Homens públicos normalmente não gostam de reconhecer problemas da própria administração. Nas raras vezes em que são obrigados a fazer mea-culpas, tratam de abreviar o assunto tanto quanto possível seguindo a tradição política nacional de esconder o que não soma pontos. Esse parece não ser o caso do prefeito João Avamileno, ex-sindicalista que além de valorizar as conquistas surpreende ao falar do que não funciona bem.
Prova disso é o reconhecimento sem rodeios dos problemas na área de saúde e a constatação realista de que a prioridade é manter as principais indústrias depois do longo período de perdas que enfraqueceu a economia de Santo André, cuja proposta orçamentária atinge R$ 956 milhões este ano.
Passados pouco mais de dois anos desde que assumiu o mandato, como o senhor avalia sua administração?
João Avamileno -- É difícil se auto-avaliar, mas creio que a administração é boa porque eu já vinha acompanhando os passos do saudoso prefeito Celso Daniel. Procurei dar continuidade aos trabalhos que vínhamos realizando, com algumas inovações. O mais importante é que a população está satisfeita com a gestão, de acordo com levantamentos e pesquisas internas que realizamos.
A que tipo de inovações o senhor se refere?
João Avamileno -- Inovar não é apenas criar algo totalmente novo, mas melhorar o que já existe. Por exemplo: a transformação de antigos centros comunitários em Cesas (Centros Educacionais de Santo André). Quatro já foram inaugurados. Recentemente estive no Cesa do Parque Novo Oratório e fiquei surpreso com a movimentação. Pessoas frequentam a piscina, praticam atividades de lazer e esportes, caminham na trilha feita em torno do centro educacional. A diferença em relação ao que existia no passado é radical. Muros foram derrubados, instalações foram recuperadas, quadras de esportes foram pintadas e cobertas, playgrounds foram reformados, colocamos piscinas em funcionamento, adaptamos áreas floridas, trocamos a vegetação e plantamos algumas palmeiras. Embelezamos esses centros e uma coisa importante: adaptamos vários serviços da Prefeitura nesses locais para dar continuidade à educação e ao bem-estar fora da sala de aula. Além de educação infantil e fundamental, levamos programas para adolescentes, adultos e idosos como atividades culturais, ginástica e natação. O conceito é o mesmo dos CEUs da Marta (Suplicy, prefeita de São Paulo), mas em dimensão menor.
Que área o senhor considera mais complexa e espinhosa de lidar na administração?
João Avamileno -- Sem dúvida nenhuma uma área onde temos muita dificuldade, como todas as cidades maiores, é a saúde. A saúde é um dos maiores investimentos da Prefeitura. A legislação orçamentária obriga investir 15% da arrecadação, mas em Santo André colocamos mais de 20%. Se somarmos as verbas federais, o percentual atinge quase 30%. É um setor no qual se investe, se investe, melhora a qualidade mas, de repente, não é possível dar conta do recado. A demanda é sempre maior. Se Santo André conseguisse gastar todo o orçamento só na saúde, ainda estaria em débito com a população, infelizmente. Isso acontece devido à crescente exclusão social, ao desemprego que leva as pessoas a ficar mais doentes, além da violência nas regiões metropolitanas.
Fizemos grande investimento em um Pronto-Atendimento no Centro da cidade, estamos reformando o Pronto-Atendimento da Vila Luzita, pretendemos concluir o Hospital da Mulher até o fim do ano, investimos na modernização de várias UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e no treinamento dos três mil funcionários da área, mas os esforços não bastam.
E a área mais equacionada e fácil de lidar?
João Avamileno -- É a educação, para a qual temos verba mais compatível com nossas necessidades.
A habitação costuma ser outro problema generalizado nas grandes cidades?
João Avamileno -- É uma área complicada, mas em relação à qual me sinto feliz porque estamos conseguindo melhorar a qualidade de vida da população marginalizada por meio do programa Família Andreense, que unifica os programas municipais e federais de complementação de renda.
Em relação a verbas para habitação, temos projeto importante em discussão no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) referente à urbanização da favela do Jardim Cristiane. Estamos requisitando R$ 10 milhões para obras que incluem canalização do córrego Taióca e recuperação das vias de acesso àquela região. Queremos transformar de verdade aquela favela em um bairro incorporado à cidade.
A segurança é outra área crítica?
João Avamileno -- Embora segurança seja tema mais ligado ao governo do Estado, é uma área com a qual procuramos somar esforços. Em parceria com o governo federal estamos construindo o CIC (Centro Integrado de Cidadania), no qual funcionarão, no mesmo prédio, Polícia Militar, Polícia Civil e Conselho Tutelar, além de espaço para reuniões do Conselho de Segurança. O CIC está sendo construído na Rua Adriático, na região da Vila Luzita e do Jardim Santo André, que é altamente adensada e apresenta muitos problemas de violência. Vai custar mais de R$ 1 milhão entre verbas federais e municipais.
Quando Santo André começará a reagir no front do desenvolvimento econômico?
João Avamileno -- Temos nos dedicado ao trabalho de preservar as indústrias, com atenção especial às três mais tradicionais e muito caras ao poder público e à sociedade: Rhodia, Firestone e Pirelli, que se instalaram na primeira metade do século passado e, se depender de nós, ficarão aqui para sempre. Estamos fazendo e vamos continuar fazendo tudo o que estiver ao alcance para manter essas empresas. Recentemente visitei a Rhodia, estive com o presidente da Pirelli, com o qual sempre dialogo, e estou comprometido a ir a um evento na Bridgestone Firestone, que absorveu quase toda a área que pertencia à concessionária Vigorito para ampliar o parque industrial.
Sempre me coloco à disposição das indústrias para conversar e tentar resolver eventuais problemas para permanência ou ampliação das atividades na cidade.
O senhor acredita que o governo federal poderia dar um pouco mais de atenção à recuperação econômica do Grande ABC? Não está na hora de o Palácio do Planalto tornar realidade o trecho sul do Rodoanel, vital para a região?
João Avamileno -- Desde que moro em Santo André, há quase três décadas, não tenho visto nenhum governante federal dar tanta atenção ao Grande ABC quanto Lula. Ele está dando atenção superior a todos os demais governantes federais que passaram pelo Brasil. Nunca tantos ministros estiveram aqui. Está certo que nós queremos mais, e quem tem necessidades sempre quer mais. O ano passado foi rico em debates políticos. Agora eu me coloco com aqueles que querem contribuir com cobrança de mais ações.
Por outro lado, nós gestores públicos entendemos as dificuldades do governo Lula. O orçamento é limitado no governo federal assim como é limitado nas cidades. A questão do Rodoanel é realmente um problema. Também acho que a verba de liberação para este ano é pequena e estamos discutindo sobre isso dentro do Consórcio de Prefeitos.
Até que ponto a letargia da economia nacional e casos como do ex-assessor Waldomiro Diniz atingem o patrimônio ético do PT e atrapalharão as eleições municipais?
João Avamileno -- O fato de o caso Waldomiro Diniz vir à público reflete a democracia do País. Provavelmente casos como esse aconteciam muito no passado, mas não eram descobertos e não vinham à tona. Além disso, o governo federal tomou as providências cabíveis, os encaminhamentos necessários foram feitos. Sobre a interferência no pleito municipal, acredito que será praticamente nula porque a população vai avaliar mais a administração local. Em 2002 fizeram tantas acusações não-comprovadas contra nós e a população deu a resposta nas urnas.
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira