Entrevista Especial

Só força-tarefa
salva Grande ABC

DANIEL LIMA E MALU MARCOCCIA - 05/02/2004

O Grande ABC precisa formar um grupo de especialistas, uma verdadeira força-tarefa que faça diagnóstico sério das vocações, dos problemas e potencialidades da região, para buscar soluções efetivas. Parece -- e é mesmo -- promessa de campanha, mas feita por quem entende do riscado: Paulo Skaf, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e na disputa pelo comando da poderosa Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), põe ênfase na necessidade do que chama de estudo emergencial sobre as razões da evasão industrial do Grande ABC e da perda de competitividade.

O candidato ao sistema Fiesp-Ciesp propõe inclusive não esperar as eleições, que ocorrem em 25 de agosto, e sugere que todos os agentes locais se empenhem naquilo que define como política de resultados. Ele recorre às experiências que levaram o setor têxtil ao posto de sétimo maior produtor mundial após a derrocada com a abertura comercial e às negociações do grupo fiscal da Fiesp que resultaram na aprovação do Refis, e o qual coordenou, como exemplos de trabalho que deve ser feito na região com começo, meio e fim.

“Precisamos fazer um estudo forte no Grande ABC e pelas mãos de pessoas que aqui moram, trabalham e empreendem. Precisamos ter representação do ABC nas diretoras da Fiesp e do Ciesp, porque quem vai defender o ABC não serei só eu, serão as pessoas daqui” -- discursa. Sem se assumir como candidato de oposição, embora o nome apoiado pelo presidente Horácio Lafer Piva seja o de Claudio Vaz, o presidente da Abit e também do Sinditêxtil já falou que quer um sistema Fiesp-Ciesp eminentemente político, que faça pressão pela urgente volta do crescimento do País.

Qual a razão de sua candidatura à presidência do sistema Fiesp-Ciesp?

Paulo Skaf -- Tenho grande satisfação de estar envolvido nesse projeto, principalmente porque nunca pedi. Foi iniciativa de companheiros de diversos setores industriais, que me conhecem há vários anos e reconhecem o trabalho pró-ativo intenso que realizei na cadeia do vestuário, da moda brasileira. Um trabalho que só nos últimos cinco anos gerou mais de 100 mil empregos no País, inverteu uma balança comercial que causava US$ 1,2 bilhão de déficit para um saldo positivo no ano passado de US$ 600 milhões num setor que tinha imagem de obsoleto cinco ou seis anos atrás, um setor que parecia não ter mais chances e hoje dá exemplos de modernidade e competitividade. Aumentamos as exportações no ano passado para US$ 1,6 bilhão, quase 300% mais sobre 2002.

Ao que o senhor atribui essa recuperação setorial?

Paulo Skaf -- Em parceria da Abit com a Apex, temos um programa agressivo de promoção comercial. No calendário de 2004 são 90 eventos no Brasil, no Exterior, em rodadas de negócios, desfiles e feiras, tudo isso objetivando a valorização do produto brasileiro, da imagem do Brasil. Não acredito ser possível vender a imagem de um produto, de uma empresa ou de um setor sem primeiro vender a imagem do país. Primeiro é preciso abrir as portas do mundo para o Brasil. Achamos que só porque o Brasil ocupa 50% da América do Sul todo mundo nos conhece. Não é bem assim. Muitos povos acham que aqui se fala o espanhol, que a Capital é Buenos Aires e alguns mais bem-informados acham que a Capital ainda é o Rio de Janeiro. Este país continente, maravilhoso, com 8,5 mil quilômetros de litoral tropical, onde se fala uma só língua, de povo talentoso, de mulheres bonitas, empresários criativos, trabalhadores eficientes, grandes centros urbanos, isso tudo temos de mostrar ao mundo. Priorizamos esse trabalho, por isso a Abit promoveu a moda brasileira enfatizando sobretudo a imagem do Brasil. E hoje o Brasil ficou na moda, com eventos que geram mídia na Europa e Estados Unidos. Temos estilistas nossos desfilando em Milão, Paris e Nova York e empresas de todos os portes exportando.

