleições representaram 51,29% do eleitorado, contra 48,71% dos adversários. O berço do petismo dava provas de vigor.

Dois anos depois, já com o desgaste do governo Dilma Rousseff, o PT rebaixou o capital de votos na região e perdeu pela primeira vez, desde a vitória de Lula da Silva em 2002, o mando do jogo local, ou seja, a supremacia como agremiação mais popular. Na disputa com Aécio Neves, o PT de Dilma Rousseff ficou com 41,68% dos votos na região, contra 58,32% do ex-governador de Minas Gerais.

Conceito sólido

Não venham me dizer que não há cabimento técnico-sociológico e o escambau ao comparar os votos petistas para as prefeituras da região em 2012 e os votos petistas para Dilma Rousseff dois anos depois. É muito estreita a margem de erro de juntar as duas partes. O PT conta com eleitorado ideológico, engajado, uniforme, aqui nesta Província, muito mais que no restante do Brasil. A história regional de disputas sindicais, de trabalhadores versus patrões, destilada pelos petistas, dá lastro à assertiva. Portanto, não existe disparate analítico nessa avaliação.

É claro que há petismo e antipetismo mais arraigado e menos arraigado nos sete territórios que formam a Província do Grande ABC – o que torna parte dos votos mais maleável, mas não suficientemente aniquilador do conceito exposto. A morfologia socioeconômica de cada Município determina essa variável. Quanto maior a participação relativa de classes médias num determinado município, mais o sentimento antipetista se manifesta.

São Caetano é o caso mais proeminente, porque é o Município mais equilibrado na distribuição de classes sociais. Mas parcelas das populações dos demais municípios da região assemelhadas ao conjunto de São Caetano também manifestam rigores em relação ao PT. Da mesma forma que os municípios em que prevalecem a classe média baixa, os pobres e os miseráveis são mais doutrinados ao petismo.

Basta pegar qualquer mapa eleitoral dos municípios locais para constatar essa verdade. Carlos Grana, por exemplo, ganhou as eleições de Aidan Ravin em 2012 na medida em que se abriam as urnas da periferia. Marinho estourou nas beiradas de São Bernardo. Diadema periférica também votou mais no candidato petista.

Perdendo a periferia

É a esse ponto – no encaixe do voto popular favorável ao petismo – que pretendia chegar. As pesquisas preliminares de vários candidatos da região apontam que o exército de eleitores das áreas mais pobres da região já não tem o PT como preferência extraordinariamente majoritária. E a classe média baixa, beneficiada com as políticas econômicas de Lula da Silva, execra os tempos de Dilma Rousseff. O engajamento eleitoral de conveniência favorável ao PT está fragilizado. Desemprego, inflação, escândalos e tudo o mais formam uma composição explosiva ao petismo.

Se depender do comportamento do eleitorado nas eleições presidenciais de 2014 o prefeito de Santo André, Carlos Grana, estará perdido. Historicamente o PT sempre contou com número elevado de votos, mas naquela disputa com Aécio Neves a derrota foi fragorosa: 63,34% a 36,66% nos votos válidos. Considerando-se que depois daquele outubro vieram meses tenebrosos para o PT, com o escândalo do Petrolão, a situação do petismo em Santo André é de fim de feira. Carlos Grana vai precisar utilizar muito o poder de persuasão, de carisma, para reverter o quadro.

Dos sete municípios da região apenas Diadema sinalizou, em outubro de 2014, que poderia dar um impulso maior ao candidato petista nas disputas desta temporada. Dilma Rousseff ficou com 53,85% dos votos válidos. Também em Rio Grande da Serra a candidata petista bateu o tucano Aécio Neves, por diferença mínima: 50,61% a 49,38%.

Em Mauá, onde Donisete Braga tenta a reeleição, o resultado de 2014 também foi bastante preocupante: 56,22% a 43,78% para Aécio Neves. Um resultado semelhante ao de São Bernardo, onde Aécio venceu Dilma Rousseff por 55,90% a 44,11%%.



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