Política

Temer e Lula podem ajudar
o PT a sair do fundo do poço

DANIEL LIMA - 26/07/2016

A flexibilidade politica associada à falta de carisma do presidente interino Michel Temer e a resiliência carismática do ex-presidente Lula da Silva podem contribuir para tirar o PT do fundo do poço eleitoral nas próximas eleições municipais na região. Não seria tão enfático em afirmar que o PT será um fracasso em outubro na região. Também não arriscaria dizer que a possibilidade de deixar as profundezas em que se meteu seria suficiente para segurar as cidadelas que ocupa e também conquistar outras. Segue um enorme ponto de interrogação a envolver o PT na Província do Grande ABC, berço de romântica construção e estuário de lambanças federais e regionais.

Leio no jornal Valor Econômico de hoje uma reportagem sobre nova pesquisa que toma o pulso da política nacional. Produzida pelo Instituto Ipsos, o inventário revela série de informações que devem servir de alívio aos petistas e de preocupação aos aliados de Michel Temer.

A informação aparentemente mais relevante é que 52% dos eleitores optaram por novas eleições neste ano para a presidência da República, num cenário em que foram alinhavadas quatro alternativas.

Entre aqueles que querem “que o presidente interino Michel Temer convoque novas eleições para outubro deste ano” e aqueles “que querem que a presidente afastada Dilma Rousseff volte para a Presidência e convoque novas eleições para outubro deste ano”, perfilam 52% dos entrevistados. Apenas 16% querem que Michel Temer fique no cargo até o final do mandato em 2018, enquanto 20% preferem que Dilma Rousseff volte para a Presidência e cumpra o mandato até 2018”.

Recuo pró-impeachment

Constatou também a pesquisa do Instituto Ipso que há arrefecimento dos eleitores ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O que é positivo para os petistas é inquietante ao PMDB de Michel Temer e aliados. Diz o jornal Valor Econômico: 

 Uma pergunta específica sobre isso é feita desde março de 2015, mês que coincide com o primeiro grande protesto de rua contra a petista. Naquele mês, 48% defendiam o afastamento. Nas oito pesquisas seguintes, a taxa sempre foi superior a 50%. No auge, em março deste ano, o apoio ao impeachment alcançou 61%. Agora, na quarta pesquisa seguida com queda dessa taxa, voltou aos iniciais 48%. O percentual de contrários ao afastamento passou de 24% para 34% no período. – escreveu o Valor Econômico.

No item que trata especificamente da gestão de Michel Temer, tem-se o outro lado da moeda podre do ambiente político-partidário no País, com potencial de reflexos abrangentes, por mais que supostamente impactasse o PT com maior peso. Vejam o que está no Valor Econômico: 

 Conforme a pesquisa, a administração Michel Temer tem sete vezes mais reprovação do que aprovação. Para 48%, ele faz uma gestão ruim ou péssima, uma taxa cinco pontos superior à observada em junho. Os que avaliam a administração como ótima ou boa somam 7%. Outros 29% a classificam como regular. Já a figura do próprio Temer tem 68% de desaprovação, ante 19% de aprovação. Um grupo de 13% informou que não o conhece o suficiente para opinar. Dilma, que alcançou 90% de desaprovação em setembro de 2015, foi desaprovada por 71% no último levantamento. Os que a aprovam agora são 25% -- escreveu o jornal paulistano.

Temer perde para Dilma

Chamam a atenção os níveis de rejeição e de aprovação de Michel Temer e Dilma Rousseff. Ambos estão no mesmo balaio de gatos de desprestígio popular. Em matéria de desaprovação – quem diria? – há empate técnico, porque a pesquisa conta com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. Temer é desaprovado por 68% dos eleitores ouvidos pelo Instituto Ipsos, enquanto Dilma chega a 71%. Há vantagem de Dilma em termos de aprovação: são 25% contra 19% de Temer. Ou seja, fora da margem de erro. 

Onde aparece Lula da Silva nessa história como ponto de possível alavancagem de votos petistas? Na informação que circula desde o final de semana que dá conta de que o ex-presidente vai priorizar a Região Metropolitana de São Paulo, sobretudo a Capital e a Província do Grande ABC, para sensibilizar o eleitorado que, apesar de muita derrama, ainda prestigia o PT em proporção relativamente forte.

Aliás, tanto prestigia que o Instituto Ipsos detectou que o melhor desempenho de Dilma Rousseff está no Nordeste, onde, segundo o Valor Econômico, o grupo de defensores de seu retorno à Presidência é o mais alto. “Na segunda região mais populosa do País, 39% querem que a petista volte e cumpra o mandato até 2018. É a mesma taxa dos que preferem novas eleições. Entre os nordestinos, apenas 12% endossam o fica Temer” – escreveu o jornal.

Lula na periferia regional

Tanto na Capital quanto na Província do Grande ABC o que pode dar algum alento às candidaturas petistas hoje no bico do corvo – casos de São Bernardo e de Diadema – ou que precisam de empurrões específicos para saírem vitoriosas das urnas – casos de Santo André e de Mauá – a participação de Lula da Silva será por demais importante. Quem desdenhar os nordestes que prevalecem na periferia da região certamente assinará atestado de burrice.

O PT já encontrou o fio da meada com o qual pretende estabelecer eventual resistência eleitoral que o levaria a possíveis segundos turnos na Capital e em municípios da região: mais que estancou a sangria de votos nas áreas mais populares, que contam com a maioria dos eleitores, potencializar a recuperação desse eleitorado; além, é claro, de contar com a divisão de votos mais escolarizados e economicamente mais fortes entre os vários candidatos nos redutos mais conservadores.

Entre as peças do tabuleiro de orquestração dessa estratégia, Lula da Silva não só é fundamental como decisivo. Os níveis de rejeição ao petista são instigantes. Ele ganha o primeiro turno em todas as pesquisas eleitorais de uma provável disputa presidencial em 2018, mas perde igualmente todas no segundo turno. Entretanto, fossem considerados apenas os votos das periferias do Brasil, Lula da Silva venceria tanto no primeiro quanto no segundo turnos.

O resumo preliminar dessa ópera – em matéria de pesquisa eleitoral o melhor, na maioria dos casos, é evitar sentenças definitivas – é que os dois maiores cabos eleitorais da temporada são as fraquezas politicas de um presidente interino que não tem o menor charme, rivalizando-se portanto com a insossa presidente afastada, e um ex-presidente que dispensa comentários pelo capital político amealhado em oito anos de dois mandatos e parcialmente destruído pela sucessora que escolheu a dedo.

Até que eventualmente a Lava Jato entre de sola nessa disputa, porque a prisão do ex-presidente não está descartada, o melhor mesmo é acompanhar com máxima atenção o que se passa na política, já que a economia não vai melhorar o suficiente para interferir nas disputas.

E mesmo sobre a Lava Jato, ainda não se tem prognóstico sobre eventuais efeitos que a possível prisão de Lula da Silva poderia deflagrar.

Seria o ex-presidente transformado em mártir por uma parte do eleitorado e, com isso, aumentaria o poder de sensibilização?

Seria o PT contemplado com refluxo de rejeição porque parcela suplementar do eleitorado ainda reticente perceberia que o ambiente politico, embora degradado sistemicamente por causa de exacerbações da agremiação, não sustentaria qualquer divisão que colocasse quadrilheiros de um lado e santos de outros?

Ou a prisão de Lula da Silva não só paralisaria a reação proporcionada principalmente pela administração Michel Temer – esperadíssima por sinal – como também acionaria as fornalhas dos votos petistas nas periferias?



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