Também fizemos um programa pró-ativo na questão fiscal. Conseguimos em 2003 reduzir o ICMS em toda a cadeia têxtil e de confecção de 18% para 12% no Estado de São Paulo de forma inédita, porque não foi projeto de lei e sim decreto. Conciliamos as limitações e necessidades do Estado com os interesses do setor produtivo. Em 2002 havíamos conseguido derrubar as cotas que os europeus impunham, o que também contribuiu para as exportações fluírem. Também conseguimos flexibilizar as cotas norte-americanas e fazer programas ambientais, sociais e culturais dentro do setor.

Talvez devido a essas realizações, a trabalhos buscando resultados concretos, porque todos estão cheios do faz-de-conta-que-faz, muitos setores entendem que tenho perfil adequado para a sucessão na Fiesp.

O senhor é candidato de oposição. Isso significa realmente oposição ou é apenas formalidade em função de o presidente atual ter seu candidato, mas não ter uma relação tumultuosa com o senhor?

Paulo Skaf -- O presidente Horácio Lafer Piva é meu amigo. Fui um dos coordenadores de sua campanha em 1998, quando houve disputa. Se ele teve 10 companheiros na tropa de choque que lhe garantiram sucesso, com humildade posso dizer que fiz parte dessa tropa. Fui vice-presidente na primeira gestão dele e sou vice neste segundo mandato.

Não houve ruptura?

Paulo Skaf -- Não vejo ruptura.

Qual a diferença entre o candidato Paulo Skaf e, digamos, o candidato oficial Claudio Vaz?

Paulo Skaf -- Acho que oposição e situação cabem mais para política partidária, disputa entre partidos. No nosso caso, nosso partido é a indústria, nosso partido é o Brasil. O que temos são opções de candidaturas. A grande preocupação das empresas que vão decidir a sucessão é analisar o perfil dos candidatos e escolher quem acham melhor.

Que diferença o senhor estabeleceria entre seu perfil e o de Claudio Vaz? As informações dão conta de que um é mais estrategista e faz trabalho mais pró-ativo com os associados, como é seu caso, e o outro trabalha mais intra-muros, de organização interna de uma instituição.

Paulo Skaf -- Acho que você definiu bem. É o que também ouço de companheiros. Eles me vêem como realizador, como alguém com trânsito político forte nos níveis municipal, estadual e federal e junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Por não estar vinculado a partido político, isso me proporciona neutralidade e relacionamento forte com todos, e acho que isso é pré-requisito.

Entidades como Fiesp-Ciesp têm de ser eminentemente políticas para atingirem seu fim. Para discutirmos meios -- e aí falamos em administração, na rotina, na técnica -- para isso contratamos administradores e técnicos. Agora, lideranças de entidades normalmente são naturais, são espontâneas, vêm da base. Costumo dizer que sou um candidato da base. Não pedi, repito. Foi a base, foram líderes, foram presidentes de sindicatos que provocaram e formataram a candidatura e me honraram com o convite. Acho que vem daí a diferença, embora não haja ninguém melhor que ninguém. É questão de perfil.

O que significa uma Fiesp-Ciesp eminentemente política?

Paulo Skaf -- A indústria está num ciclo que já não é tão novo. Não é deste ano, não é do ano passado. É um ciclo que castiga quem produz, a micro e mesmo a grande empresa, que produzem, que geram empregos e impostos, que exportam, que desenvolvem as regiões e capacitam mão-de-obra. No entanto, o dia-a-dia do empresário é um inferno. Defender um caminho mais livre de obstáculos, fazer com que o produtor se concentre na sua empresa e não se preocupe tanto com problemas de ordem fiscal, tributária, trabalhista, ambiental, juros elevados, falta de crédito e tantas outras dificuldades, enfim, defender isso não é só defender o microempresário ou a grande indústria. Defender isso é principalmente defender os interesses do Brasil. O Brasil precisa do seu produtor, das empresas funcionando. Ao longo dos últimos 10, 15 anos muitos venderam seus negócios e ficaram na especulação, no bem-bom. Estão mais saudáveis, mais tranquilos, mais jovens e ricos. E aquele que tocou o negócio, gerou emprego e impostos, que exportou e fez tudo o que o Brasil precisa, está encrencado com problemas financeiros ou fiscais. O Brasil não aguenta mais isso. O Brasil precisa da produção, do estímulo ao trabalho. E isso significa uma ruptura, mudança de um ciclo para outro. Significa sair de um ciclo monetarista, do vale-tudo pela derrubada da inflação, e acordar para o fato de que estamos precisando entrar num ciclo verdadeiro de valorização do produtor brasileiro.

