Política

Por que Tarcísio Secoli vai tão
mal se Luiz Marinho vai bem?

DANIEL LIMA - 15/07/2016

Segundo dados da pesquisa do Ibope Inteligência, a administração do petista Luiz Marinho em São Bernardo se situa como razoável a caminho de bom, com 29% dos entrevistados apontando como boa/ótima, contra 31% que a consideram negativa e 39% que a colocam no patamar de regular. Os números de Luiz Marinho são melhores do que os do governador Geraldo Alckmin e acentuadamente mais positivos do que do prefeito paulistano Fernando Haddad. Nada mais natural, porque são produtos diferentes vendidos em localidades diferentes.

A pergunta que salta à vista ao se intensificar a atenção aos resultados do Ibope Inteligência é simples: se Luiz Marinho não é visto como fracasso, muito longe disso, por que seu candidato à sucessão, Tarcísio Secoli, não registrou mais que 8% das intenções de voto no cenário mais provável da disputa, liderado numericamente pelo deputado federal Alex Manente com 33% e tendo em segundo lugar, em condição de empate técnico, o deputado estadual tucano Orlando Morando, com 30%? O que se passa com o PT em São Bernardo?

Primeiro, é preciso  levar em conta que o nível de reconhecimento da identidade de Tarcísio Secoli está muito abaixo do que registram os concorrentes que disputam a ponta da tabela, deputados há várias legislaturas. Tarcísio Secoli não ultrapassou os limites do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e a condição de discretíssimo supersecretário de Luiz Marinho, posto hierárquico abaixo apenas da mega secretária Nilza de Oliveira, mulher do prefeito. Tarcísio Secoli poderia ter disputado a Assembleia Legislativa no ano passado como espécie de pré-campanha eleitoral à direção do Município, mas as negociações partidárias o deslocaram exclusivamente à disputa maior.

Deu-se preferência a Luiz Fernando Teixeira, do comitê de sustentação estadual de Luiz Marinho. A Operação Lava Jato não estava no meio do caminho como anestésico potentíssimo ao financiamento eleitoral.

Segundo, ao que tudo indica os eleitores ouvidos pelo Ibope Inteligência separaram uma coisa da outra, ou seja, a gestão do prefeito das condicionalidades eleitorais do candidato que decidiu apoiar. Como tornar o afável Tarcísio Secoli, maciçamente candidato com o apoio do prefeito petista sem que o agregado não eleve o potencial de rejeição por conta das lambanças no partido em nível nacional?

Rejeição muito maior

Tarciso Secoli afirma que tem baixa rejeição e isso o faria acreditar numa reviravolta no placar. Mas uma consulta aos números do Ibope Inteligência é devastadora ao argumento do petista: enquanto conta com ativo de apenas 8% dos votos no cenário mais provável, o passivo de rejeição registra 24%. Ou seja, três vezes mais. Numericamente o índice de rejeição ao petista está abaixo de Alex Manente e Orlando Morando, com 28% cada, os quais, por outro lado, reúnem capital de voto maior que essa marca.  Como se observa, não há céu de brigadeiro a embalar o sonho de Tarcísio Secoli. O ambiente é de pré-tempestade.

Desta forma, portanto, há contradição latente na avaliação da gestão de Luiz Marinho e os votos inicialmente destinados a Tarcísio Secoli.  Nada menos que 29% de bom/ótimo é uma marca interessante de Luiz Marinho como repasse com potencial imenso em favor do candidato petista. Como há uma parcela dos eleitores que considera a gestão de Marinho regular (nada menos que 39%), também existiria aí denso potencial capilarizador de votos. Os petistas acreditam que Tarcísio Secoli ainda vai decolar. Duvido.

Os números avaliativos da gestão Luiz Marinho são um conjunto de materialidades e subjetividades típicas de oito anos de mandatos, metade dos quais, pelo menos, com farta aplicação de recursos do governo federal e projeções revolucionárias no campo social e econômico. Luiz Marinho não virou vice-campeão no Observatório de Promessas e Lorotas de graça. Foi uma obra sedimentada numa perspectiva de investimentos que não se concretizaram no volume, na velocidade e também na intensidade desejada.

O prefeito Luiz Marinho fez obras em escala muito inferior às prometidas, deixou muita gente no meio do caminho da esperança de que poderia relembrar, mesmo com outra característica pública, o histórico de Celso Daniel, mas a percepção sobre os fracassos ainda é sufocada pela fantasia dos prometidos investimentos. O desenrolar da campanha eleitoral, que costuma derrubar reputações dos prefeitos de plantão, poderá reenquadrar o desempenho de Luiz Marinho, sob o senso crítico dos eleitores, a níveis menos satisfatórios.

Memória travessa

Há gente especializadíssima em redes sociais que não faz outra coisa senão industrializar torpedos desclassificatórios ou esclarecedores. É inevitável que seja massificada a constatação de que se construiu durante pelo menos quatro anos uma fantástica história de um prefeito bafejado pela sorte de um governo federal que deitava e rolava no orçamento público aquecidíssimo, principalmente com as monumentais receitas de exportação de commodities. A biruta virou principalmente nos anos Dilma Rousseff e tudo foi por água abaixo. Entretanto, ficou o falseamento de uma memória travessa.

Há descompasso temporal entre o que foi prometido e o que efetivamente se realizou, do qual muitos ainda não se deram conta. Até que ponto vai derreter parte do legado prometido pela Administração Luiz Marinho nos próximos meses de carnificina eleitoral é uma pergunta que poucos têm coragem de responder de imediato.

De qualquer forma, a gestão de Luiz Marinho é observada pelos eleitores que passaram pelo Ibope Inteligência como bem próxima do que chamaria de positiva. Não necessariamente por causa da avaliação da administração em si, mas pela forma pessoal com que o petista dirigiu o Município. Nada menos que 41% declararam aprová-la e 52% desaprovaram. Outros 7% preferiram não responder.

Em São Paulo, cujo nível de pressão é muito maior porque, entre outros vetores, há mídia de massa, a gestão petista de Fernando Haddad é aprovada por apenas 14% dos eleitores. Nada menos que 48% dos entrevistados disseram considerar ruim ou péssima a administração do prefeito. Já para 35% dos moradores o desempenho de Haddad é regular.

A avaliação da administração estadual foi menos favorável, segundo os eleitores: 38% consideram a gestão Alckmin regular, 38% a colocaram como ruim/péssima e 22% a instalaram positiva (ótimo/bom). Não há informação sobre a avaliação pessoal do governador.



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