Política

Aidan-Picarelli: um casamento
que vale-tudo eleitoral explica

DANIEL LIMA - 05/08/2016

A pergunta que mais ouvi ontem correu em ritmo atordoante para alguns e previsível para outros após a divulgação da notícia nas redes sociais e nos sites de publicações da região. Que noticia? O ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, Fábio Picarelli entregou-se aos encantos eleitorais do candidato Aidan Ravin (PSB) à Prefeitura.

Essa união que no passado poderia ser chamada de Operação Gordo e Magro perdeu o mote publicitário ou maledicente porque o ex-prefeito fez uma bem sucedida cirurgia bariátrica e o ex-presidente da OAB já contou com silhueta mais atlética. Eles ficaram tão menos dissonantes fisicamente que não faltam especulações a cultivar teoria sobre a influência do mútuo reenquadramento corporal relacionado à conexão de interesses políticos.

Esses estudiosos de araque deveriam ser liminarmente excluídos de qualquer rodinha eleitoral porque esculacham com qualquer diálogo mais profundo.

Agora, falando sério mesmo, porque o trecho anterior foi uma divagação, querem que querem saber deste jornalista o que acho da associação eleitoral de Picarelli e Aidan. Poderia definir tudo numa única frase, mas quero fazer desse assunto, nesse momento, um caso de marketing de degustação.

Esperem para ler

Vou deslocar todas as respostas para a avenida de análises na semana que vem. Provavelmente segunda ou terça-feira. Quero, com isso, criar um ambiente de suspense. Sei que sei que nenhum veículo de comunicação da região vai se meter a digerir a informação com grau de responsabilidade social inerente à mídia, invariavelmente desprezado quando figuras da política e da economia aparecem no noticiário.

Costumo dizer que sou escravo dos fatos. Se os fatos pretéritos desaconselhariam os fatos atuais porque não existiria coerência ética a unificá-los no encadeamento saudável de maturidade social, não existe outra saída senão apontar as inconformidades.

O ex-prefeito Aidan Ravin e o ex-presidente da OAB Fábio Picarelli têm todo o direito de juntarem os pertences que imaginam dispor para supostamente multiplicarem o poder de fogo eleitoral. Democracia é isso, ou seja, comporta decisões individuais e coletivas acordadas segundo pressupostos constitucionais. 

Também é democraticamente inalienável o direito à análise crítica, da qual não abro mão. Quando o interesse público se faz presente, o direito à privacidade pode sofrer consequências para o bem e para o mal. Há quem não entenda assim porque quer usufruir da mídia sem o contraponto da crítica potencial. Muitos protagonistas do mundo regional acreditam que podem encabrestar a todos os jornalistas. Detestam aqueles que lhes opõem interpretações que fujam do figurino.

Jogando limpo

Aprendi a fazer jornalismo com essas prerrogativas legais, as quais nem sempre o Judiciário leva em contra. Por isso, corro todos os riscos possíveis de ser pego no contrapé de subjetividades ardilosamente preparadas. Mas não tenho receio de meus escritos. Tanto que há mais de quatro mil artigos com minha assinatura nesta revista digital inteiramente à disposição de varredura dos leitores, dos adversários juramentados e dos inimigos entocaiados.

Discorrer sobre o acasalamento político do ex-prefeito Aidan Ravin e o ex-presidente da OAB de Santo André é um dever moral de qualquer jornalista. A avaliação, se duramente crítica ou exaustivamente doce, determinará o grau de credibilidade do autor.

Ainda outro dia alguém comentou comigo ter lido em algum lugar que mantenho relações de amizade com Raimundo Salles, também candidato à Prefeitura de Santo André. Dizem que não nos largamos por nada desse mundo. Que um não viveria sem o outro. Não sei o que significaria "um não viveria sem o outro", porque não somos nem irmãos comuns, de sangue, quanto mais xifópagos literal ou metaforicamente.

Estão tão desinformados os fazedores de marolas políticas que mal sabem haver entre este jornalista e Raimundo Salles um vácuo de relacionamento pessoal ou tecnológico há mais de dois anos. Um tempo longo demais, é verdade, porque Raimundo Salles é desses políticos que sugere a possibilidade de qualquer encontro ser bastante interessante. Ele é inteligente, bem informado, vive política noite e dia e sempre se converte em diálogos inteligentes.

Mas Raimundo Salles, ex-secretário de Comunicação de São Bernardo e ex-secretário de Cultura de Santo André durante alguns meses da gestão do petista Carlos Grana, desapareceu de meus radares. Acho que a melhor resposta para o sumiço é que não atendi a uma sugestão que me fez na última vez em que nos encontramos. Ele me convidou para um almoço na Churrascaria Rosas, quando me solicitou a retirada do arquivo desta revista digital de um artigo no qual eu lembrava que ele fizera duras críticas ao PT.

Acervo perene

Não lhe prometi nada. Pedi tempo. Fui cavalheiro. Não pretendia estragar o almoço. Jamais levei seu pedido a sério porque tenho fundamentada a decisão de que artigo escrito é artigo publicado e artigo publicado é artigo para sempre. Jamais tive a coragem de quebrar esse compromisso comigo mesmo. Jamais fui tentado a suprimir de CapitalSocial (e isso seria tão fácil, tão fácil) qualquer pensamento, crítica, opinião, seja lá o que for que tenha editado.

Dei a volta ao mundo das relações com Raimundo Salles para chegar aonde pretendia ao encaminhamento eleitoral entre Aidan Ravin e Fábio Picarelli. O mínimo que poderia adiantar aos leitores é que aquele texto que resgatou as críticas de Raimundo Salles ao petismo é café pequeno perto do que, consultando meu valioso arquivo físico, tenho como cardápio para traçar um diagnóstico sobre a decisão anunciada ontem.

Não pretendo me estender nesta degustação porque vou acabar antecipando pontos que precisam e vão mesmo ficar para a semana que vem. O que posso adiantar como conclusão preliminar, ou mesmo definitiva, é que não existe a menor possibilidade de o encontro dessas águas surpreender a sociedade desorganizada de Santo André. A política partidária é algo tão expressivamente descomunal na industrialização de aberrações (quem diria que Lula da Silva e Paulo Maluf iriam se aproximar tanto, quem diria?) que o surpreendente seria mesmo se, convidado por Aidan Ravin, Fábio Picarelli descartasse todas as supostas vantagens e desvantagens e não se decidisse conforme se decidiu.

Favorito do momento

Por uma série de razões que prefiro não desfilar neste artigo, porque merece uma edição específica, nesta altura do campeonato, independentemente da parceria com Fábio Picarelli que lhe vai agregar menos votos do que imagina, tenho cá comigo que Aidan Ravin é o favorito ao segundo turno em Santo André.

Ou seja: um lugar na etapa decisiva já lhe estaria reservado. Pode ser que em alguns dias o cenário político de Santo André seja outro (o que duvido, porque o potencial de mudanças drásticas não bate com a penumbra midiática), mas se a disputa fosse neste final de semana, o ex-prefeito, a quem chamei de “zebra de branco” ao final das eleições de 2008, quando venceu surpreendentemente o petista Vanderlei Siraque, seria o mais votado para chegar ao turno final. Mas isso é outra história.

Ficamos combinados: semana que vem destrincho a operação Aidan-Picarelli. O ex-presidente da OAB jamais responderia a uma nova edição de “Entrevista Indesejada”.  Como não respondeu anteriormente.



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