Tenho dois grandes estímulos na cruzada pela Fiesp. O primeiro é que minha candidatura vem da base, portanto tem legitimidade, não foi imposta. O segundo é porque vejo a possibilidade de realizar um grande projeto por São Paulo, pelas regiões do Estado, pelo País, pelas indústrias, porque os interesses são os mesmos. Tenho paixão por isso. Mudei minha vida empresarial. Durante 25 anos trabalhei 15 horas por dia em chão de fábrica, comprando, vendendo, viajando, fazendo de tudo um pouco em uma empresa média. Hoje participo do conselho de administração da Paramount, onde empregamos cerca de duas mil pessoas e onde faço reuniões a cada 15 dias e outras reuniões empresariais com sócios. Tenho uma família grande, com cinco filhos entre 19 e 24 anos, em 2005 faço bodas de prata de casado e com isso tudo consegui abrir a agenda para me realizar. Tenho 48 anos, me emancipei aos 18 para participar e montar uma empresa. Portanto, sou empresário há 30 anos no Brasil e gostaria de agora ter uma participação mais macro à frente da Fiesp-Ciesp.

O que diferencia a competitividade regional são exatamente a diferença no tratamento tributário e as relações institucionais dos municípios e das regiões, porque os problemas macros são gerais, atingem a todos. Um grande problema no Grande ABC, ao longo dos anos, é nunca ter tido no âmbito do Ciesp uma representação ativa, estratégica, inteligente, especializada em questões que dêem competitividade à região. Com isso, a indústria do Grande ABC foi ficando sem competição e, pior, perdeu essa competição exatamente para outras regiões cujas filosofias de tratamento tributário vocacional fizeram a diferença na hora do custo. Se eleito, o senhor terá um grupo de trabalho pautado na competitividade do Grande ABC?

Paulo Skaf -- O Grande ABC é uma região importantíssima, embora já tenha sido mais importante industrialmente. Imagino que de forma urgente se devam encontrar as vocações, os setores que aqui estão bem instalados e os que se afinam com a região. Estes têm que, sem dúvida, fazer um estudo emergencial das razões da migração de empresas. É importante desenvolver outras regiões, mas com novas empresas, novos investimentos e ampliações. Tirar de um lugar e pôr no outro significa só tapar buracos e abrir outros. O que precisamos é do crescimento do País, do crescimento do Estado de São Paulo e, com isso, do desenvolvimento das empresas e de novos investimentos. Isso faz com que todas as regiões capitalizem o que já têm e desenvolvam mais, e não fiquem perdendo.

Um trabalho regional precisa ser feito urgentemente, sem a menor dúvida, e entendo que os empresários têm de se envolver, não pode haver omissão. O que gostaria de fazer inicialmente à frente das entidades é chamar para uma grande união do empresariado. Temos de trazer as empresas da região para o Ciesp, ter participação e discutir nossas necessidades com começo, meio e fim. Isso significa não sermos apenas comentaristas -- e pior ainda, comentaristas de fatos ocorridos. Temos de marcar gol todos os dias, porque marcar gol é buscar resultados.

Como unir as empresas em meio ao tiroteio da guerra de incentivos fiscais entre prefeituras e Estados?

Paulo Skaf -- A união vem ou pelo amor ou pela dor, e dor não falta no meio empresarial. Com boa liderança, o empresariado se une em busca de soluções e resultados. Por isso meu projeto visa aos resultados e o futuro exige quebrar um ciclo e começar um novo, seja nas regiões, seja nos Estados, seja no País. Não adianta resolver as questões do ABC sem resolver as questões nacionais. As empresas vão fechar do mesmo jeito. Da mesma forma que não adianta ter as questões nacionais resolvidas e as regionais não, porque as empresas todas vão sair daqui.

Como o senhor se prepara para as eleições?

Paulo Skaf -- As eleições são distintas. Na Fiesp quem elege a diretoria são os 126 delegados titulares dos sindicatos e é a Fiesp que comanda o Sesi-Senai em São Paulo. Para os 41 Ciesps votam as empresas diretamente. É óbvio que para os Ciesps estamos ouvindo as empresas, para formar um grande plano de gestão. Para a Fiesp, eleita por um colégio pequeno mas legítimo -- já que são delegados de sindicatos eleitos diretamente pelos associados --, fica mais fácil a visibilidade de uma candidatura que esteja se destacando com apoio. Como minha candidatura veio da base e tem o reconhecimento de trabalhos já realizados, sinto apoio enorme no colégio eleitoral. Tenho plena confiança de possuir mais de 80 votos entre os 126. Ou seja, mais de 70% de apoio firme. Não quero cantar vitória antes do tempo. Eleição e mineração só depois da apuração, mas há uma visibilidade de que minha candidatura é muito forte, para a Fiesp e para os Ciesps. A primeira grande missão é uma grande união e um grande envolvimento sem omissão. Não concordo com aquele empresário que, tendo uma entidade disposta a realizar, pró-ativa, se antecipando aos fatos e mostrando resultados concretos, diga que não tem tempo de participar.

A Fiesp-Ciesp tem um orçamento de mais de R$ 900 milhões, maior do que o orçamento de 80% das cidades do Estado. O senhor precisa de 64 votos (metade mais um) para ser eleito à Fiesp e o Grande ABC contribui com um único voto. O senhor não acha pouco a região ter apenas um voto e não seria errado o presidente da Fiesp precisar de tão poucos votos?

Paulo Skaf -- O ABC na verdade tem dois delegados, o Sindicato da Panificação e o Sindicato dos Moveleiros. Agora, 126 é um número bastante elevado e há até discussões se isso não deveria ser mais compactado, porque há sindicatos representando outros setores. Não são 126 pessoas apenas, e sim 126 representantes legitimados por uma base mais ampla. É a mesma coisa que um deputado eleito por 100 mil votos: ele é um só em Brasília, mas legitimado por 100 mil eleitores. Eu, por exemplo, sou presidente do Sindicato da Indústria Têxtil e delegado junto à Fiesp eleito por meus associados. Portanto, não se trata de gente nomeada, mas de um delegado eleito por uma base que representa, ou seja, eleitos por 126 colégios eleitorais que possuem dezenas de setores.

Quanto ao orçamento de R$ 900 milhões, não é do sistema Fiesp-Ciesp. Trata-se do orçamento da Fiesp agregando o conjunto Sesi-Senai. O orçamento do Ciesp é de R$ 20 milhões e é distinto, porque são entidades distintas.

Isso parece sintomático. Apenas R$ 20 milhões não seriam uma das explicações para que as representações dos Ciesps sejam tão rarefeitas, isto é, o poder do pequeno e médio industrial, sobretudo nas regiões paulistas, seja tão frágil em relação ao poder da Fiesp?

Paulo Skaf -- Acho possível separar as coisas, porque a Fiesp e os sindicatos representam as regiões. Ora, se as empresas de diversas atividades que estão instaladas no ABC são filiadas a seus respectivos sindicatos que, por sua vez, possuem representação na Fiesp, então não há separação entre as entidades.

Eu diria que há uma representação horizontal e outra vertical. Os sindicatos que compõem a Fiesp são como uma representação vertical setorial e as regionais dos Ciesps são como uma representação horizontal: são diversos setores que discutem os problemas das diversas regiões. O ideal, é óbvio, é a união de tudo isso. Você não pode, por exemplo, discutir a importação de algodão no Ciesp São Bernardo, assim como não é adequado discutir o aumento do IPTU das empresas de São Bernardo no sindicato do algodão. As duas coisas são complementares. A representação sindical é legítima e legal, está na Constituição, assim como a representação da Fiesp é legítima e legal, como o Sesi e Senai e seus orçamentos.

E o Ciesp? 

Paulo Skaf -- O Ciesp é uma sociedade civil de empresas, que vive da arrecadação de mensalidades dessas empresas. Isso não significa que o Ciesp representa as empresas e a Fiesp, não. A Fiesp representa as empresas através dos sindicatos setoriais cujas empresas fazem parte. O Ciesp deve -- ou deveria -- dar atenção total aos problemas regionais de forma horizontal, independente de setores, enquanto a Fiesp, composta de sindicatos setoriais, deve cuidar das questões verticais. Agora, o Ciesp poderia ser muito fortalecido. Quantas empresas há no Estado de São Paulo? Mais de 150 mil. Quantos filiados o Ciesp tem? A atual gestão iniciou com 7,5 mil filiados e deve estar encerrando com oito mil. Mas se tirar inadimplentes, ou seja, se apurar quantos estão aptos a votar, devemos ter uns cinco mil.

