Política

Ex-prefeito e prefeito levam
vantagem ao tentarem vitória

DANIEL LIMA - 13/07/2016

Prefeitos pela primeira vez que tentaram repetir a dose uma ou mais vezes registram 22 vitórias e 21 derrotas desde 1982 na Província do Grande ABC. Esse é considerado o marco do período de redemocratização partidária no País. Disputaram-se seguidamente eleições em turno único. Até que a partir de 2000 instaurou-se o direito à reeleição.  O percentual de vitórias é expressivo, sobremodo quando se descontam as quatro tentativas desastrosas de José Augusto da Silva Ramos, em Diadema. O jogo é também favorável aos prefeitos que ocuparam mais de uma vez os respectivos paços municipais quando se despreza o número de tentativas e se contabilizam apenas os nomes dos concorrentes. São 15 a 12 no placar.

Retiro os dados e parcela interpretativa de uma reportagem do Diário do Grande ABC de segunda-feira. Faço várias correções estatísticas, além da compulsória reinterpretação. Na reportagem do Diário do Grande ABC não consta a reeleição de Celso Daniel em Santo André em 2000, de Maurício Soares também em 2000 em São Bernardo, de Maria Inês Soares em Ribeirão Pires igualmente em 2000, tampouco a reeleição de José Auricchio em 2008 em São Caetano, muito menos a reeleição de Oswaldo Dias em Mauá em 2004, a reeleição de Kiko Teixeira em Rio Grande da Serra em 2008, a reeleição de José de Filippi Júnior em Diadema em 2004 e a reeleição de Clóvis Volpi em Ribeirão Pires em 2008.

Tampão não conta

Também meto o bedelho e corto a eleição de Diniz Lopes e subsequentes tentativas de retornar ao Paço Municipal, porque ele não foi eleito anteriormente, em 2004 -- como equivocadamente registra o Diário -- para justificar as duas derrotas seguintes, em 2008 e 2012. Diniz Lopes não pode entrar na estatística de prefeitos que perderam eleições seguintes sem conseguirem uma vitória sequer porque virou titular-tampão em Mauá por medida judicial e não durou um ano no cargo, substituído por Leonel Damo, vencedor da disputa fora de campo após ficar em segundo lugar nas urnas, atrás do petista Márcio Chaves, cuja vitória foi anulada por conta de processo eleitoral.  Leonel Damo entra na lista de prefeito que voltou a ganhar uma disputa desde 1982 porque o total de votos que obteve como segundo colocado era maior que a soma dos demais candidatos confirmados pela Justiça Eleitoral.

O placar do Diário do Grande ABC de domingo, portanto, precisa de reparos. Os 23 a 13 favoráveis aos prefeitos que perderam uma ou mais vezes em tentativas seguintes não se sustenta, portanto. São 21 derrotas contra 22 vitórias. Ou seja: na lista de prefeitos que se deram bem depois de virarem prefeitos e de prefeitos que se deram mal ao tentarem voltar a ser prefeitos contabilizam-se 12 nomes do lado dos perdedores e 15 do lado dos vencedores.

Como derrotados constam Lincoln Grillo e Newton Brandão (Santo André), Geraldo Faria Rodrigues e Tito Costa (São Bernardo), Ricardo Putz, Gilson Menezes e José Augusto da Silva Ramos (Diadema), Amaury Fioravante e Leonel Damo (Mauá), Valdírio Prisco e Maria Inês Soares (Ribeirão Pires) e José Teixeira (Rio da Serra).

Já na lista de vitoriosos pelo menos por mais uma vez constam Celso Daniel e Newton Brandão (Santo André), Maurício Soares (São Bernardo), Luiz Tortorello, José Auricchio Júnior e Walter Braido (São Caetano), Gilson Menezes e José de Filippi Júnior (Diadema), Leonel Damo e Oswaldo Dias (Mauá), Luiz Carlos Greco, Maria Inês Soares e Valdírio Prisco (Ribeirão Pires); Cido Franco e Kiko Teixeira (Rio Grande da Serra).