Não há algo errado no baixo número de filiados frente ao universo de 150 mil indústrias paulistas? Não é um demonstrativo da fragilidade da instituição?

Paulo Skaf -- O primeiro passo no Ciesp é descobrir por que tem cinco mil e não 50 mil ou 100 mil filiados adimplentes. É lógico que com esse universo se teria outro nível de arrecadação e outro poder, já que nem tudo é dinheiro. Existem trabalhos, criatividade e realizações que não se fazem com dinheiro. As pessoas não se incomodam em pagar. Incomodam-se em pagar mensalidades quando não sentem retorno.

Há algum estudo na Fiesp sobre as razões da inadimplência, já que a mensalidade é pequena? Não seria essa ausência de retorno que o senhor citou?

Paulo Skaf -- Sou vice-presidente eleito da Fiesp, não do Ciesp. Embora Fiesp e Ciesp tenham comando único, não vivo o Centro das Indústrias em seus pontos específicos. Mas não tenho dúvida de que, se há falta de interesse em maior número de filiados e há aqueles que deixam de pagar, é porque as empresas sentem que não há retorno. Se juntarmos 10 empresas para que listem seus problemas, a maioria vai coincidir e, pior, são problemas antigos. Ou seja, pouca coisa muda, falta resultado. Como não há soluções concretas e os problemas são sempre os mesmos, aí cai no descrédito e no desinteresse.

Como o senhor pretende inverter isso?

Paulo Skaf -- Com uma política de resultados. Melhor do que os discursos, há os fatos. Não sei trabalhar na base do faz-de-conta-que-faz, não sei trabalhar sendo comentarista de fatos ocorridos. Precisamos nos antecipar aos fatos.

Que mensagem o senhor daria ao pequeno e médio industrial do Grande ABC, extremamente sacrificados na reestruturação imposta pela globalização, como mostra a perda de 39% do nosso PIB industrial na era FHC? O senhor se comprometeria a montar uma força-tarefa para trabalhar questões locais de forma mais incisiva para que haja resposta sobretudo do poder público regional em relação ao Custo ABC?

Paulo Skaf -- Gostaria muito de realizar isso. Se não for assim, não há motivo para estar envolvido na disputa da Fiesp-Ciesp. Ninguém entra nisso para ganhar dinheiro, porque o presidente do sistema não é remunerado, mas para ter a satisfação de estar ajudando o País, a sociedade, um projeto muito maior que o interesse pessoal. Se não conseguirmos realizar as questões regionais, será uma grande frustração. Depois da cruzada eleitoral, teremos uma cruzada maior, que é a gestão do sistema Fiesp-Ciesp. O sucesso ou o fracasso não se define nas eleições, mas na gestão.

Precisamos fazer um estudo forte no Grande ABC, fazer um diagnóstico coerente e pelas mãos de pessoas que aqui moram, trabalham e empreendem. Precisamos ter representação do ABC nas diretorias da Fiesp e do Ciesp, porque quem vai defender o ABC não serei só eu, serão as pessoas daqui. Para isso, essas pessoas têm de ter espaço e poder. E como se obtém isso? Participar dos sindicatos e dos Ciesps é o primeiro passo, mas além disso temos de ter lideranças do ABC na diretoria central do sistema, diretoria que vou prestigiar, diretoria que vai tomar comigo as grandes decisões. Quem vai lutar pelo ABC é o próprio ABC, suas lideranças. Vamos dar maior espaço, maior prestígio, e vamos fazer com que nossas entidades tenham força, tenham trânsito, sejam eminentemente políticas.

O senhor não acha um absurdo estratégico uma região como a nossa, com quatro representações do Ciesp, não ter um diagnóstico do perfil do IPTU em cada base de associados? O Ciesp não teria obrigação de ter um especialista para discutir esse custo com o poder público?

Paulo Skaf -- Não se trata nem de ter um especialista, mas de ter resolvido essa questão há muito tempo. Se, como você diz, não existe nenhuma discussão técnica sobre o assunto, comparações, se nem iniciamos isso, deve ter alguma coisa errada. São coisas que não vão beneficiar o empresário, mas toda a região, porque o capital não tem fronteira. O capital sai do ABC e vai para outras regiões e Estados mais baratos. O capital sai inclusive do Brasil para países mais competitivos. Quando se discute o IPTU, quando se discutem as limitações regionais e os entraves à produção, não se está defendendo o empresário, mas a região, os novos investimentos, os novos empregos. E mais do que discussão, temos de começar a falar em resolução, porque de discussões estamos todos cansados.

Fui convidado em meio a 41 empresários a integrar o conselhão do governo federal, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência, assim como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Comércio Exterior do Estado de São Paulo, presidido pelo próprio governador. Quero dizer com isso que não estou ligado a partidos, mas a todos os homens de bem que trabalham pelo País. Não se pode ser presidente da Fiesp-Ciesp e estar desvinculado de autoridades, do Legislativo ou do Executivo. Temos de estar a serviço de um projeto pelo País. E a pressão legítima é aquela em que você vai com o problema e com a solução. Uma solução que a autoridade possa dar dentro de parâmetro ético e legal. Quando você cobra um especialista para discutir o IPTU no ABC, entendo que deveríamos estar estudando uma saída para todos. Esse é o caminho do IPTU local e para os problemas do Brasil no geral.

Na sua campanha pelo Estado, o senhor ouviu falar sobre alguma região que perdeu 39% de PIB industrial nos últimos oito anos como ocorreu com o Grande ABC? Não acha que uma região com essa perda de Valor Adicionado merece atenção emergencial?

Paulo Skaf -- Primeiro quero dizer que, quanto mais ando pelo Estado e pelo Brasil, mais me orgulho de ser paulista, de ser brasileiro, porque estamos num País fantástico, num Estado fantástico. O Interior de São Paulo me emociona, porque você vê desenvolvimento, regiões que cresceram, que estão formando riquezas. Claro que dificuldades para a indústria há em todos os lados, mas não tenha dúvida de que as regiões têm de encontrar suas vocações. Não me surpreendo com as perdas. Como disse, passamos por um ciclo de castigo ao produtor. Houve grandes sacrifícios e grandes perdas em muitos locais, como o ABC.

Isso não enfatiza a criação de uma força-tarefa, como citado anteriormente, para diagnóstico e ações no Grande ABC?

Paulo Skaf -- Sem dúvida e digo mais: não podemos esperar até as eleições, em 25 de agosto. Essas questões não podem esperar. Devemos ter lideranças que sentem e conversem já, seriamente, sobre o assunto, e que construam já um projeto, um diagnóstico e uma linha de ações concretas para dar andamento nos próximos meses. Tudo isso para o bem da região e do próprio Estado de São Paulo. Não se trata de guerrilha entre irmãos e entre vizinhos. Temos que enriquecer a todos.

O que o senhor achou da reforma tributária, melhor dizendo, do make up tributário aprovado?

Paulo Skaf -- Quando se fala de impostos no Brasil, quando se fala da falta de crédito e dos juros altíssimos no Brasil, isso não é de agora. Quando falamos da falta de cultura exportadora, da burocracia, da carga tributária, do abuso da fiscalização, dos abusos ambientais, enfim, dentro do pequeno inferno do dia-a-dia de quem empreende no Brasil, a reforma tributária é só um capítulo, que não mudou da maneira que deveria. Temos uma carga tributária oficial de 36% do PIB. Digo oficial porque, na verdade, acabamos pagando outras contas como segurança, previdência, educação, saúde, tudo à parte. Nossos vizinhos argentinos pagam metade disso, entre 18 e 19%. Rússia e México, também países emergentes, pagam abaixo disso.