Peso considerável

O resumo da ópera é que ter passado por um paço municipal na condição de eleito significa considerável peso à atração dos eleitores. Somente quem se deu muito mal, mas muito mal mesmo no comando de uma Prefeitura, quebrou a cara na tentativa seguinte, ou nas tentativas seguintes, de voltar a ocupar o Executivo. Um caso é notório: do raivoso José Augusto da Silva Ramos em Diadema.

Também pode ser catalogado como prefeito que não deu certo apesar de ter sido prefeito (a construção da frase é essa mesma, embora pareça estranha) o jurista Tito Costa. Ele ganhou a Prefeitura de São Bernardo nas eleições de 1982, quando o PMDB deitou e rolou em nível nacional, mas foi derrotado em duas tentativas seguintes, em 1988 e 1996. Ganhar foi uma surpresa para quem conhece as aptidões de Tito Costa. Embora considerado brilhante na área em que se especializou, como administrador público era a estrada da perdição em matéria de descentralização involuntária. Há quem dê a esse tipo de característica gerencial adjetivos pouco lisonjeiros.

Em Ribeirão Pires, Valdírio Prisco não poderia entrar no time de derrotados sequenciais de prefeitos de um único mandato exatamente porque venceu a disputa em duas temporadas (1982 e 1992), embora em outras três (2000, 2004 e 2008) tenha sucumbido aos adversários. Newton Brandão também ganhou outras duas vezes depois de ter virado prefeito em Santo André (1982 e 1992), mas perdeu em outras duas disputas (2004 e 2008). Escalar o então petebista no time dos perdedores seria uma heresia, após acumular três mandatos alternados.

Memória eleitoral

O que chamo de memória eleitoral não é uma fórmula conceitual simples que se esgota no enunciado de que basta passar pela Prefeitura uma vez para reunir potencial de retorno outras vezes. Isso ajuda, é claro, mas não é um salvo-conduto à eterna sacramentação da vitória.

Aidan Ravin ganhou surpreendentemente as eleições em Santo André em 2008 e foi derrotado na disputa seguinte por um principiante, Carlos Grana, na rodada seguinte. Pesaram tanto o ambiente municipal, de uma administração pouco efetiva e uma atmosfera macroeconômica favorável ao petista. Carlos Grana e Aidan Ravin agora vão se enfrentar numa espécie de mano-a-mano estatístico. Quem vai engrossar a lista de vencedores? Quem estará entre os derrotados históricos? Um dos dois, ou ambos, se uma terceira força ainda não saliente nas pesquisas eleitorais decidir atropelá-los, bafejada quem sabe por um ambiente de desencanto com o que está aí e o que já esteve aí. O risco é optar por quem nunca esteve aí (como prefeito) mas não tem muito a oferecer com garantia de que será diferente do que já se testou.

Memória eleitoral, portanto, tem peso sobretudo numa área geográfica de penumbra tecnológica, sem veículos de comunicação de massa,  caso desta Província. Entretanto, repito, não se trata de pó de pirlimpimpim. Todos que passaram pelos paços municipais da região desde 1982 tiveram a experiência da primeira vitória. Só não se tem contabilizado o quanto perderam disputas anteriores até chegarem lá.

Os prefeitos de primeira viagem superaram em várias situações prefeitos de mandato ou mandatos anteriores. Por exemplo: quando se tornou o primeiro petista eleito a uma Prefeitura em 1982, Gilson Menezes derrotou Ricardo Putz, que já havia comandado o Paço Municipal. Outras situações semelhantes poderiam ser apontadas.

Mais vitoriosos

Como se verifica pelo total de prefeitos que se deram bem e se deram mal em tentativas seguintes – e nesse ponto discordo da reportagem do Diário do Grande ABC, que considerou o resultado final do embate um fracasso para quem viveu as duas situações – há pela média histórica condições  mais favoráveis ao sucesso. São, repito, 15 nomes listados entre os vencedores e 12 entre os perdedores. Alguns dos quais, aliás, como Newton Brandão, Gilson Menezes, Leonel Damo e Valdírio Prisco, que estão tanto numa relação quanto na outra. Ou seja: concorreram em uma (ou mais ocasiões) e voltaram vitoriosamente aos respectivos Paços Municipais e também concorrerem em uma (ou mais ocasiões) e acabaram fracassando na tentativa de retorno.



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