O pior é que o Brasil não cresce e a despesa da máquina do Estado vai muito além da supercarga tributária. Arrecadamos 36% do PIB no ano passado e ainda houve déficit de 5% ou 6%. Isso quer dizer que o Estado gastou 42% do PIB, 10% dos quais na forma de juros para pagar a dívida. Não há reforma que dê jeito e isso significa que esse modelo não está dando certo. Cada um fica no seu lado, berrando separadamente. Está na hora de enxergar claramente: o Brasil precisa crescer e os gastos precisam diminuir. Com menos gastos é possível fazer o Brasil crescer, com crescimento há mais arrecadação e aí é possível baixar verdadeiramente a carga tributária. Não adianta ficar só berrando. Precisamos de uma voz forte para ser ouvida e, para sermos ouvidos, não podemos ser uma ilha: governo no governo, nós para cá, a sociedade para lá. Temos que ter um projeto de todos chamado projeto Brasil, em que não precisamos falar em defesa da indústria, mas em defesa do Brasil. Por-que o Brasil precisa da indústria, crescer, dar empregos, capacitar, exportar e tudo isso quem faz é o empresariado.

A cadeia têxtil, que hoje o senhor define como moderna e competitiva, quase desapareceu na década passada com a abertura comercial. A confecção asiática foi a pá de cal sobre o setor, que no Grande ABC deixou de existir há muitos anos. O senhor acha que a região não está mais vocacionada para a indústria têxtil, até por conta do custo ABC que o setor automobilístico, ao contrário, conseguiu indexar ao seu preço?

Paulo Skaf -- Já colocamos a necessidade de formar na região um grupo de especialistas para um grande diagnóstico, identificação de problemas e busca de soluções. Por que não? O ABC pode ter nichos têxteis que desconhecemos.

Se a força-tarefa para diagnosticar o ABC chegar à conclusão de que as quatro unidades do Ciesp representam uma contradição ao que se defende de integração regional, se essa força-tarefa chegar à conclusão de que o ideal é um único e eficiente Ciesp regional, qual seria sua deliberação?

Paulo Skaf -- Seria polêmico me antecipar a decisões ou conclusões sobre algo que nem se iniciou. Repito: ninguém melhor do que as pessoas da região, os empresários e agentes que aqui vivem para saber o que é melhor para o ABC. Respeito muito as bases, o Estado de São Paulo é muito grande, os setores têm particularidades e problemas próprios, daí respeitar quem conhece sua localidade. Vou estar muito aberto às verdades e não tenho medo de tomar decisões.

Como vice-presidente da Fiesp, que porção do bolo lhe coube?

Paulo Skaf -- Me foi dada uma missão três anos atrás para coordenar o Grafis -- Grupo de Ações Fiscais, com sete ou oito companheiros que trabalharam no projeto do Refis aprovado há três anos pelo Congresso. Desenvolvemos o princípio da capacidade contributiva das empresas para a questão dos passivos fiscais, ou seja, a empresa paga apenas um percentual do faturamento. Durante quase dois anos debatemos e ouvimos muita gente e mostramos que os altos e baixos do Brasil deixaram muitas empresas em dificuldades. Conseguimos envolver os formadores de opinião nesse conceito e trabalhamos a idéia, a formatação e discussão do projeto, até a aprovação da lei. Ou seja, houve começo, meio e fim de algo. Chamo isso de resultado. O Refis foi algo que a Fiesp fez com resultado.

O senhor acha possível repetir a iniciativa em outras frentes da indústria, com grupos estudando assuntos específicos e cobrados nos resultados?

Paulo Skaf -- Possibilidade total. Existe o problema, diagnostica-se e tem de encontrar uma solução, repito, não para o bem da empresa, mas do País. Essa é nossa filosofia e será adotada como base de trabalho na Fiesp. Meu slogan é Paulo Skaf: vai lá e faz.

Poderio reduzido, mas cobiçado

Não é de hoje que a campanha para a sucessão na Fiesp está nas ruas. Marcadas para 25 de agosto próximo, na verdade desde meados do ano passado três candidatos estão em plena campanha pelos corredores do imponente espigão da Avenida Paulista, cobiçado por 10 entre 10 empresários do Estado. Apesar da queda do poderio econômico de São Paulo, que nos anos 70 respondia por 56% do PIB brasileiro e inicia este terceiro milênio produzindo pouco mais de um terço da riqueza nacional, dá status comandar a Federação das Indústrias do Estado.

Fundada por Francisco Matarazzo e comandada pelas principais dinastias empresariais do País, seu presidente é figura obrigatória na mídia, nas ante-salas do poder político e em eventos internacionais, embora essa interlocução já tenha sido mais vigorosa nos anos de boom econômico. A exagerada abertura comercial dos anos 90 golpeou de morte centenas de barões da indústria protegidos das importações durante décadas. Ao mesmo tempo, a estabilidade monetária, o combate à inflação e os compromissos com credores externos blindaram Brasília contra pressões empresariais. Não à toa que os dois candidatos de oposição insistem em dizer que a Fiesp precisa resgatar a influência política, do alto de uma representação de cerca de 100 mil indústrias paulistas, embora apenas oito mil filiados.

Atribui-se a Paulo Skaf a precipitação do processo eleitoral, pois foi quem primeiro colocou o bloco na rua. Presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Paulo Skaf é vice-presidente da Fiesp como Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos) e outro candidato de oposição. Ambos ajudaram a reeleger Horácio Lafer Piva, mas se decepcionaram ao longo do tempo com o que chamam de estilo pouco contundente do atual presidente. Paulo Skaf é direto ao cobrar o que define como Fiesp de resultados, pregando uma entidade eminentemente política para defender interesses empresariais. Synésio Batista reacende antigas discussões sobre o centralismo do modelo presidencialista da entidade, que estaria fragilizando os 126 sindicatos que a compõem.

Não restou a Horácio Piva alternativa senão a de também lançar seu candidato, o amigo Claudio Vaz, da Fiamm Componentes de São Bernardo e diretor no Estado de outro colosso da indústria, o Sesi (Serviço Social da Indústria). Vaz obviamente defende Piva enfatizando o que considera duas marcas desta administração: a descentralização de poder e a reestruturação da Fiesp em busca do saneamento financeiro. Isso implicou em extinção de departamentos, demissão de quatro mil funcionários no conjunto Fiesp-Ciesp-Sesi-Senai e cortes de comodidades como estacionamento e almoços grátis na sede da Paulista. O orçamento invejável do sistema -- calculado em R$ 961 milhões neste ano -- estaria sendo direcionado para centros de treinamento, escolas e novos serviços de apoio, no que é definido como reposicionamento da instituição. No final de 2003 a Fiesp se debruçou sobre ação incomum, uma campanha institucional de R$ 1,5 milhão para divulgar os serviços e associar sobretudo a pequena empresa, já que a entidade sempre foi vinculada aos grandes conglomerados.

Farpas -- Desde 1980, com Luís Eulálio Vidigal, nenhum candidato de oposição conseguiu chegar ao posto máximo do sistema Fiesp-Ciesp. As eleições são distintas, mas as duas entidades mantiveram a tradição de comando único. De qualquer forma, sempre foi um pleito cobiçado. Os opositores Skaf, 48 anos, e Synésio, 47, insistem que Piva falhou na promessa de voltar a fazer da Fiesp um poder respeitado e mais pró-ativo, muitas vezes conhecendo as decisões econômicas pela imprensa. “Não podemos só ficar no papel de comentaristas de fatos ocorridos” -- diz o presidente da Abit, que herdou do pai a pequena tecelagem na qual iniciou carreira empresarial e cujo estilo agressivo com que se dedicou a recuperar e projetar internacionalmente a cadeia têxtil brasileira é seu grande garoto-propaganda.

“Quero implantar um novo modelo de gestão com governança corporativa, porque conduzir as inúmeras vertentes do complexo Fiesp-Ciesp não é tarefa para uma pessoa só. Vamos sair do mundo da fantasia e dos discursos politicamente corretos para tomar ações efetivas em favor dos micro e pequenos” -- dispara Synésio Batista, que tem experiência empresarial em pequenas participações na Estrela e CCE, pois seu forte é pilotar entidades como Abrinq, Abiótica, Abraflex (embalagens) e Corecon (economistas).

Claudio Vaz, 56 anos, já presidiu o Sindipeças e na Fiesp ocupava cargos de retaguarda diretiva. Recentemente ganhou mais visibilidade ao assumir o comando do Depecon (Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas), uma das jóias da coroa da entidade pela exposição frequente na mídia, já que é responsável pela estruturação e divulgação dos dois principais índices da indústria paulista, o de emprego e de nível de atividade. Vaz dirigiu a autopeças Univel, vendida para a francesa Valeo, instalada em Diadema. Agora é acionista da Raco, que faz peças de refrigeração em São Carlos, e da Fiamm de São Bernardo, de buzinas automotivas.



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